O principal motor da produtividade da economia
Enviado por luisnassif, ter, 03/04/2012 - 11:33
Por Joaquim Aragão
A capacidade e o direito dos indivíduos e das famílias de conceber e implantar projetos de vida é o principal motor da produtividade da economia. Todos os investimentos em maquinário e automatização que não sejam acompanhados em políticas que permitam essa capacidade provocam um aumento insustentável da produtividade, pois marginalizam boa parte da força de trabalho e restringem o poder de compra dos mercados.
Entretanto, o capital de mente imediatista e autista prefere "reformas trabalhistas", a redução de "gastos públicos" (especialmente nos setores de investimento social, mas nunca no pagamento de juros), e enfrentar os efeitos sociais como a criminalidade e o desemprego com repressão brutal e xenofobia.
p>A ampliação do acesso ao sistema escolar nos diversos níveis está provocando profundas transformações sociais no Brasil, a despeito da qualidade de ensino ainda patinar. As famílias não mais se contentam com horizontes profissionais acanhados, passando a vida inteira em estabelecimentos insalubres e, no caso da mulher, em espaços restritos das famílias de classe média e da elite (presas em áreas de serviço cada vez menores e opressoras, das quais saem só para limpar e arrumar quartos, banheiros e salas que não lhe estão abertos como espaço de vida), aceitando humilhações, tudo isso em troca de um salário mínimo. Para muitos jovens dessas famílias, o crime organizado era a única saída de libertação, pois lhe prometia (e efetivamente cumpria) perspectivas rápidas, e curtas, de bem-estar material e auto-estima.
Hoje, os filhos e filhas começam a cursar faculdade; mesmo que no final não chegue um emprego de sonho, mas a própria auto-imagem é outra: não se fala mais com uma pessoa com esse tipo de origem com o mesmo tom escravocrata. O bom-dia e obrigado se impõe, desaforos não são mais tão facilmente engolidos. E passar a vida em casa de outras famílias ou em oficinas, lojas e escritórios mal iluminados, feios e insalubres, sempre baixando cabeça a humilhações e a ordens expelidas em tom de feitor ("ei, você aí!"), deixou de ser a sina inexorável para quem quisesse fugir da alternativa da criminalidade.
Isso produziria uma força interna nas pessoas e famílias que precisa ser avaliado mais quantitativamente. A par do crescimento do mercado, já verificável a olhos nus, o crescimento cultural poderá ter efeitos positivos no processo produtivo, a despeito da qualidade deficiente do ensino.
Esses fenômenos aqui descritos apresento apenas como uma hipótese, pois exigem confirmação empírica por meio de estudos volumosos e substanciais. E eles se encontram em uma fase ainda incipiente. Mas no dia-a-dia, as queixas de falta de mão-de-obra no comércio e no setor de serviços podem ser um reflexo desse processo.
Da parte da casa grande, essa falta logo é creditada à bolsa-família, que tem levado as famílias a "fugir do trabalho" para viver "às expensas do contribuinte" (`Síndrome de Escandinávia", já apelidam). Essa fuga pode estar ocorrendo ocasionalmente (até porque um "homo oeconomicus" irá forçosamente recusar ganhar um salário-mínimo se arrebentando, quando ele pode ganhar o mesmo sem trabalhar), mas verifica-se ser estatisticamente insignificante frente a outros fenômenos de mudança social.
Pois não seria a bolsa-família que está provocando o êxodo da mão-de-obra barata. A educação, mesmo que deficiente mas finalmente fisicamente acessível, provoca nas classes populares aquele "tchã" que vimos no final da "Pequena Costureira Chinesa". Inquirida pelos jovens, que lhe abriram os olhos para a cultura, porque ela estava abandonando a aldeia, simplesmente respondeu com um sorriso: "Balzac
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