As campanhas de Serra, Soninha e Chalita

De Valor Econômico
O fim de semana em São Paulo foi marcado pelas convenções que bateram bumbo pelas candidaturas de José Serra (PSDB), Gabriel Chalita (PMDB) e Soninha (PPS). Duas foram as novidades para as eleições que começam a tomar forma e sons, ainda que grudentos.
A festa do ex-governador já foi embalada pelo jingle da campanha, uma versão do hit sertanejo da dupla João Lucas e Marcelo. No lugar do "Eu quero tchu, eu quero tcha", os marqueteiros tiveram a ousadia de comparar o tucano a uma dança sensual: "Eu quero Serra, eu quero é já", propaga o jingle. Não é original, parece campanha de cidade do interior, mas, a depender do gosto popular, deve colar nos ouvidos do eleitorado.
O marketing de Serra copia música e até a logomarca - um grande S numa bola azul - lembra o ícone que simbolizou a gestão da Suécia à frente da presidência rotativa do conselho da União Europeia, em 2009. Não é boa estratégia para quem quer se livrar da pecha de candidato que representa o velho, enquanto os concorrentes tentam emplacar a imagem de novas opções.
Soninha, aliada do campo tucano, evitou se associar ao "tchu, tcha, tcha" do ex-governador, pelo menos na primeira rodada da eleição. Lançou sua candidatura na Câmara dos Vereadores, onde dançou ciranda ao som de tambores à la Olodum baiano, e falou de suas ideias para a cidade.
Quer pegar terrenos usados como estacionamento durante o dia, e ociosos à noite, e construir apartamentos que levem a população a deixar a periferia para morar na região central. Está na contramão das propostas de concorrentes como o deputado federal Paulinho da Força (PDT) e o ex-ministro Fernando Haddad (PT), calcadas na redução de imposto para empresas que se instalarem nas franjas da cidade. A ex-VJ da MTV não disse em que está baseada.
A segunda novidade trazida pelas convenções - além do festival de ruídos e da dança do lançamento de Serra e Soninha - é a nova postura de Gabriel Chalita. O pemedebista ampliou seu raio de ação, antes restrito a ataques à gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD), aliado de Serra. Aproveitou o evento e desandou a criticar Haddad, com quem tem acordo de apoio para o segundo turno. Mirou no uso da máquina pública pelo PT e na aliança com o PP de Paulo Maluf.
Chalita padece do mal de qualquer candidatura de centro nestas condições. A tradicional polarização na capital paulista entre PT e PSDB faz com que o deputado seja o típico candidato "squeezed". Ou seja, o perigo é ser esmagado tanto por uma candidatura que vem da esquerda (a de Haddad, com PT-PSB-PCdoB), quanto por outra, que vem da direita (a de Serra, com PSDB-PSD-DEM-PR-PV).
Foi o próprio destino do PMDB, antecipado pelos caciques do partido nas eleições presidenciais de 1989 e 1994, quando cristianizaram Ulisses Guimarães e Orestes Quércia e abriram caminho para a bipolaridade tucano-petista.
O pemedebista já está sendo apertado. Tem 6% e foi ultrapassado por Haddad, que subiu de 3% para 8% na última pesquisa Datafolha - Serra lidera, estável, com 30%.
Chalita é aquele que mais precisa pedir ao eleitorado que entoe, à moda dos vocativos em São Paulo e do ritmo sertanejo, eu quero o 'Cha'.