A apresentação de Tombini no Senado

Por Roberto São Paulo-SP 2012

Do Banco Central

Apresentação do presidente Alexandre Tombini na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal -

Brasília - Clique para ver os slides da apresentação do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal.
anexo 1
Alexandre Tombini, Presidente do Banco Central do Brasil.... Mas, nos últimos três trimestres, o Brasil tem crescido abaixo do potencial, e não é por outra razão que o Banco Central vem ajustando sua taxa de juros para baixo nesse período, ou seja, em função do crescimento da economia brasileira abaixo do crescimento do produto potencial........
p>.....O texto ainda não foi revisado.......
STAQ - Secretaria de Taquigrafia do Senado Federal.  
Comissões On-line permite o acompanhamento em tempo real dos eventos em andamento nas comissões do Senado Federal.
    Os pronunciamentos dos parlamentares e dos convidados são publicados à medida que são produzidos pela STAQ - Secretaria de Taquigrafia do Senado Federal.
    As gravações do áudio das reuniões são realizadas pela STEL - Secretaria Técnica de Eletrônica do Senado Federal.
    Escolha a reunião abaixo em clique em "Visualizar" para ver o texto já registrado ou a gravação do áudio das reuniões, caso esteja disponível.
http://www.senado.gov.br/atividade/comissoes/sessao/disc/listaDisc.asp?s=000034/12
reunião da Comissão de Assuntos Econômicos.(A pauta: audiência pública com a presença como expositor do Exmº Sr. Alexandre Tombini, Presidente do Banco Central do Brasil,)

O SR. PRESIDENTE (Delcídio do Amaral. Bloco/PT – MS) – Declaro aberta a segunda reunião da Comissão de Assuntos Econômicos.
Antes de iniciarmos os trabalhos, proponho a dispensa da leitura e aprovação da Ata da primeira reunião.
Os Srs. Senadores que concordam queiram permanecer como se encontram...............

......Agora, entramos já na terceira parte da nossa reunião. Perdão, não é terceira parte, a tecnocracia aqui diz que é outra reunião.
Portanto, declaro aberta a 3ª reunião da Comissão de Assuntos Econômicos.
A pauta: audiência pública com a presença como expositor do Exmº Sr. Alexandre Tombini, Presidente do Banco Central do Brasil, a fim de discutir as diretrizes e implementação e perspectivas futuras da política monetária, em atendimento aos §§ 1º e 2º do art. 99 do Regimento Interno do Senado Federal.

Peço aos Senadores Aloysio Nunes e Dornelles, se V. Exªs assim o permitirem que conduzam o convidado ao plenário da Comissão.
Comunico que se encontram presentes ainda o Sr. Altamir Lopes, Diretor de Administração, Dirad, e o Sr. Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, Diretor de Política Econômica, Dipec.
De acordo com os arts. 397, 398 do Regimento Interno do Senado Federal, a Presidência adotará as seguintes normas:
S. Exª, o Sr. Alexandre Tombini terá 30 minutos para fazer sua exposição. Em seguida, abriremos a fase de interpelação pelas Senadoras e Senadores inscritos. A palavra aos Senadores e Senadoras será concedida na ordem de inscrição, intercalando-se oradores de cada partido.

O interpelante dispõe de cinco minutos assegurado igual prazo para resposta do interpelado, tendo prazo máximo de dois minutos para a réplica, concedendo ao Ministro o mesmo tempo para a tréplica.

Com a palavra o Exmº Sr. Alexandre Tombini, Presidente do Banco Central do Brasil para fazer a sua exposição.
Então, já de imediato, passo a palavra ao Ministro Alexandre Tombini, Presidente do Banco Central do Brasil.
Quero também registrar aqui que as inscrições estão abertas para a audiência pública com o Ministro Tombini. Já estão inscritos aqui o Senador Dornelles, o Senador Ferraço, o Senador Suplicy, o Senador Lindbergh. Quatro inscritos já para a audiência pública do Ministro Tombini.
Com a palavra o Presidente do Banco Central

O SR. ALEXANDRE TOMBINI – Muito obrigado, Sr. Presidente, Exmº Senador Delcídio do Amaral, Exmºs Senadores e Senadoras, é, mais uma vez, uma honra estar aqui neste plenário, na Comissão de Assuntos Econômicos para tratar da nossa prestação de contas sobre a política econômica, a política monetária do Banco Central, essa prestação de contas trimestral que fazemos nesta Comissão.

Vou passar rapidamente. A minha apresentação não é uma apresentação que eu diria curta, está sendo distribuída para V. Exªs, vou tentar passar rapidamente, para irmos, então, para a sessão dos debates.
Em relação ao cenário que eu queria resumir, o cenário econômico global, no que diz respeito às ações do Banco Central, focando nas economias avançadas, aquelas economias emissoras de moeda de reserva no mundo, o que temos visto é a adoção de políticas monetárias expansionistas, que têm ampliado

(...) políticas monetárias expansionistas que têm ampliado significativamente a liquidez no mercado financeiro global. Isso tem contribuído, agora no início do ano, para a chamada aversão ao risco, ou seja, os investidores globais têm se posicionado mais em ativo de risco do que faziam no segundo semestre do ano passado.
Esse cenário deve – temos visto algo a respeito – intensificar o fluxo de capitais para as economias emergentes, que já têm alguma experiência de enfrentamento de intensos fluxos de capitais, como foi o caso do fim de 2010 e início do ano passado. Elas têm utilizado uma combinação de políticas macroeconômicas, inclusive medidas macroprudenciais, para mitigar os efeitos desses fluxos de capitais que podem ser muito intensos, como vimos no passado.
Quanto ao cenário internacional, vemos a perspectiva de desaceleração do crescimento global em 2012 e uma perspectiva de crescimento relativamente baixo para a frente, nos próximos anos também.
A economia brasileira, resumindo, deverá acelerar o crescimento ao longo de 2012. Como eu já tive oportunidade de dizer aqui em dezembro, a perspectiva do Banco Central é que a economia brasileira cresça mais este ano do que cresceu no ano passado, que cresça mais no segundo semestre deste ano do que crescerá na primeira metade de 2012. A inflação continua na sua trajetória de convergência para a meta. Eu terei oportunidade de apresentar alguns números nesse sentido.
Bom, então vamos à ampla liquidez do mercado financeiro global.
O Banco Central é responsável pela emissão das principais moedas de reservas, sinaliza manutenção de taxas de juros muito baixas, patamares historicamente baixos por um tempo à frente, e temos observado a ampliação dos programas de expansão monetária não convencional, ou seja, além da taxa de juros baixa por muito tempo tem havido o chamado afrouxamento quantitativo, sendo adotado por todos os principais bancos centrais de países emissores de moedas, digamos, conversíveis, moedas de reserva no mundo.
Só para relembrar V. Exªs, as taxas de juros hoje pela reserva federal estão entre a faixa de 0 e 0,25% e há uma sinalização de permanência até o final de 2014. Obviamente, essa é uma definição condicionada à evolução da economia. O próprio Banco Central americano tem dito isso. Se a economia mudar muito, não necessariamente essa perspectiva até o final de 2014 ficaria, mas é essa a sinalização dada no momento.
O Banco Central europeu está com a taxa de política monetária de 1%. O Banco da Inglaterra, com taxa de 1,5% ao ano e o do Japão, que vem enfrentando um processo de deflação durante algum tempo, com um taxa nominal entre 0 e 0,10% ano.
Este é o resultado de um artigo publicado pelo vice-presidente do BIS, Banco de Compensações Internacionais, o Banco Central dos bancos centrais. Neste artigo recentemente publicado, ele mostra a taxa de juros real negativa em vários países. É uma taxa agregada onde tem mundo, agregação do mundo, as economias avançadas em vermelho e as economias emergentes em verde. Então ele mostra que, na média ponderada global, as taxas de juros de política, nesses vários países, taxas reais, estão em um nível inferior a zero, ou seja, taxa de política monetária inferior à inflação, segundo esse trabalho que ele realizou.
Outro gráfico que vem desse mesmo trabalho, um trabalho importante, influente, recentemente divulgado pelo vice-presidente do Banco, dos bancos centrais, o BIS, mostra, na linha vermelha, qual é a taxa de juros praticadas hoje pelos diversos bancos centrais e, na linha verde, qual deveria ser, caso esses bancos centrais estivessem seguindo mecanicamente uma regra de resposta da política monetária às variáveis econômicas.

Então o que ele demonstra é que, no período recente, no pós-crise 2008, os bancos centrais no agregado têm utilizado uma taxa de política monetária significativamente inferior à taxa que deveria ser, caso seguissem uma regra de Taylor, que basicamente diz que os juros têm que mexer quando a inflação (...)
Que basicamente diz que os juros tem que mexer quando a inflação ou a expectativa de inflação diverge da meta e mexer também quando o produto diverge, o produto potencial. Em geral, os bancos centrais atribuem mais peso, três vezes mais peso, para desvios da inflação do que para desvios do produto. Mesmo assim, esse é o resultado obtido nesse estudo, ou seja, demonstra que desde o pós crise os bancos centrais no mundo, no agregado, vem sistematicamente com taxas de políticas inferiores ao que seria recomendado pela regra, naturalmente respondendo ao atual ambiente internacional de ampla liquidez dos riscos que se verificam.
Os programas de expansão de política monetária não convencionaisl têm várias justificativas, os países utilizam justificativas diversas no esgotamento dos instrumentos convencionais, ou seja, da política de taxas de juros em patamar historicamente baixos, restaurar os canais de transmissão da política monetária, entenda-se aí o crédito por exemplo, os mercados de crédito não funcionando, um multiplicador do crédito, um multiplicador monetário nessas economias não funcionando por questões de confiança. O Banco Central mais ou menos faz o curto-circuito e mais ou menos substituiu o papel dos mercados de crédito, emprestando diretamente ao sistema, já que o sistema não empresta entre si.
Adequar as condições do sistema financeiro e assegurar a solvência do sistema financeiro, ou seja, facilitando o processo de recomposição patrimonial das instituições, dando condições de financiamento muito mais favorecidas com os programas de liquidez desses bancos central, permite que os bancos tenham tempo para restabelecer suas bases de capital, ou seja, para recomporem suas bases da capital. Então, é uma série de razões pelas quais os bancos centrais têm adotado programas agressivos de expansão monetária, além das taxas de juros reduzidas.
Descrevendo os vários programas desses quatro bancos centrais: afrouxamento quantitativo nº 1, de 2008, do FED, da reserva federal, o 2, em 2010, operação que eles chamaram de twist do ano passado, temos a zona do euro, o banco central europeu com uma operação bastante importante, deflagrada em dezembro, a LTRO, que é operação de refinanciamento de longo prazo, onde empresta a juros de 1% para o sistema bancário, por três anos, o que deu uma estabilizada nas condições financeiras do mercado financeiro global que veremos em seguida. Além desses dois principais bancos centrais, o Reino Unido aumentou o seu programa de compra de títulos públicos, ou seja, afrouxamento quantitativo e o banco do Japão fez o mesmo recentemente no que diz respeito a essa política não-convencional.
O resumo disso tudo é esse gráfico que V. Exªs tem no seu conjunto de dados onde mostra desde a primeira linha vertical vermelha, quando se dá agudização da crise financeira internacional, com a quebra do Lehnan Brothers, vemos que o tamanho do balanço dos bancos centrais vai aumentando com esses vários programas de afrouxamento quantitativo, ou seja, de lá, na faixa de 4 trilhões, para cá na faixa de 8,6 trilhões, ou seja, houve um aumento de 4,6 trilhões de dólares norte-americanos na expansão dos ativos totais desses quatro principais bancos centrais, um aumento de mais de 100%, ou melhor 112%, na liquidez global, deflagrada no pós-crise de 2008.
Então, repassada essa parte da liquidez, o ponto que gostaria de fazer da ampla liquidez global, vamos entrar diretamente na questão da menor aversão ao risco desse incentivo à tomada de risco, ou seja, de uma menor propensão dos mercados, dos investidores tomarem risco nesse início de 2012.
Então, já falamos um pouco disso e por trás está ampliação da liquidez global mas também essa visão de que a economia, pelo menos algumas áreas, pelo menos a economia norte-americana, melhora suas perspectivas de crescimento a frente. Então, combinação de ampla liquidez, que já estava porém foi intensificada a partir de dezembro com operação do banco central europeu, e alguns dados um pouco melhores da economia norte-americana tem militado no sentido de aumentar a propensão de tomada de risco pelos agentes.
Permanece contudo fatores para o crescimento global
O SR. – Permanecem, contudo, fatores para o crescimento global. Temos, sobre o endividamento das economias européias, nós conhecemos uma crise de endividamento público, isso não se dissipa da noite para o dia, por melhores que estejam as condições de financiamento no mercado, tem uma questão de fluxo também, de gerar crescimento, gerar receita para fazer frente aos gastos, tem a questão de redução dos gastos, o que não é um processo simples. Sobre o endividamento das economias européias, impacta hoje, impactará no futuro o crescimento, as perspectivas de crescimento naquela área. Então, um fator de risco, um eventual agravamento no meio do caminho. A zona do Euro já está em recessão, em várias economias encontra-se contração do produto, há pouca atração nessa recuperação dos Estados Unidos, vou mostrar alguns fatores de risco ainda presentes, apesar dos dados alvissareiros no curto prazo. Nós temos uma redução no crescimento dos emergentes, em particular a China, que nos interessa. Não é o caso do Brasil. Como já mencionei, a nossa perspectiva é de que cresça, este ano cresceu mais do que no ano passado. Enfim, agregando as economias emergentes. Esse é o quadro internacional. Há menor aversão ao risco, outros fatores que mencionei, a ação do Banco Central em dezembro, com aquela operação de três anos, de refinanciamento dos bancos, o que reduziu significativamente o nível de estresse no sistema financeiro europeu e deu melhores condições. O dinheiro é fungível, melhoram as condições de rolagem dos bancos melhoram as condições de rolagem de toda a economia, inclusive do Soberano, que tem enfrentado taxas melhores para se refinanciar, que é o caso da Itália, da Espanha, muito melhores do que no final do ano passado. As perspectivas positivas em relação à economia americana e a redução do risco de pouso forçado na China, apesar da desaceleração do crescimento. Já mencionamos as diversas operações dos bancos centrais no sentido de ampliação da liquidez. Esse quadro de menor aversão pode ser refletido na diferença entre as taxas que os bancos emprestam entre si e as taxas com que eles pegam dinheiro nos respectivos bancos centrais. Nós temos na linha azul a questão americana e na linha vermelha a situação na Europa. Então, nós vemos na margem, onde tem aquela marcação que fiz em janeiro deste ano, uma redução da diferença entre as taxas que eles emprestam entre si, os bancos, e as taxas com que eles tomam recursos nos Bancos Centrais, o que indica uma menor aversão ao risco. Eles estão começando a emprestar um pouco de dinheiro entre si fazendo com que essas taxas interbancárias reduzam em relação à taxa com que eles pegam dinheiro nos Bancos Centrais. Outra forma de ver essa menor aversão ao risco é ver nas barras vermelhas qual foi a rentabilidade acumulada ao longo do ano de 2011 nas principais bolsas de valores do mundo. Então, vemos, nas barras vermelhas, que as bolsas acumularam perdas, em geral, nas várias praças, ao longo de 2011. Até 27 de fevereiro, dado mais recente que consegui colocar para a nossa discussão de hoje, o que vemos são essas mesmas bolsas apresentando uma rentabilidade positiva no acumulado do ano, até o dia 27 de fevereiro. Também essa ideia de menor aversão ao risco, de colocar o dinheiro para trabalhar em ativos de maior risco. Então, esse é o quadro de ampla liquidez, de menor aversão ao risco. Vamos brevemente às perspectivas de fluxo de capital para as economias emergentes, situação que enfrentamos no final de 2010, 2011, como está isso hoje. Aqui, vemos ampla liquidez global, associada à menor aversão ao risco no início de 2011, o que leva à retomada do fluxo de capitais das economias emergentes, o que está sendo monitorado por nós e pelas demais economias emergentes nesse início de ano. O que vemos aqui é um dado agregado, vemos aquelas barras mostrando a evolução ao longo de 2010, 2011, e agora no início deste ano. O que vemos é que havia uma contração no fluxo de capitais no segundo semestre do ano passado, demonstrado pelas barras abaixo do nível zero, e vemos naquela marcação, já no início de 2012, são dados ainda muito preliminares, iniciais, mas vemos uma recuperação dos fluxos, principalmente dos fluxos para investimentos em bolsas de valores, fluxos de ações. Então, esse é o quadro para os emergentes, em geral. Para o Brasil esse é o quadro 2011/2012, que vimos. Na parte azul da barra é o fluxo financeiro líquido, na parte vermelha o fluxo comercial líquido. Vemos a parte azul basicamente abaixo do zero, ou seja, houve uma saída de capitais a partir do segundo trimestre do ano passado, com exceção de um mês, e vemos já...
A partir do segundo trimestre do ano passado, com exceção de um mês. E nós vemos já uma reversão neste inicio de ano, janeiro e fevereiro, ou seja, o fluxo de capital retornando a uma economia como a brasileira.
Vou falar agora brevemente da economia internacional. Nós temos a melhor das perspectivas de crescimento para os Estados Unidos. Vou focar só em três áreas: Estados Unidos, União Europeia e China, talvez sejam as mais importantes para o Brasil neste momento.
Então, nos Estados Unidos, há uma melhora de perspectiva de crescimento. Indicador de produção e consumo acima da expectativa, já no final do ano passado, início deste ano. Uma redução moderada do desemprego. Uma melhora, ainda que marginal, no mercado imobiliário.
Permanecem alguns obstáculos. Queria sublinhar quatro deles. O setor imobiliário ainda apresenta fragilidades, que é um setor importante da economia americana, sem dúvida. O endividamento das famílias, apesar de algum recuo da margem, continua muito alto em relação à sua média histórica, ou seja, colocando um risco na propagação desse crescimento para frente. O nível de desemprego, apesar do recuo, permanece elevado. E no que tange à política econômica, temos a política fiscal com baixo espaço de manobra naquele país.
Riscos externos para os Estados Unidos, sempre levantado por eles: a crise na Europa, há um grande comércio atlântico, entre Estados Unidos e Europa. A própria desaceleração da demanda externa. E o petróleo. Três riscos para essa recuperação da economia norte-americana.
Expectativa de crescimento. Vemos na linha vermelha a expectativa para 2013. Apesar de ser revisada para baixo ao longo do tempo, na margem mostra algum alento. E a perspectiva para 2012, apesar de ter sido revisada para baixo na margem, ela tem crescido desde o final do ano passado, essa perspectiva de crescimento da economia americana para 2012.
Em relação ao fator de risco, aqui vemos na linha vermelha, os gastos pessoais crescendo desde 2010, mas, de certa forma, como a gente vê na linha azul, que é a renda disponível, permaneceu mais ou menos andando de lado por algum tempo, uma parte desse crescimento do consumo nos Estados Unidos se dá a custa da redução da poupança pessoal, como vemos naquela linha verde. Ela se recupera um pouco mais recentemente.
Enfim, esse é o risco da propagação da recuperação dos gastos pessoais, gastos estes que representam grande parcela da econômica americana.
Em relação ao desemprego, como mencionei, o desemprego em queda lenta. Pela linha azul, vemos um recuo, mas historicamente níveis elevados. E há também uma redução na taxa de participação no mercado de trabalho, ou seja, a nossa taxa equivalente aqui ao desalento, como mencionamos aqui no Brasil, aumentando, menos pessoas procurando emprego, ou seja, mexendo na base do cálculo do desemprego.
O endividamento das famílias também recua mais recentemente, ainda que se encontre num nível bastante elevado.
Zona do euro, acho que o divisor de águas foi a ação do Banco Central Europeu, em dezembro, colocou mais de U$ 500 milhões à disposição do sistema bancário. Isso melhorou as condições de financiamento, facilitando inclusive a rolagem das dívidas soberanas como mencionamos.
Há (?) no mercado. Nas condições de financiamento dá tempo para adoção, pelos diversos governos e pela União Europeia, de reformas estruturais, para tentar restaurar o crescimento econômico naquela área. E também avançar no processo de consolidação fiscal no médio prazo.
O sentimento do setor produtivo melhorou no rastro da menor aversão ao risco global, porém ainda se encontra em campo negativo na Europa. As expectativas de crescimento continuam sendo revisadas para baixo na zona do euro.
E seis países encontram-se hoje em recessão. Há uma visão de que a recessão será leve na Europa, mas esse é um fato. Grécia, Portugal, Itália, Bélgica, Holanda e República Tcheca encontram-se, no momento, experimentando contração do Produto Interno Bruto.
Redução do risco soberano. Nós vemos aí o risco soberano de Itália, Espanha e França. Apesar de ter subido muito nos últimos tempos, como nós todos temos acompanhado. Mais recentemente havendo um recuo nesses indicadores.
Só para demonstrar aí, na barra vermelha, era condição de refinanciamento da Itália e Espanha, em novembro do ano passado. Na barra azul, a condição de refinanciamento em fevereiro de 2012, ou seja, melhoraram bastante as condiçoes
refinanciamento em fevereiro de 2012. Ou seja, melhoraram bastante as condições de refinanciamento dos Tesouros dessas duas economias importantes da Europa. Nós temos, como eu tinha mencionado, uma percepção ainda do lado real da economia, percepção negativa já melhorando um pouco, mas está abaixo ainda da linha dos 50, o que indica uma percepção negativa em relação às perspectivas da economia na Zona do Euro, recentemente, mas já está convergindo para próximo da neutralidade – vamos dizer assim.
Então, para concluir esta minha apresentação, vamos à questão da China, que, em 2011, concentrou os esforços no combate à inflação. O Governo apertou as condições monetárias e creditícias. Na China, a inflação começou a recuar no final de 2011. O desafio daqui para frente – parece-nos – é manter as taxas de crescimento elevadas e reduzir a probabilidade do cenário de pouso forçado que todos temeriam e estão conseguindo nesse processo de pouso suave da economia chinesa.
A recessão na Europa e a redução do ritmo de crescimento global pode, de certa forma, dificultam essa estratégia, haja vista – veremos em seguida também – que uma parcela importante das exportações chinesas são direcionadas para a Europa. 21,5% do total das exportações da China são para a União Européia, que está enfrentando processo de recessão.
Essa inflação, a inflação IPC da China e alimentos, ainda na faixa de 10% de inflação, mas já houve o recuo da inflação ao consumidor abaixo de 5%, como vemos aí na margem. Expectativa de crescimento. São expectativas do mercado, que estão na faixa de 8,5 para o ano e 8,2 para o ano seguinte.
Em relação ao comércio internacional, nós temos essa evolução das exportações e importações chinesas. O que demonstra esse gráfico é que tem havido um recuo na taxa de crescimento do comércio chinês ao longo do tempo. Isso nós vimos recentemente. É o último dado, a linha de exportação está em crescimento zero, variação anual zero na exportação e tem havido uma contração nas importações chinesas. Isso demonstra o ambiente que nós estamos enfrentando hoje no mundo, começando lá pela crise americana em 2008/2009, essa segunda volta da crise, concentrada na Europa, mas empatando já outras economias, no caso a China.
Isto é só aquele quadro da participação do comércio das exportações chinesas, que nós vimos que é de quase 50%. São exportações para a Ásia mesmo, para a região. Mas nós temos 21,5% para a Europa, 17% para os Estados Unidos, ou seja, quase 40% para as economias avançadas. Portanto, a China não está isolada do mundo, sofreria repercussões, caso o crescimento global sofresse mais no futuro.
Economia global. Menor crescimento. É só uma tabela-resumo, demonstrando as diferenças entre quais eram as perspectivas de crescimento no documento acho que o mais influente que trata da matéria econômica global: o Perspectivas para a Economia Mundial, do FMI. A última divulgação foi em setembro do ano passado. São feitas atualizações. E, em relação a setembro do ano passado, a nova atualização em janeiro de 2012 mostra, como podemos ver nas duas últimas colunas, basicamente a cor vermelha e o número negativo em frente a esses algarismos, que várias revisões foram feitas para o crescimento do mundo, das economias avançadas, Estados Unidos, Zona do Euro e Japão, e para as economias emergentes em relação a essa perspectiva de crescimento para 2012/2012.

Em relação ao Brasil, o que nós vemos ali eu já disse a perspectiva do Brasil vamos crescer mais este ano do que crescemos no ano passado, mais no segundo semestre que no primeiro trimestre. Mas nós vemos uma revisão geral do crescimento global desde setembro   0  do ano passado.
Bom, então, já indo para a finalização da minha apresentação, tratar de economia brasileira, a nossa visão, o crescimento econômico acelera ao longo de 2012, inflação em trajetória descendente, convergindo para a meta de inflação, manutenção
...convergindo para a meta de inflação. A manutenção de uma combinação de política econômica que seja compatível com um maior crescimento da economia e com a convergência da inflação para a meta do País.
Essa dinâmica... A expectativa do mercado, só para ilustrar essa dinâmica que eu menciono, ou seja, o crescimento acumulado ao longo dos trimestres, é uma expectativa do mercado, mas demonstra essa dinâmica. Ou seja, crescendo mais este ano do que no ano passado e crescendo mais na segunda parte do ano do que cresceremos na primeira parte deste ano.
Inflação convergindo para o centro da meta, inflação compatível com a convergência para a meta já há algum tempo, inflação mensal nos próximos meses menor que a observada em 2011.
Bom, esse é o quadro da inflação mensal do IPCA, que é o índice que baliza o sistema de metas de inflação. Depois daquela parede de inflação entre outubro de 2010 e abril de 2011, a inflação mensal tem ficado em níveis mais próximos do que seria o centro da meta de inflação no País.
Essa é a inflação ocorrida, que nós já vimos em azul no ano passado até janeiro. E nós vemos nas linhas que seguem, a linha verde e a linha vermelha, as expectativas de mercado para a projeção de inflação do IPCA. Na linha verde, o cenário do Banco Central, que é um cenário básico que está no último relatório de inflação de dezembro de 2011, para as perspectivas de inflação ao longo dos próximos meses. Nós vemos uma convergência num cenário de 4,7 no fim do ano, convergência mais lenta nas expectativas de mercado.
O mesmo gráfico, só que mudando o cenário do Banco Central, usando já dados de mercado para a perspectiva da evolução de taxas de juros e para a perspectiva de evolução do câmbio por exemplo. Nós vemos na nova linha verde também uma convergência maior do que as expectativas puras de mercado em relação à convergência da inflação para o centro da meta.
Aqui eu tenho um dado ocorrido, estamos aqui com o acumulado em doze meses da inflação para o consumidor, do IPCA – no caso, o IPCA 15, que tem a informação mais recente – mais o IPCM, que é calculado pela Fundação Getúlio Vargas, e o IPC da Fipe, que foi divulgado ontem relativamente à terceira quadrissemana – ontem ou anteontem.
O que vemos nesse quadro de inflação ocorrida? Vemos que, depois do pico da inflação acumulada em doze meses, que foi entre setembro e outubro do ano passado – nós vemos aí a inflação medida para o consumidor nessas três medidas –, a inflação acumulada em doze meses tem se reduzido sistematicamente, sendo que o IPC da Fipe está em 4,74, em torno do que seria hoje o centro da meta da inflação, de 4,5.

Naturalmente que o nosso indicador não é esse, é o IPCA, e o IPCA tem convergido também – teremos a divulgação do IPCA, não do IPCA 15, na próxima semana – e essa convergência continua ao longo do tempo. Então, esse é um quadro de dessinflação que o Brasil vem vivendo desde pelo menos setembro ou outubro do ano passado no acumulado de doze meses da inflação ao consumidor.
Se nós pegarmos a inflação geral da economia, o IGP – aqui também tem inflação ao consumidor, tem o IPCM, que nós mencionamos anteriormente –, veremos que... Alguns países, inclusive, usam a inflação geral como baliza para a política monetária. O que vemos na inflação geral de preços no Brasil, inflação acumulada em doze meses? Nós vemos uma inflação que terminou o ano de 2010 na faixa de 11%, uma inflação acumulada em doze meses que terminou na faixa dos 11%. Ela se reduz a menos da metade em 2011, ou seja, houve um processo de dessinflação importante no nível geral de preços, a inflação caiu para 5,5, ou seja, de mais de 11 caiu para 5,5. E a inflação agora em fevereiro, acumulada em doze meses, no IGP, está na faixa de 3,44, está no nível de 3,40.
Esse é o quadro também de outro indicador importante de inflação na economia, lembrando que o Índice Geral de Preços tem um impacto relativamente importante sobre a economia, uma vez que ele serve para indexar alguns preços, como alugueis.

Serve para indexar alguns preços como alugueis, que é um balizador importante. Então, nós vemos ocorrer, de fato, um processo de desinflação forte, indicado pela inflação já realizada em 12 meses pelo Índice Geral de Preços da economia brasileira.

Considerações finais:
Temos adotado um regime de política macroeconômico com base nestes três pilares: responsabilidade fiscal, meta de inflação e câmbio flutuante, além de uma regulação moderna, atualizada e rigorosa do sistema financeiro nacional para garantia e estabilidade sistêmica. Isso tem permitido, ao longo do tempo, um aumento da renda per capita, redução da desigualdade – o que são indicadores também objetivos. Nós temos, nos últimos oito anos, cumprido as metas no que diz respeito ao regime de metas de inflação que tem sido cumprido ao longo dos últimos oitos anos na economia brasileira.
O PIB per capita continua subindo, com exceção do ano pós-crise (2009), vem crescendo e está na faixa de quase R$20 mil, dados projetados pelo Banco Central no último relatório de inflação. Desemprego também em recorde de baixa, como em janeiro de 2012. O índice de Gini também mostra uma evolução favorável ao longo dos últimos anos. Há duas medidas: a do censo, que é a mais atualizada, e a da PNAD que demonstram a redução da desigualdade de renda do País ao longo dos últimos anos.
Mesmo diante desse cenário complexo, nós temos tido melhora em nossa perspectiva de risco, ou seja, as agências de classificação têm elevado a qualidade percebida do risco brasileiro; o custo de financiamento soberano no mercado internacional é o menor nos últimos 40 anos. Então, nós temos as elevações que ocorreram em 2011 por aquelas três agências de risco de crédito. Isso é uma evolução gráfica desse processo de melhora da percepção de risco na economia brasileira. As emissões soberanas... Só fazendo um resumo neste gráfico em que nós vemos que o custo de captação, pelo prazo de 10 anos, para a República Federativa do Brasil, vem caindo, pelo menos, desde 2010 e caindo de forma importante. Nós tivemos as captações em janeiro, de 2012, na faixa de três e pouco por cento o custo de captação para a República está em três e quarenta e cinco por cento o custo da última captação, de dez anos, para a República Federativa do País. Ou seja, essa é uma visão que também corrobora com a qualidade das políticas econômicas que vêm sendo implementadas no País no que diz respeito à economia em geral, à inflação – em particular – e à questão da estabilidade financeira do Brasil.
Basicamente isso, Sr. Presidente...

O SR. PRESIDENTE (Delcídio do Amaral. Bloco/PT – MS) – Muito obrigado, meu caro Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.
Eu começo já pelos Senadores e Senadoras inscritos.
Senador Francisco Dornelles com a palavra.
O SR. FRANCISCO DORNELLES (Bloco/PP – RJ) – Presidente, parabéns pela exposição.
Eu queria perguntar ao senhor se seria possível fazer uma análise das novas regras de Basileia III, principalmente sobre o impacto e a consequüência de sua aplicação sobre o sistema financeiro nacional, sobre a rolagem da dívida pública e se essas regras de Basileia III terão alguma consequência sobre a economia do País. Ainda sobre Basileia... Se essas regras de Basileia III serão aplicadas de imediato ou se existe a possibilidade de flexibilização em relação ao cronograma.
A segunda questão é a seguinte: se discute hoje – muito – a taxa neutra de juros: aquela que concilia o crescimento econômico com o nível de inflação. O Banco Central trabalha com uma taxa neutra de juros? Como é que o Banco Central calcula essa taxa neutra de juros?
A última é sobre o PIB potencial, ou seja, a capacidade máxima de produção que um país poderia alcançar sem gerar pressões
(...) máxima de produção que um país poderia alcançar, sem gerar pressões inflacionárias.
O Banco Central trabalha com a taxa neutra de juros e com o PIB potencial? Como o Banco Central calcula o chamado PIB potencial? Como o Banco Central vê as posições e as análises conflitantes sobre a existência desse PIB potencial?
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Delcídio do Amaral. Bloco/PT – MS) – Muito obrigado, Senador Francisco Dornelles.
Concedo a palavra ao Dr. Alexandre Tombini.
O SR. ALEXANDRE TOMBINI – Muito obrigado, Sr. Presidente.
Muito obrigado, Senador Francisco Dornelles. São perguntas extremamente técnicas e pertinentes em relação ao momento em que vivemos, às principais medidas que têm sido tomadas tanto na área econômica quanto na área da regulação.
A questão sobre a regra de Basileia não poderia ser mais atual. Há duas semanas, na semana retrasada, nós, no Banco Central, divulgamos, em coordenação com os membros do Conselho Monetário Nacional, a audiência pública com as regras do Acordo de Basileia III, que, diga-se de passagem, talvez, tenha sido o passo mais concreto que o G20 deu no sentido de aprender as lições da crise de 2008 e de responder de forma ampla e consistente, não só para mostrar hiatos de regulação que nem existiam e que foram importantes na crise de 2008, para se dar a dimensão do que ocorreu nessa crise, mas também para ajustar alguns elementos do Marco Regulatório Prudencial, como, por exemplo, a ideia da prociclicidade. Ou seja, quando a economia vai bem, as pessoas consomem mais, as empresas investem mais, e elas fazem isso cada vez mais com recursos de terceiros, ou seja, com alavancagem, aumentando o risco na fase boa da economia, o que poderá criar dissabores na frente, quando vier o ciclo econômico, se o sistema não estiver preparado em termos de qualidade e de quantidade de capital para absorver perdas não esperadas quando da virada do ciclo. Ninguém sabe exatamente quando isso acontece, mas é preciso haver um colchão para se fazer frente a isso.
Então, este foi um dos principais pontos do Acordo de Basileia III: melhorar a qualidade e a quantidade de capital, que era insuficiente e de baixa qualidade nos Estados Unidos e na Europa.
Em relação ao Sistema Financeiro Nacional, há uma regulação prudencial mais estrita e uma supervisão, diga-se de passagem, mais intensa. Além disso, no passado, nosso sistema sempre conviveu com um nível de volatilidade maior do que, por exemplo, as economias chamadas avançadas, que viveram momentos de tranquilidade por muito tempo, inclusive as instituições financeiras, nesse ambiente.
Em relação à Basileia III, digo que nós, no Brasil, somos uma das jurisdições mais bem preparadas para enfrentar Basileia III. Nossa agenda tem de ser uma agenda positiva. Temos de dizer que queremos que o mundo adote Basileia III. Então, a grande ênfase – acabei de vir da reunião do G20 e defendi este ponto lá – deve ser dada ao seguinte ponto: tem de haver, agora, a implementação, a adoção das regras. A Europa tem de avançar nisso. Acho que a operação do Banco Central europeu deu certa tranquilidade, porque resolveu o problema de funding dos bancos, que estava muito complicado. Então, agora, eles têm de recapitalizar o sistema. Da mesma forma, os Estados Unidos têm de diminuir o grau de alavancagem que havia em relação ao período pré-crise. Eles já diminuíram esse grau, mas têm de continuar nesse sentido. Acho que essas normas vêm no sentido de moderar o grau de alavancagem do sistema financeiro.
O nosso Sistema está se internacionalizando. É natural que, com o maior peso relativo da economia brasileira, com a maior intensificação do comércio internacional, as empresas, inclusive as instituições financeiras nacionais, entrem no mercado internacional mais fortemente. Agora, vivemos um período de pós-crise, mas temos visto movimentos nas nossas instituições. O Banco Central e o Conselho Monetário, como reguladores do sistema, não querem ver essas instituições se aventurando em outras jurisdições com nível de regulação inferior ao nível brasileiro. Então, a nossa agenda tem de ser positiva, tem de ser determinada, no sentido de que essas regras que foram e estão sendo importantes sejam adotadas.
A Europa, o Brasil, os Estados Unidos, enfim, aqueles que fazem parte do processo regulatório definiram um período de convergência, que vai de 2012, de 2013 a 2019. Ou seja, esse Acordo de Basileia III só estará plenamente adotado (...)
Esse acordo de Basileia III só estará plenamente adotado em 2019, ou seja, três anos depois das Olimpíadas no Rio de Janeiro, para se ter uma ideia, um referencial. Então, há um período de convergência bastante amplo, adequado ao pacote de mudança na regulação prudencial, até para não desfazer esse processo de recuperação da economia global lá fora, e estamos mais bem posicionados para isso.
Em relação às questões específicas sobre o capital no Brasil, nas nossas simulações, estamos bem posicionados. Saímos numa posição de força em relação a isso, e, ao longo do tempo, nesse período de seis anos, de 2013 a 2019, nosso sistema não tem dificuldade de se adaptar a esse novo regramento, mas queremos que os outros se adaptem também, inclusive para estabelecer relações de igualdade na competição do sistema. Sempre tivemos o menor nível de alavancagem, o maior custo financeiro. Não queremos que eles cheguem no custo financeiro brasileiro do passado, mas também não pode ser um nível de alavancagem como havia no pré-crise, nessas economias, o que gerou todo esse deslocamento de riqueza que temos visto desde 2008. Cinquenta trilhões simplesmente desapareceram, por exemplo, do valor das empresas, somando-se as perdas desde 2008. Então, o custo foi muito alto. É preciso haver uma regra forte. Acho que o Brasil precisa ter uma atitude bastante positiva em relação a isso. Não teremos dificuldade, no nosso sistema, de atender nem na rolagem da dívida pública. Isso não será problema, mesmo porque a dívida pública é soberana e vai continuar tendo, digamos, um nível de risco baixo em relação aos demais ativos da economia. Então, não haverá problema, e, para a economia do País, o crédito continuará expandindo de forma sustentável, robusta, a taxas relativamente elevadas, mesmo com a implantação gradual desse pacote de medidas, sem impacto imediato, ao longo do tempo.
(Intervenção fora do microfone.)
O SR. ALEXANDRE TOMBINI – Pois é, a economia brasileira, não, em relação à economia global, que está, agora, numa recuperação ainda frágil. Nós vimos a economia europeia numa leve contração no momento. Algumas economias em recessão, como nós vimos, mas eles têm um período longo de adequação. Quer dizer, houve uma antecipação do cronograma. A autoridade europeia definiu, em meados do ano passado, uma antecipação no cronograma de Basileia. Isso causou um certo impacto, sim. Não é o caso do acordo internacional, não é o que o Brasil está fazendo. O Brasil está respeitando esse cronograma longo. Houve uma certa turbulência em função disso, mas com a operação do Banco Central europeu em dezembro, ou seja, melhorando as condições de financiamento, essas preocupações ficaram aplacadas em relação a esse cronograma, impactando o processo de recuperação da economia global, que vai demorar algum tempo, na minha opinião. Então, acho que vai ser neutro em relação a isso. Agora, é importante que o sistema financeiro global seja restabelecido em bases mais sólidas.
Essa é a nossa visão em relação a Basileia III.
Em relação à taxa de juros, à taxa de juros neutra, o Banco Central procedeu a um exercício com o mercado financeiro, recebendo a resposta na semana passada. Divulgamos, foram amplamente divulgadas. Já dei algumas declarações dizendo que, na nossa visão, o importante é ver a tendência, a taxa de juros neutra, que caiu, de acordo com a última pesquisa, que foi em novembro de 2010, ou seja, em período de um ano, novembro, setembro; no período de um ano, houve uma queda na taxa de juro neutra de 6,5%, percepção, para 5,5%. Isso é um indicativo de que os economistas, enfim, os participantes do mercado consultados têm a visão de que os fundamentos da economia brasileira continuam a evoluir positivamente: consolidação fiscal, menor vulnerabilidade externa, o próprio entendimento da capacidade que o Brasil tem de reagir a choques externos num ambiente volátil – demonstrou isso em 2008 e tem demonstrado agora –; aprofundamento do mercado de crédito, maior inclusão financeira. Então, há uma série de questões institucionais e a própria condução da economia que tem demonstrado essa percepção de menor risco, percepção de melhores fundamentos. Vimos aí as agências de raiting, enfim. Não fomos nós a reclamar delas, inclusive, mas vemos que elas têm sistematicamente melhorado a classificação de risco do País. Os custos de financiamento do soberano têm reduzido. O Tesouro se financia em dez anos no mercado internacional a 3,45%. Ou seja, a tendência é de redução.
Uma outra questão importante em relação a essa...
(...) tendência de redução.

Outra questão importante em relação a essa pesquisa foi a pergunta que fizemos: “Qual a perspectiva de evolução da taxa de juros neutra nos próximos dois anos?” E a resposta da maioria, 49%, foi que a taxa, nos próximos dois anos, vai continuar caindo. Ou seja, apesar de toda a melhora nos fundamentos, demonstrada pelo valor médio, agora também há perspectiva de queda. Ou seja, isso é importante. Nós temos nossos trabalhos internos, a taxa de juros neutra é um conceito analítico. Nós temos várias alternativas metodológicas para chegarmos a esse conceito. Mas o importante foi a percepção que o mercado passou para nós. A média, 5,5%, caiu em relação ao ano passado. A dispersão é relativamente grande. Tem gente que acha que a taxa é 3,49%. Há outros que acham que a taxa de juros neutra é 7%. Enfim, mediana é mediana, 50% para cima ou 50% para baixo deu 5,5%. O importante é a trajetória de redução que nós verificamos.

Da mesma forma, o PIB potencial. Há variáveis não observáveis, que dependem de uma série de hipóteses. No nosso cálculo, temos várias metodologias, fazemos esse exercício e não divulgamos necessariamente, mas uma coisa posso lhe dizer: nos últimos três trimestres – o terceiro trimestre do ano passado, o quarto trimestre e o primeiro trimestre de 2012, que ainda não terminou –, o Brasil está crescendo abaixo do potencial. No terceiro trimestre, houve estabilidade no Produto Interno Bruto; no quarto trimestre, não temos ainda o número fechado; e o mesmo para o primeiro trimestre deste ano. Mas, nos últimos três trimestres, o Brasil tem crescido abaixo do potencial, e não é por outra razão que o Banco Central vem ajustando sua taxa de juros para baixo nesse período, ou seja, em função do crescimento da economia brasileira abaixo do crescimento do produto potencial.
Eu acho que são esses os comentários que eu teria para responder às perguntas do Senador Francisco Dornelles.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Delcídio do Amaral. Bloco/PT – MS) – Muito obrigado, Dr. Alexandre Tombini.
Passo a palavra para o próximo Senador inscrito, Senador Ferraço.
Só gostaria de registrar que temos dez Senadores inscritos. Assim, eu pediria ao Dr. Tombini e também aos Senadores e às Senadoras que ouvíssemos um a um, porque, se não, mais à frente teremos de mudar esta prática, e, eventualmente, todos perguntam e depois o Ministro Tombini responde.
Então, eu acho que o melhor, o mais proveitoso é um a um, mas eu pediria, para que pudéssemos cumprir o horário, que fôssemos bastante objetivos nas perguntas e respostas, exatamente para que todos perguntem e aproveitemos a presença da diretoria do Banco Central aqui na CAE.
Com a palavra o Senador Ferraço.
O SR. RICARDO FERRAÇO (Bloco/PMDB – ES) – Obrigado, Senador Delcídio do Amaral, nosso presidente.
Cumprimentando o Presidente Tombini e cumprimentando os demais diretores do Banco Central, eu queria me dirigir ao Presidente Tombini, fazendo uma leitura muito rápida de uma matéria que está estampada hoje no jornal O Globo, com letras garrafais:

A Presidente Dilma já começou a estudar uma nova proposta da equipe econômica para alterar a correção da caderneta de poupança, fixada hoje em TR mais 6% a.a. Segundo técnicos do governo, a mudança só valeria para depósitos futuros, ou seja, os atuais poupadores não seriam prejudicados pela mudança para não gerar reclamações nem acusações de quebra de contrato. O novo modelo, ainda em versão preliminar, prevê que o retorno dado pela caderneta de poupança seja variável, deixando esse tipo de investimento em linha com as taxas praticadas no mercado.

Evidentemente que, sendo o presidente do Banco Central uma das mais importantes autoridades da equipe econômica do Governo Federal, eu indago a V. Sª se V. Sª conhece o tema e se esse tema, de fato, está sendo estudado pelo Governo Federal, pela equipe econômica, por julgar o absoluto interesse da população brasileira em relação ao tema.
A segunda questão, Presidente Tombini...
(...) segunda questão, Presidente Tombini, diz respeito às análises que têm apontado riscos no aumento recente das importações brasileiras e faz-se logo uma relação à inundação de produtos importados e à consequente desindustrialização e à perda de empregos no nosso País. Por isso, esses mesmos analistas encontram justificativas para defender medidas tributárias e outras que, a meu juízo, tenham cunho protecionista.
Esse aumento de importações seria, segundo esses mesmos analistas, o principal culpado pela deterioração do saldo comercial e das nossas transações correntes com o resto do mundo. Entretanto, um conjunto de outros analistas vê nesse contexto a queda expressiva do ritmo de crescimento das exportações por conta da gradual perda de competitividade brasileira e do crescimento contido dos mercados globais. O quadro só não é pior, segundo esses mesmos analistas, porque os preços das commodities experimentaram altas significativas no passado recente, ou seja, a recuperação das commodities, a partir de 2012, assegurou o saldo extra de aproximadamente R$30 bilhões nas contas externas brasileiras somente naquele ano.
Assim, seguindo esse raciocínio, se houver uma desindustrialização em curso, esta decorre da alta de preço das commodities e da contínua melhora dos fundamentos brasileiros, o que reduz e melhora a posição relativa do Brasil para investidores externos e estimula a entrada em nossa economia de capitais. Parece consequência daquilo que os técnicos denominam de maldição dos recursos naturais, uma vez que temos vantagens competitivas na produção de commodities, cujo preço está em alta.
Nessa hora, é sempre importante lembrar uma entrevista dada pelo eminente professor Stanley Fischer, presidente do Banco Central de Israel. Perguntado recentemente como um governo pode garantir competitividade a seus setores produtivos num ambiente de abundância de capitais e forte valorização cambial, responde Stanley Fischer: “Israel também está enfrentando esse problema. Queremos uma economia forte com moeda fraca. E isso é muito complicado. Quanto mais robusta for a economia do Brasil, quanto mais for reconhecida por suas riquezas com gás e petróleo e tanta coisa, mais difícil será evitar a valorização cambial”.
Ainda tenho a firme convicção de que o crescimento das importações não é um mal em si mesmo quando abrimos o perfil das importações e chegamos à conclusão de que 85% do que o País está importando são bens intermediários, são máquinas e equipamentos, são insumos, é combustível para que possamos sustentar a manutenção do crescimento da economia brasileira. Assim, parte significativa da importação é complementar, e não substituta à produção nacional, porque não é incompatível, portanto, com a geração de emprego no País, pois viabiliza, a meu juízo, e de tantos técnicos e avalistas, a competitividade dos setores produtivos e exportadores.
A indagação que faço a V. Sª é a seguinte: como o Banco Central do Brasil tem interpretado a situação das importações e de seus reflexos sobre o saldo em transações correntes? Há preocupação com o ritmo de deterioração das contas externas brasileiras? Quais são os instrumentos de curto, médio e longo prazo para o fortalecimento e a competitividade das empresas brasileiras no comércio exterior? O protecionismo, por si só, é um caminho inevitável ou temos alternativas?
A segunda pergunta (...)
alternativas.
A terceira pergunta tem a ver com um questionamento que todos nós fazemos como brasileiros, como agentes políticos, representantes da sociedade, ou seja, estamos caminhando para, pelo menos, duas décadas de importantes conquistas macroeconômicas, conquistas no campo social, e continuamos devendo ao contribuinte brasileiro uma taxa de juros compatível, porque continuamos, em que pesem as conquistas nessas duas décadas, em que pese a solidariedade do povo brasileiro a esse esforço, ainda continuamos sendo campeões das taxas de juros no mundo.
A pergunta que faço a V. Sª: por que conseguimos rompe
Imagens: 
A apresentação de Tombini no Senado
A apresentação de Tombini no Senado
A apresentação de Tombini no Senado
A apresentação de Tombini no Senado
A apresentação de Tombini no Senado
A apresentação de Tombini no Senado

Nenhum voto