A consultoria da McKinsey para o governo

De O Estado de S. Paulo

Planalto dá aval a 'Casa Civil' paralela

Brasília, 27 - Uma das maiores consultorias empresariais do mundo, a McKinsey & Company, ganhou acesso a dados produzidos por ministérios, submeteu servidores da Presidência a questionários sobre desempenho e vem atuando desde outubro do ano passado sob um manto de sigilo em duas salas do Palácio do Planalto. Tanto poder concentrado rendeu aos ocupantes das salas 101 e 103 do Anexo do Planalto o apelido de "Casa Civil do B". O objetivo da consultoria, contratada por um grupo de empresários, é sugerir ferramentas de avaliação e monitoramento de políticas públicas.
A atuação dos dez consultores destacados pela McKinsey para o trabalho reflete o estilo e ritmo que a presidente Dilma Rousseff tenta impor ao Executivo federal, segundo fontes palacianas. Por ordem da titular do Planalto, além da estrutura normal da Casa Civil, está em gestação um sistema de monitoramento em tempo real dos programas prioritários do governo.
Mas as opções de Dilma não seguem o protocolo. A McKinsey não foi escolhida por concorrência pública, nem sequer aparece no Diário Oficial da União: a consultoria faz parte de um acordo de cooperação técnica da Casa Civil com o Movimento Brasil Competitivo (MBC).
O escopo do trabalho se choca com atribuições de órgãos do governo, como o Ministério do Planejamento e a Controladoria-Geral da União. Procurada, a McKinsey não se pronunciou. Segundo assessores, Dilma tenta, com a medida, aperfeiçoar a gestão do serviço público e tornar a atuação de gestores mais transparente, com acompanhamento online de obras e projetos.
Dados do Planejamento confirmam que em seu primeiro ano de governo a sucessora de Luiz Inácio Lula da Silva quase dobrou o gasto com consultorias externas, de R$ 593 milhões para R$ 1,2 bilhão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. (Iuri Dantas)

Dilma vê em projeto modernização do serviço público

Nos bastidores, no entanto, McKinsey & Company recebe críticas de servidores de carreira, diplomatas e até industriais 

Nos bastidores, a McKinsey & Company recebe críticas de servidores de carreira, diplomatas e até industriais que participam de reuniões com o governo federal devido ao acesso dos consultores a informações sensíveis, mas o trabalho tem respaldo da presidente Dilma Rousseff, que trata o projeto com a consultoria como uma necessidade do processo de modernização do serviço público.
No Palácio do Planalto, os funcionários da consultoria já apresentaram relatórios parciais, mas ainda não finalizaram as ferramentas de monitoramento para alguns programas de governo. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, as obras de infraestrutura previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no projeto habitacional Minha Casa, Minha Vida, as ações sociais do Brasil sem Miséria e alguns projetos dos ministérios da Saúde e da Educação serão os primeiros a contar com monitoramento em tempo real.
Fontes próximas a Dilma defendem a atuação da consultoria. Dizem que a McKinsey possui experiência e conhece boas práticas de gestão dos setores público e privado nacional e estrangeiros. Na Casa Civil haveria uma espécie de "muralha chinesa" separando os consultores da área que formula políticas públicas. Os consultores teriam acesso apenas a dados públicos e já divulgados pelo governo.
Núcleo. Os representantes da McKinsey envolvidos no projeto, por exemplo, fariam parte de um núcleo que trabalha apenas com governos, altamente profissional em relação a dados e informações da administração pública e exigências da presidente. Na semana passada, os consultores apresentaram uma versão preliminar do sistema de monitoramento. A intenção de Dilma é permitir à subsecretaria de Articulação e Monitoramento (SAM) da Casa Civil a fiscalização diuturna dos programas prioritários. Quando era titular da pasta, Dilma tinha na SAM a atual ministra do Planejamento, Miriam Belchior.
De acordo com uma fonte palaciana, a relação do governo com a consultoria lembra a de uma corrida. O Planalto define o modelo do carro, o trajeto, a velocidade e o destino final, enquanto a consultoria faz às vezes de velocímetro, informando ao condutor somente o ritmo de deslocamento.
Indicadores. Como a Casa Civil não pode reproduzir o trabalho de todos os ministérios, torna-se necessário criar indicadores de desempenho das políticas públicas, conforme esse raciocínio. Aí entraria a McKinsey, identificando que ações específicas indicam o andamento do projeto. Uma outra hipótese: o governo definiria uma meta de dobrar a produção de pescado. Para isso, construiria portos, capacitaria pescadores, ofereceria subsídio de combustível para os barcos e cortaria impostos das embarcações. A Casa Civil não precisaria acompanhar todas as ações. Com um programa de computador, a McKinsey monitoraria a meta física (obras), as exportações de peixe e consumo interno. / I.D.

Empresa está em 50 países

Considerada uma das maiores consultorias privadas do mundo, a McKinsey & Company possui escritórios no Rio e em São Paulo há décadas e já prestou serviço para governos estaduais, municipais e empresas. O nome dos clientes, como é praxe neste mercado, não vem a público, mas informações publicadas pela consultoria indicam que cerca de 600 entre as maiores empresas do mundo já pagaram pelos serviços da McKinsey. Ao todo, são 90 escritórios em 50 países. O Estado procurou a McKinsey na semana passada, mas não houve resposta.