O governo mais fechado da história recente

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Amanhã desenvolvo melhor o tema, na Coluna Econômica. Mas, desde que me conheço por jornalista econômico - isto é, desde o governo Geisel para cá - trata-se do governo mais fechado que conheci.
O estilo da presidente Dilma Rousseff, de não permitir bate-bocas públicos, acabou sendo entendido pela máquina em outra direção (que talvez seja o que a presidente pretenda): pouquíssimos técnicos conversam com a imprensa, alguns órgãos vitais praticamente se fecharam para qualquer informação que não a estritamente oficial.
A Secretaria de Aviação Civil não pode falar sobre o plano nacional de aviação enquanto não terminar os estudos sobre os dois últimos leilões de concessão; a do Tesouro não poderá falar sobre o perfil da dívida pública enquanto não apresentar a proposta para 2013. Nos demais ministérios, um medo pânico de abrir a boca para se pronunciar sobre qualquer tema relevante.
De um lado, ganha-se paz, abre-se pouco espaço para uma cobertura que gosta mais do fuxico do que das matérias de fundo. De outro, perde-se a diversidade, o contraditório, a crítica legítima, as boas sugestões que podem brotar da máquina, a disputa política legítima.
Com a decisão de ontem da presidente - de manter reuniões periódicas com a base - trabalha-se preventivamente para evitar futuras crises políticas. Foi um bom passo. Mas é apenas um afago, não uma abertura. Que não queira abrir a guarda para demandas partidárias, faz bem; mas o fechamento vai muito além do que criar anticorpos contra a fisiologia.
Falta ainda entender que é impossível manter um governo inteiro na redoma. O preço da paz é muito alto. Confere-se um poder absurdo às decisões de gabinete, torna o governo surdo a qualquer demanda que não seja estritamente técnica; a pretexto de se fechar para lobbies, mata-se a discussão política legítima. Mas apenas a discussão externa. Ela se entropiza, passa a se dar no âmbito da própria máquina. Com o tempo acaba criando feudos na própria máquina, por mais que os sistemas de informação permitam um controle melhor sobre a gestão.
Quando criou o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o ex-Ministro Tarso Genro foi sábio: dizia que os governos só se movem com as pressões legítimas de fora. Senão, internamente cria-se o predomínio dos ministérios fortes (Fazenda, Planejamento) sobre os fracos (voltados para a área social).
Falta um melhor entendimento para definir o que é a boa política. Certamente não é o aparelhamento da máquina. Mas também não é se fechar em uma redoma.