Zoneamento desafia o próximo prefeito de São Paulo
Enviado por luisnassif, qua, 25/04/2012 - 08:55
Da Folha de S.
Paulo
As sugestões abaixo visam contribuir para a reflexão e com o debate sobre os rumos que agora se abrem. Elas se baseiam nos trabalhos desenvolvidos pelo Instituto Urbem, que busca conceber, estruturar e viabilizar intervenções urbanas de grande escala em São Paulo.
p>Dois pontos são essenciais para a construção de uma cidade agradável e democrática: boas políticas públicas e bons projetos urbanos.No plano das políticas públicas, é urgente revisar o Plano Diretor e Código de Obras, para promover regras de zoneamento mais equilibradas.
Experiências em todo o mundo demonstram que as zonas com uma função única são mais vulneráveis à violência e à ocupação criminosa.
Vias que abrigam apenas escritórios se esvaziam em horários não comerciais, tornando-se propícias à realização de atividades ilícitas e alvo de depredadores e criminosos. Da mesma forma, bairros apenas residenciais são naturalmente mais ermos e, portanto, mais suscetíveis e expostos ao crime e à violência.
A revisão do Plano Diretor e do Código de Obras pode também acabar com distorções como a que prevalece na região central de São Paulo, onde encontramos, por exemplo, a ampla e majestosa avenida Rio Branco dotada de edificações menores e degradadas, que não condizem com a dimensão física e a infraestrutura viária do local.
Resultado: vê-se ali a degeneração do tecido urbano, com praças vazias e monumentos depredados.
Os equívocos que levaram à degradação do centro causaram o surgimento prematuro de novos núcleos, como as avenidas Paulista e Faria Lima. Corrigi-los passa pelo ajuste dos índices construtivos e das regras de zoneamento.
A política habitacional deve reverter o esvaziamento da região central com uma ampla verticalização, que gere mais espaços públicos e áreas verdes e enseje a construção de imóveis para todas as classes sociais -é imprescindível promover a miscigenação de classes sociais, dissolvendo as fronteiras entre bairros "de pobres" e bairros "de ricos", que resultam apenas no ressentimento e na polarização da sociedade.
No âmbito dos projetos urbanos, é recomendável o foco em propostas de grande porte.
São Paulo vive um dos processos mais vigorosos de desconcentração industrial em curso no planeta. Áreas urbanas previamente ocupadas por indústrias, galpões, armazéns ou entrepostos buscam novas vocações. Sem um marco regulador forte, essas áreas serão tomadas por agentes imobiliários preocupados unicamente com seus empreendimentos, sem nenhuma consideração com a geração de bens públicos.
Na concepção, estruturação e execução de novos projetos urbanos, a prefeitura deve manter uma interlocução que não esteja limitada às construtoras e empreiteiras, ouvindo, consultando e mobilizando tanto a sociedade civil quanto instituições e organizações privadas.
Não temos, em São Paulo, nenhuma intervenção urbana como Puerto Madero, em Buenos Aires, ou o More London.
Nossas Berrinis, Paulistas e Faria Limas, quando comparadas a intervenções realizadas em outras grandes cidades, são inferiores em qualidade urbanística e arquitetônica. Nossos projetos sempre foram tímidos em escala e sofisticação.
Não é difícil apontar alvos para o próximo mandato: a área industrial do Jaguaré, o Ceagesp, o projeto do Hidroanel (que pode revolucionar o sistema de drenagem da cidade), o entorno do Rodoanel, o Minhocão e suas vizinhanças. É preciso também ampliar e revitalizar espaços públicos. Praças, calçadas, passeios, museus e ciclovias tornam a cidade mais acolhedora.
Em 1870, éramos 30 mil habitantes. Em 140 anos, chegamos a 20 milhões na região metropolitana. Foi um curto e explosivo processo de urbanização que privou São Paulo das marcas de sua história.
Na ausência de grandes monumentos históricos, de uma natureza exuberante e sob o influxo do crescimento desordenado, São Paulo tem de planejar cuidadosamente o futuro -um futuro no qual as novas tecnologias sejam aplicadas para a solução dos problemas urbanos e em que os cidadãos sejam prioridade absoluta.
MARISA MOREIRA SALLES
SP precisa de grandes projetos urbanos como Puerto Madero. Sem
isso, áreas serão tomadas por agentes preocupados só com os seus
empreendimentos
Os quatro anos do mandato do futuro prefeito são um período decisivo para a
cidade.As sugestões abaixo visam contribuir para a reflexão e com o debate sobre os rumos que agora se abrem. Elas se baseiam nos trabalhos desenvolvidos pelo Instituto Urbem, que busca conceber, estruturar e viabilizar intervenções urbanas de grande escala em São Paulo.
p>Dois pontos são essenciais para a construção de uma cidade agradável e democrática: boas políticas públicas e bons projetos urbanos.No plano das políticas públicas, é urgente revisar o Plano Diretor e Código de Obras, para promover regras de zoneamento mais equilibradas.
Experiências em todo o mundo demonstram que as zonas com uma função única são mais vulneráveis à violência e à ocupação criminosa.
Vias que abrigam apenas escritórios se esvaziam em horários não comerciais, tornando-se propícias à realização de atividades ilícitas e alvo de depredadores e criminosos. Da mesma forma, bairros apenas residenciais são naturalmente mais ermos e, portanto, mais suscetíveis e expostos ao crime e à violência.
A revisão do Plano Diretor e do Código de Obras pode também acabar com distorções como a que prevalece na região central de São Paulo, onde encontramos, por exemplo, a ampla e majestosa avenida Rio Branco dotada de edificações menores e degradadas, que não condizem com a dimensão física e a infraestrutura viária do local.
Resultado: vê-se ali a degeneração do tecido urbano, com praças vazias e monumentos depredados.
Os equívocos que levaram à degradação do centro causaram o surgimento prematuro de novos núcleos, como as avenidas Paulista e Faria Lima. Corrigi-los passa pelo ajuste dos índices construtivos e das regras de zoneamento.
A política habitacional deve reverter o esvaziamento da região central com uma ampla verticalização, que gere mais espaços públicos e áreas verdes e enseje a construção de imóveis para todas as classes sociais -é imprescindível promover a miscigenação de classes sociais, dissolvendo as fronteiras entre bairros "de pobres" e bairros "de ricos", que resultam apenas no ressentimento e na polarização da sociedade.
No âmbito dos projetos urbanos, é recomendável o foco em propostas de grande porte.
São Paulo vive um dos processos mais vigorosos de desconcentração industrial em curso no planeta. Áreas urbanas previamente ocupadas por indústrias, galpões, armazéns ou entrepostos buscam novas vocações. Sem um marco regulador forte, essas áreas serão tomadas por agentes imobiliários preocupados unicamente com seus empreendimentos, sem nenhuma consideração com a geração de bens públicos.
Na concepção, estruturação e execução de novos projetos urbanos, a prefeitura deve manter uma interlocução que não esteja limitada às construtoras e empreiteiras, ouvindo, consultando e mobilizando tanto a sociedade civil quanto instituições e organizações privadas.
Não temos, em São Paulo, nenhuma intervenção urbana como Puerto Madero, em Buenos Aires, ou o More London.
Nossas Berrinis, Paulistas e Faria Limas, quando comparadas a intervenções realizadas em outras grandes cidades, são inferiores em qualidade urbanística e arquitetônica. Nossos projetos sempre foram tímidos em escala e sofisticação.
Não é difícil apontar alvos para o próximo mandato: a área industrial do Jaguaré, o Ceagesp, o projeto do Hidroanel (que pode revolucionar o sistema de drenagem da cidade), o entorno do Rodoanel, o Minhocão e suas vizinhanças. É preciso também ampliar e revitalizar espaços públicos. Praças, calçadas, passeios, museus e ciclovias tornam a cidade mais acolhedora.
Em 1870, éramos 30 mil habitantes. Em 140 anos, chegamos a 20 milhões na região metropolitana. Foi um curto e explosivo processo de urbanização que privou São Paulo das marcas de sua história.
Na ausência de grandes monumentos históricos, de uma natureza exuberante e sob o influxo do crescimento desordenado, São Paulo tem de planejar cuidadosamente o futuro -um futuro no qual as novas tecnologias sejam aplicadas para a solução dos problemas urbanos e em que os cidadãos sejam prioridade absoluta.
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