Política econômica: a inércia vencendo o futuro
Enviado por luisnassif, ter, 28/02/2012 - 09:04
Coluna Econômica - 28/02/2012
A política econômica brasileira atende a três públicos específicos: mercado, grandes multinacionais brasileiros, grandes fornecedores de serviços para o Estado (empreiteiras, concessionárias e setores que trabalham sob encomenda das grandes estatais).
Mas para onde irá essa poupança, sem que se criem as condições de competitividade no mercado interno?
Ao romper com a inércia no campo social, Lula mudou a fase da economia, abrindo espaço para a explosão do mercado interno.
Dilma poderia repetir o mesmo processo no campo econômico, rompendo com a inércia e colocando a competitividade interna no centro da política econômica.
Mas dificilmente arrostará com o pacto econômico atual, que inclui apenas mercado financeiro, grandes grupos nacionais e grandes fornecedores do Estado.
Para não se criar expectativas falsas sobre o governo Dilma Rousseff considere-se que:- No plano microeconômico significará um salto na gestão pública. As sucessivas medidas de transparência pública, de criação de indicadores de acompanhamento - inclusive online - representam um avanço inédito na máquina pública.
- Sem mudanças, no plano macroeconômico será um governo inercial, assim como foi o governo Lula, com alguns aprimoramentos pontuais na política fiscal - liberando mais recursos para investimentos - e na política monetária - com a ação corajosa do Banco Central de reduzir a taxa Selic. Mas apenas isso. Por prudência, não haverá ruptura com o modelo atual - o que é bom. Por excesso de cautela, porém, não se avançará no espaço aberto pela explosão do mercado interno de consumo.
O resultado será a entrega do mercado interno aos importados ou aos setores internos cartelizados.
É muito difícil aos governos romper com a realpolitik. E por tal entenda-se o atendimento preferencial das demandas dos setores politica e economicamente influentes. Pela própria dificuldade de governar, tende-se sempre a privilegiar as linhas de menor resistência.A política econômica brasileira atende a três públicos específicos: mercado, grandes multinacionais brasileiros, grandes fornecedores de serviços para o Estado (empreiteiras, concessionárias e setores que trabalham sob encomenda das grandes estatais).
Qualquer medida que esbarre em resistência de parte do grupo é paralisada; qualquer medida que não tenha o apoio explícito de parte do grupo não avança.
Por exemplo, a competitividade interna exige que a política monetária tenha como foco o crédito final para a economia. Para tanto teria que atuar firmemente para reduzir o spread bancário. Mas significaria arrumar atritos com bancos e comprometer a arrecadação fiscal. Então, não se avança.
Vive-se uma guerra cambial mundial e a emergência da China potência. A única providência do Ministro da Fazenda são discursos pela paz mundial e nem uma única medida eficaz para defender sua cidadela contra a invasão bárbara. Porque significaria abrir linhas de desgaste com o mercado.
O custo Brasil é cada vez mais alto, há um enorme conjunto de micro-reformas à espera de soluções, a burocracia para pequenas e médias empresas, a carga fiscal. Mas como não está no foco no arco de apoio, joga-se para segundo plano.
A queda da Selic, por si, está produzindo uma revolução no mercado. Em geral, pode-se dizer em dois grupos de influência: a confraria da Selic (os rentistas que vivem das apostas nos juros) e dos gestores de renda variável. A queda dos juros tornará o primeiro grupo definitivamente anacrônico e abrirá espaço para a grande reestruturação da poupança.Mas para onde irá essa poupança, sem que se criem as condições de competitividade no mercado interno?
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