Carlinhos Cachoeira na CPI dos Bingos(2004)

Por José Carlos Lima
A CPI dos Bingos tratou de tudo e muito pouco de Carlinhos Cachoeira. Mas ele foi citado, a conferir:
RELATÓRIO  FINAL – “CPI DOS BINGOS”
(SUMÁRIO EXECUTIVO)
1. APRESENTAÇÃO
A presente CPI, popularmente conhecida como “CPI dos
Bingos”, foi criada pelo  Requerimento n.º 245, de 2004, de autoria do
Senador Magno Malta, para  investigar e apurar a utilização  das casas de
bingo para a prática de crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e
valores, bem como a relação dessas casas e das empresas  concessionárias de
apostas com o crime organizado.
Esta CPI iniciou seus trabalhos no dia 29 de junho de 2005, tendo
como foco inicial as relações do  mercado de jogos com a administração
pública, notadamente as atividades suspeitas de Waldomiro Diniz no Rio de
Janeiro/RJ, quando presidente da Loterj, e em Brasília/DF, quando assessor
parlamentar da Casa Civil do governo federal. No primeiro caso, envolvendo
denúnicas de existência de um esquema de corrupção entre agentes públicos e
empresários de jogos de azar e de financiamento de campanhas eleitorais com
o dinheiro proveniente desse mercado de jogos, e, no segundo caso,
envolvendo denúnicas de corrupção no  processo de renovação de contrato
milionário entre a empresa multinacional de processamento de loterias Gtech
Corporation, concessionária de serviço público, e a Caixa Econômica Federal
(CEF).
(...)
8. CASO LOTERJ: O ESQUEMA  DE PROPINAS ENVOLVENDO O
MERCADO DE JOGOS NO RIO DE JANEIRO
    O “caso Loterj” foi o fato primário que levou à criação da
presente CPI. No dia 13 de fevereiro de 2004, o Brasil testemunha a
divulgação de uma fita de vídeo, gravada em 2002 pelo empresário de jogos
Carlos Augusto Ramos, vulgo Carlinhos Cachoeira, na qual Waldomiro Diniz,
então presidente da Loterj, pede propina para si mesmo e dinheiro para a
campanha eleitoral daquele ano. Em troca, promete beneficiar Cachoeira em
uma concorrência pública. Em seus depoimentos na CPI da Loterj e na CPI
dos Bingos, confessou que levou dinheiro para a campanha de Geraldo
Magela, candidato ao governo do Distrito Federal pelo PT.
Na análise do caso, esta CPI pôde observar que, de fato, um
trecho do edital tema da conversa gravada foi suprimido, tornando o objeto da
licitação mais restrito, o que vai ao encontro do que foi conversado entre
Waldomiro Diniz e Carlos Cachoeira na fita. É indício que reforça a tese de
que ambos realmente tinham um conluio  para a prática de ilícitos, e que,
muito provavelmente, não se tratava apenas de Cachoeira sendo vítima de
extorsão por parte de Waldomiro Diniz, como alegou em seu depoimento na
CPI do Senado Federal.
Tanto nos depoimentos para a CPI da Loterj quanto para a CPI do
Senado Federal, Cachoeira insistiu  que o ponto da desavença entre ele e
Waldomiro Diniz seria o objeto do referido edital. Segundo ele, apesar de a
internet ter sido retirada do item 11.1 do edital, permaneceu no objeto em si,
item 2.1. Assim, afirmou no depoimento à CPI da Loterj: “Se ele tirou aqui de 26
cima, mas no objeto em si, que é o principal, continou internet, eu continuei
sendo prejudicado”.
Em outro trecho de seu depoimento, Cachoeira diz que queria
investir no Rio de Janeiro por considerar o Estado uma vitrine para os seus
negócios, e menciona o desejo de competir com a empresa Gtech, empresa
líder mundialmente em tecnologia on-line para loterias: “(...), a gente queria
fazer dali um showroom para o Brasil, e realmente entrar na competitividade
com a empresa GTECH, porque logicamente eles estavam sozinhos no Brasil
(...)”.
Depoimentos de representantes da Hebara e da WWW Play
desmentem essas afirmações de Cachoeira, tanto em relação à importância que
deu à questão do objeto do edital,  como motivadora da desavença com
Waldomiro Diniz, quanto em relação à suposta intenção de concorrer com a
Gtech pelo mercado.
O que se pode concluir desses depoimentos é que o suposto
problema com o objeto da licitação não foi a razão para a desavença entre
Carlos Cachoeira e Waldomiro Diniz, e, provavelmente, não foi a razão para a
gravação da fita, como afirmou Cachoeira em ambas as CPIs.
No depoimento de Fernando  Antônio de Castro Cardoso,
representante da Gtech, ficou claro que não era objetivo de Cachoeira
competir com a empresa; ao contrário, ele propôs acordos de parceria.
Razão muito mais forte do que a do objeto do edital nos pareceu
ser o fato de Waldomiro Diniz não ter deixado Cachoeira explorar as vídeo-27
loterias on-line caso não cumprisse o objeto do seu contrato. Os motivos para
isso podem estar no relacionamento de Diniz com os Ortiz.
A CPI da Loterj concluiu que Waldomiro Diniz e Carlos
Cachoeira eram parceiros em atividades ilícitas. É uma conclusão razoável,
principalmente considerando a relação  natural entre ambos na fita gravada,
particularmente nos momentos de pedido de propina e da proposta de
alteração do objeto do edital de licitação. Além disso, tinham como
intermediário um assessor comum: Armando Dilli, falecido em 2002. Segundo
as conclusões da CPI, a  parceria Diniz-Cachoeira “tinha o intuito de tramar
maneiras de fraudar processos licitatórios, captar recursos em caixa “dois”
para campanhas eleitorais e aumentar a área de influência e controle da dupla
nos jogos no Estado”.
A fita gravada por Cachoeira teria sido usada para chantagear
Diniz, quando assumiu suas funções de  assessor direto do ministro da Casa
Civil do Presidência da República, José Dirceu. Em seu depoimento à CPI da
Loterj, Waldomiro Diniz informou que no início de janeiro de 2003 recebeu
em seu gabinete ligação do jornalista Mino Pedrosa, dono de uma empresa de
consultoria que prestava serviços a  Carlos Cachoeira,  dizendo, segundo as
palavras do depoente: “Olha, Waldomiro, queria me certificar com você sobre
o que você tem a dizer sobre uma fita em que você está pedindo dinheiro para
a campanha para um bicheiro de Goiás”. Ao ligar para Cachoeira, este lhe
explica a razão da chantagem: “É que você não retorna minhas ligações. Eu
quero falar com você. Eu tenho coisas para tratar com você e você não retorna
as minhas ligações.” 28
A CPI da Loterj conclui que  a gravação serviria para dois
propósitos: “Um dos possíveis resultados objetivos dessa manobra foi a
desistência da empresa Gtech em participar da licitação da “Loteria de
Prognósticos”. Com isso, conseguiu, também, que ela restringisse sua ação à
Caixa Econômica Federal, deixando para a Combralog de Carlos Ramos o
rentável e inexplorado mercado  on-line nos Estados. Carlos Ramos queria
também, de Waldomiro Diniz, que a Combralog tivesse o controle dos jogos
de vídeo-loteria dentro dos Bingos”, o  que não estava no objeto do edital
ganho por essa empresa, e uma das prováveis razões para Cachoeira não vir
cumprindo o seu contrato a contento, segundo depoimento de Waldomiro
Diniz. Para a CPI da Loterj, “o objetivo não foi alcançado, provocando,
provavelmente, a ruptura da parceria Diniz-Cachoeira”.
Ainda segundo a CPI da Loterj: “Os depoimentos revelam, ainda,
o envolvimento e as divergências entre Carlos Cachoeira e Alejandro Ortiz,
bem como a posterior reaproximação entre eles, tendo como possível pólo
aglutinador, nada mais nada menos do que a figura de Waldomiro Diniz, com
o inestimável apoio de José Renato Granado, que, segundo ele, fazia o meio
de campo entre eles e Ortiz e os Bingos. Evidencia-se, também, a conivência
entre Waldomiro e esses parceiros do bingo, quando se confronta tais fatos
com a forma açodada com que Waldomiro Diniz autorizou o funcionamento
de 13 (treze) novos bingos. Isso demonstra claramente o processo de
corrupção nessa área de controle dessas casas de jogo. Vale, mais uma vez,
lembrar que no depoimento de Luiz  Eduardo Soares, o corruptólogo teria
alertado que Diniz manipulava uma azeitada máquina de corrupção, que
rendia ao então presidente da Loterj R$ 300 mil por mês. A fonte dessa
receita? Os bingueiros do Estado do Rio de Janeiro.” 29
José Renato Granado, além de ser presidente da Associação dos
Bingos do RJ, afirmou, em seu depoimento à CPI da Loterj, que tem relação
comercial com os Ortiz, e que adquiriu, em 1999, máquinas de caça-níqueis da
família.