As planilhas do Banco Central

Coluna Econômica - 28/03/2012
Anos atrás, quando Ilan Goldfajn montou as primeiras planilhas de simulação de inflação, no âmbito do modelo das metas inflacionárias, batizei de "cabeça de planilha" os seguidores xiitas dos modelos econométricos. Hoje em dia já há uma razoável convicção de que os modelos são uma ferramenta a mais e não a pedra filosofal.
Dentro do Departamento Econômico do Banco Central não existe um modelo de cenário específico. São  40 doutores só no Departamento de Pesquisa e 100 mestres e doutores na Diretoria de Política Econômica utilizando um conjunto variado de modelos e ferramentas com diversas frentes e abordagens.
Em alguns casos, recorrem até a cálculos mais artesanais, como no caso da medição dos preços das chamadas utilities (telefone, energia elétrica) cuja dinâmica é estabelecidaem contratos. Olha-se, então, o contrato, estima-se o fator X da energia elétrica (que teoricamente embute os ganhos de produtividade), alguns fatores similares na telefonia.
No caso dos grandes agregados, o BC se vale de alguns modelos para projetar variáveis de curtíssimo prazo (meses),outros para médio e longo prazo.
Nas projeções de inflação, utilizam os mesmos modelos para o cálculo do nível de atividade.
Tenho questionado bastante os cálculos que estabelecem correlação entre taxa Selic e demanda. Conforme demonstrei algumas vezes, as variações da Selic tem baixíssimo impacto no mercado de crédito – tanto para pessoa física quanto para jurídica.
No BC informam que há diversos trabalhos (inclusive no site do banco) identificando repasses da Selic para o tomador final. Insisto que o repasse é irrelevante, a ponto de modificar decisões de consumo.
Argumentam que a Selic impacta também a poupança. Mais Selic, mais poupança, menos consumo; e vice-versa. Insisto que o impacto efetivo é irrelevante, na medida em que se tem largos espectros da poupança não atrelados à Selic.
No banco admite-se que o impacto maior da Selic é sobre a taxa de investimento. Um dos possíveis efeitos da Selic sobre a demanda seria, portanto, deletério, atrapalhando os investimentos que poderiam atender o aumento de consumo.
A parcela atrelada à Selic é de 27% e vem sendo reduzida. Mas sabe-se que a Selic influencia diretamente a curva de juros do mercado privado.
Cada vez mais o BC vem apelando para as chamadas medidas prudenciais (de contenção do crédito sem apelar para os juros). Mas acredita-se por lá que o nível de compulsório (o percentual dos depósitos que os bancos são obrigados a recolher ao BC) já é extremamente elevado.
O cálculo da chamada taxa de juros neutra (que teoricamente permitiria a estabilização da inflação com crescimento) é um enigma não revelado. O BC é absolutamente reticente sobre esse cálculo. Em setembro de 2010 levantou o argumento de que a taxa neutra tinha caído no Brasil. Como houve certo barulho em torno da questão, o que o BC fez foi uma pesquisa de opinião no mercado sobre a estimativa de taxa de juros neutra. Cada qual deu seu palpite e o BC devolveu o resultado.
Desde então, a taxa de juros neutra passou a constar em todas as atas do Copom e relatórios de inflação publicados.