O pecado da mentira

Por JB Costa
Mentir é humano. E como!

Não há como negar: dos sete pecados capitais o mais inerentemente humano é, disparado, o da mentira. Poderíamos, numa nova classificação taxonomica, sermos tranquilamente identificados como homo sapiens falsus. Nossa espécie mente por diletantismo, por vício, por prazer, por obrigação,por sadismo, por masoquismo. Em suma: por qualquer motivo e situação. Seja na paz, na guerra, no lar e fora dele, no trabalho , no esporte, e, principalmente, no amor e na política.

Se por falta de dados estatísticos é impossível relacionar as diversas tipologias da mentira, o faremos   apenas com base nas nossas observações cotidianas relacionando as mais recorrentes e comuns a partir da esfera ou contexto de onde emanam:

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 - Religiosas: a pessoa dizer-se ateu ou religiosa dependendo da ambiência. Um clássico nessa área é alegar-se  católico quando na realidade em apenas duas ocasiões revelou-se como tal: no batizado e no casamento.

 - Esportivas: a mais corriqueira é um torcedor declarar-se a favor do time arqui-rival quando este joga com outro fora do seu estado, a exemplo de um gremista torcer a favor do Inter quando joga com o Palmeiras ou um atleticano de Minas vibrar com o Cruzeiro quando este enfrenta times fora das Alterosas.

 -Amorosas: são tantas, mas são tantas, que fica quase impossível elencar as mais expressivas. Elejo  duas: a primeira, mais telúrica: um casal depois de trinta anos de casados mentir reciprocamente, ou seja, dizerem-se apaixonados "como da primeira vez". A segunda, mais afeita ao macharal , no que se refere ao desempenho sexual. Todas, absolutamente todas, as declarações nesse sentido ou são falsas in totum ou superavaliadas. Um sujeito a partir dos cinquenta(aqui o marco é arbitrário) gabar-se de dar três, quatro, cinco, até sete!, por semana é um pinóquio em carne e osso. A terceira é quando, sem nenhum pejo, alguns ufanam-se de nunca terem broxado quando na realidade dez em cada dez homens já passou por isso.

- Culturais: diz respeito à falsa erudição. Muita gente boa sai por aí gabando-se de ter lido e apreciado Proust, James Joyce, Virgina Woolf, Platão, Nietzsche, Guimarães Rosa e outros menos votados, quando na realidade só leram a "orelha" do livro ou então caíram num sono cataléptico depois da primeira página. Incorre na mesma inverdade quem alega deleite quando visita museus com obras impressionistas ou expressionistas de artistas de vanguardas ou então se enternece com aqueles filmes "experimentais" sem pé nem cabeça premiados com o Urso de Prata.

- Jornalísticas: o caso típico é o da informação com fonte não identificada. Em muitos casos o autor da matéria deixa de citá-la porque simplesmente ela não existe: o jornalista inventa. Isso sói ocorrer com frequência no jornalismo político. Quando se recorre à perífrases, a exemplo de "Fontes do Planalto" ou "O mercado avalia.." é um claro indício de mentira.

- Na política: a dificuldade é sobrelevar uma das milhões que são usadas no cotidiano pela nobre classe dos políticos. A esfera política já foi definida por Maquiavel como a "Seara dos homens imperfeitos". Acho que o florentino citou imperfeitos para não dizer "homens mentirosos". Minha suspeita é que eles - políticos - mentem tanto por ofício como por prazer.  Um caso emblemático, diria até paroxístico, foi quando o sr. José Serra assinou uma declaração em 2008, na condição de pleiteante à Prefeitura de São Paulo,  comprometendo-se a cumprir o mandato até o final. Ou seja, a mentira verbal avalizada por outra escrita.