.A simplificação do pensamento neoliberal
Enviado por luisnassif, dom, 08/01/2012 - 08:00
Por Jotaem
comentário ao post "Bresser-Pereira e os intelectuais platonistas"
Muito bom, com exceção, principalmente, do último parágrafo, com o qual discordo. Algumas ressalvas:
1. não sei se podemos incluir o Allais nessa corrente (penso em sua obra como economista), mas pode ser desconhecimento meu;
2. incluiria seguramente Hayek como a figura fundamental do neoliberalismo (como faz Foucault, em o Nascimento da Biopolítica) ;
3. a ideia de "uma ordem natural formada a partir da livres decisões individuais" parece-me bastante dúbia (uma simplificação enganadora), da ontologia social do pensamento liberal (dá a impressão de que a reflexão desses autores assenta-se sobre um princípio a-histórico a respeito da natureza humana; isso não me parece totalmente correto, nem em relação a velhos autores como Smith (e mesmo Hume, apesar do título de sua obra clássica), nem em relação a Hayek, embora pareça-me correto em relação aos primeiros utilitaristas, Bentham, etc.). Mas reconheço que é um ponto complicado, porque alguma tese a respeito da natureza humana está implícita na argumentação do pensamento liberal.
Na minha opinião, o ponto forte e importante do teu comentário é o trecho "não acreditam na autodisciplina espontânea do sistema". De fato, o neoliberalismo é fortemente intervencionista. Ao contrário dos "naturalistas", os neoliberais (pelo menos os mais sofisticados) não julgaram que ordem espontânea vai se impor espontaneamente, como consequência inevitável da natureza humana.
De um ponto de vista histórico, foi a ascensão dos totalitarismos de esquerda e direita nos anos vinte e trinta que colocou em cheque a ideia de autodisciplina. Como insistir num curso "natural" da história frente ao Stalinismo e ao Nazismo? Era necessário, então (e contraditoriamente, mas não necessariamente como contrafação, como você afirma), a intervenção do Estado, para defender e promover a instituições pró-mercado. A ordem "natural" deixava de ser "natural"; precisava ser imposta por meio do poder, vale dizer, pelo Estado.
E esse é o equívoco do críticos do neoliberalismo. Simplificam um pensamento altamente sofisticado (dele fazendo uma caricatura; Foucault, esse gênio, não o faz), e esquecem o "neo", o seu caráter intervencionista, que é fundamental para compreender o mundo atual.
Enviado por luisnassif, dom, 08/01/2012 - 08:00
Por Jotaem
comentário ao post "Bresser-Pereira e os intelectuais platonistas"
Muito bom, com exceção, principalmente, do último parágrafo, com o qual discordo. Algumas ressalvas:
1. não sei se podemos incluir o Allais nessa corrente (penso em sua obra como economista), mas pode ser desconhecimento meu;
2. incluiria seguramente Hayek como a figura fundamental do neoliberalismo (como faz Foucault, em o Nascimento da Biopolítica) ;
3. a ideia de "uma ordem natural formada a partir da livres decisões individuais" parece-me bastante dúbia (uma simplificação enganadora), da ontologia social do pensamento liberal (dá a impressão de que a reflexão desses autores assenta-se sobre um princípio a-histórico a respeito da natureza humana; isso não me parece totalmente correto, nem em relação a velhos autores como Smith (e mesmo Hume, apesar do título de sua obra clássica), nem em relação a Hayek, embora pareça-me correto em relação aos primeiros utilitaristas, Bentham, etc.). Mas reconheço que é um ponto complicado, porque alguma tese a respeito da natureza humana está implícita na argumentação do pensamento liberal.
Na minha opinião, o ponto forte e importante do teu comentário é o trecho "não acreditam na autodisciplina espontânea do sistema". De fato, o neoliberalismo é fortemente intervencionista. Ao contrário dos "naturalistas", os neoliberais (pelo menos os mais sofisticados) não julgaram que ordem espontânea vai se impor espontaneamente, como consequência inevitável da natureza humana.
De um ponto de vista histórico, foi a ascensão dos totalitarismos de esquerda e direita nos anos vinte e trinta que colocou em cheque a ideia de autodisciplina. Como insistir num curso "natural" da história frente ao Stalinismo e ao Nazismo? Era necessário, então (e contraditoriamente, mas não necessariamente como contrafação, como você afirma), a intervenção do Estado, para defender e promover a instituições pró-mercado. A ordem "natural" deixava de ser "natural"; precisava ser imposta por meio do poder, vale dizer, pelo Estado.
E esse é o equívoco do críticos do neoliberalismo. Simplificam um pensamento altamente sofisticado (dele fazendo uma caricatura; Foucault, esse gênio, não o faz), e esquecem o "neo", o seu caráter intervencionista, que é fundamental para compreender o mundo atual.
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