terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Pelo posto de Pelé, por Lúcio Ribeiro


Enviado por luisnassif, ter, 31/01/2012 - 16:00

Da Folha de S. Paulo



LÚCIO RIBEIRO



'Isto não é Pelé?'



Sobre o que esses caras estão falando, agora? Por que muita gente na Europa acha isso? Por que isso está na capa da "Time"?



Começando do começo. Em janeiro de 1972, fui pela primeira vez a um estádio. Era um Palmeiras e Santos no Parque Antarctica, amistoso, e meu pai me carregou "só" para ver o Pelé jogar.



O Palmeiras goleou, 4 a 0, e saí de lá gostando foi do César Maluco. Eu era muito pequeno e do jogo só me lembro na real de um gol de pênalti do César. De mais nada. Passei muitos anos duvidando da minha memória deste jogo, até que as facilidades da internet clarearam tudo.



p>O fato é que o jogo existiu mesmo, e o Pelé, ali, naquela partida de 1972, nem dois anos depois do tri no México, me decepcionou. Mas eu estava acordando para o futebol e depois vim a aprender sem discutir quem era o eterno rei do esporte que eu adotaria como parte importante da minha vida.



De lá para cá teve Cruyff, Zico, Maradona, Ronaldo. Supercraques maravilhosos, mas compará-los a Pelé sempre foi incabível. Tipo dizer que os Beatles não eram mais a maior banda de rock de todos os tempos quando apareceram o Clash, os Smiths, o Nirvana. Tipo dizer que tem refrigerante mais famoso que a Coca-Cola.



A gente sabe que americano, para o futebol jogado com os pés, é café-com-leite. Mas uma revista como a "Time" simplesmente ousar botar uma capa com Messi para circular na Europa, Ásia e Oceania dizendo que o argentino é o melhor do mundo e (aqui é que o bicho pega) "possibly of all time", é de coçar a cabeça.



Aí vem a "Sports Illustrated" com um ranking meio doido de melhores da história, montado por dez "especialistas", em que o Pelé ficou em quarto lugar. Messi é o número 1.



A "heresia" atual que destrona Pelé é curiosa. Uma coisa é argentino falar que o Maradona foi o melhor. Outra coisa é a "Time" cravar em capa esse questionamento em uma edição que roda o mundo. É o "probably" que incomoda.



Menos que discutir futebol de antigamente versus futebol de hoje. Menos que analisar o que o Pelé tinha feito aos 30 anos com o que o Messi já fez aos 24. Menos que ouvir histórias do Pelé num tempo em que "futebol quase não passava em TV" e ver as do Messi na superexposição televisiva.



O "probably" começou a ecoar. E essas coisas, se ecoam muito, começam a virar "definitely" com o passar dos anos. E a geração dos "Eu Vi o Pelé Jogar", exatamente anterior à minha, que viu mas não viu, começa a ter a voz abafada pelo tempo.



Que "probably" é esse, "Time"? Do que essas pessoas estão falando?



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