As medidas anticíclicas do governo, por Ilan Goldfajn
Enviado por luisnassif, seg, 25/06/2012 - 12:40
De Poder Econômico /
iG
Goldfajn: fator surpresa na economia afasta investidores
Ex-diretor do Banco Central e atual economista-chefe do
Itaú-Unibanco, Ilan Goldfajn reúne a experiência de quem esteve
no governo, está no mercado e tem um conhecimento acadêmico inquestionável (é
PHd no Massachusetts Institute of Technology). Nesta entrevista, por telefone,
ao Poder Econômico, Goldfajn elogia, com algumas ressalvas, as
medidas anticíclicas do governo. Mas alerta sobre um risco que a crise trouxe,
de novo, ao cenário brasileiro: o fator surpresa. Segundo ele, é isso que está
assustando o investidor estrangeiro. “Medidas de política econômica demandam
tempo de maturação”, diz. Ah sim, para quem gosta de projeções, Goldfajn arrisca
um crescimento do PIB de 2% em 2012 e a taxa básica de juros (Selic) em 7,5% em
dezembro. Eis nossa conversa:
Poder Econômico – Qual a sua opinião sobre o antigo debate, que virou novo, sobre estímulo ao consumo versus investimento?
Ilan Goldfajn – A economia está crescendo pouco, demorando a reagir, logo é preciso estímulo. Quanto mais, melhor. Estímulos de queda de juros, redução tributária são importantes. Defendo essa linha, com ressalvas à forma.
Poder Econômico – E a inflação?
Ilan Goldfajn – Já vi mais risco. Com a quantidade de estímulos adotados no início do ano, fiquei preocupado. Agora estou menos. A economia está reagindo em ritmo lento. É o resultado da combinação de dois fatores: internacional e interno. Os investidores estão segurando para ver como vai ser o comportamento da economia lá fora. Mas, mesmo com menos investimentos, o risco de inflação é baixo.
Poder Econômico – Com os estímulos, como analisa o risco fiscal?
Ilan Goldfajn – O governo está começando a expandir, mas não estou vendo os gastos explodirem este ano. Há controle dos gastos com funcionalismo – tanto que tem várias áreas em greve. Há estagnação dos gastos de Previdência. Então a expansão tem que continuar porque está sendo feita muito mais via corte de impostos. É uma política que eu recomendaria.
Poder Econômico – É mais do mesmo, então, como disse o Jim O´Neil?
Ilan Goldfajn – Não. Tem coisas que eu não faria. Há um excesso de intervenção no câmbio, por exemplo. A questão do IOF, de aumentar, reduzir, aumentar, reduzir. Essas medidas setoriais sou contra. Defendo as medidas horizontais, como redução dos juros. É tentar por aí estimular o investimento. Ainda não pegou, mas é por ai. A iniciativa privada está mais lenta na reação. O governo tem que tentar com investimentos próprios, embora tenha o desafio de entraves burocráticos, leis ambientais e tudo o que a gente sabe que protela o investimento do governo.
Poder Econômico – O capital estrangeiro perdeu a euforia com o Brasil?
Ilan Goldfajn – Todos nós que estamos sempre em contato e conversando com investidores estrangeiros temos sentido isso. Mas não são todos os investidores. Aquele que está chegando pela primeira vez ao Brasil, está investindo e sentindo algum retorno, não. Este mantém. Está aí a balança de pagamentos de maio registrando 3,7 bilhões de dólares. Este ok. Mas tem investidores que compram papéis, ações, este está mais reticente.
Poder Econômico – Qual a preocupação maior?
Ilan Goldfajn – Em resumo, eles estão achando que tem muita medida de frequência muito alta.
Poder Econômico – Traduzindo: interferência demais.
Ilan Goldfajn – Não diria assim. Não é a forma. São medidas que entram e saem de cena muito rápido. É o fator surpresa que incomoda esses investidores. Eles buscam a estabilidade. Há muito tempo não viam isso no Brasil e a reação à crise recolocou esse timing na política econômica. É a questão da velocidade.
Poder Econômico – Mas a reação não exige esse timing?
Ilan Goldfajn – Às vezes é uma boa forma de fazer. Por exemplo, acho ruim ano após ano aumentar gastos e depois cobri-los com aumento da arrecadação para todo mundo ficar feliz.
Poder Econômico – Essa era a nossa tradição.
Ilan Goldfajn – Há décadas. Esse é um governo pragmático, tem sensibilidade para perceber o que está ocorrendo no dia a dia. Tem objetivo de crescimento. Mas as medidas de política econômica demandam tempo de maturação. Não dá para reverter logo depois, mudar as regras tão rápido. Um lado positivo, porém, é que essa história de ampliar a arrecadação está fora do cenário. Acho que esse ano teremos um superávit primário menor, mas com arrecadação menor também e, espera-se, mais investimentos.
Poder Econômico – Qual a sua opinião sobre o antigo debate, que virou novo, sobre estímulo ao consumo versus investimento?
Ilan Goldfajn – A economia está crescendo pouco, demorando a reagir, logo é preciso estímulo. Quanto mais, melhor. Estímulos de queda de juros, redução tributária são importantes. Defendo essa linha, com ressalvas à forma.
Poder Econômico – E a inflação?
Ilan Goldfajn – Já vi mais risco. Com a quantidade de estímulos adotados no início do ano, fiquei preocupado. Agora estou menos. A economia está reagindo em ritmo lento. É o resultado da combinação de dois fatores: internacional e interno. Os investidores estão segurando para ver como vai ser o comportamento da economia lá fora. Mas, mesmo com menos investimentos, o risco de inflação é baixo.
Poder Econômico – Com os estímulos, como analisa o risco fiscal?
Ilan Goldfajn – O governo está começando a expandir, mas não estou vendo os gastos explodirem este ano. Há controle dos gastos com funcionalismo – tanto que tem várias áreas em greve. Há estagnação dos gastos de Previdência. Então a expansão tem que continuar porque está sendo feita muito mais via corte de impostos. É uma política que eu recomendaria.
Poder Econômico – É mais do mesmo, então, como disse o Jim O´Neil?
Ilan Goldfajn – Não. Tem coisas que eu não faria. Há um excesso de intervenção no câmbio, por exemplo. A questão do IOF, de aumentar, reduzir, aumentar, reduzir. Essas medidas setoriais sou contra. Defendo as medidas horizontais, como redução dos juros. É tentar por aí estimular o investimento. Ainda não pegou, mas é por ai. A iniciativa privada está mais lenta na reação. O governo tem que tentar com investimentos próprios, embora tenha o desafio de entraves burocráticos, leis ambientais e tudo o que a gente sabe que protela o investimento do governo.
Poder Econômico – O capital estrangeiro perdeu a euforia com o Brasil?
Ilan Goldfajn – Todos nós que estamos sempre em contato e conversando com investidores estrangeiros temos sentido isso. Mas não são todos os investidores. Aquele que está chegando pela primeira vez ao Brasil, está investindo e sentindo algum retorno, não. Este mantém. Está aí a balança de pagamentos de maio registrando 3,7 bilhões de dólares. Este ok. Mas tem investidores que compram papéis, ações, este está mais reticente.
Poder Econômico – Qual a preocupação maior?
Ilan Goldfajn – Em resumo, eles estão achando que tem muita medida de frequência muito alta.
Poder Econômico – Traduzindo: interferência demais.
Ilan Goldfajn – Não diria assim. Não é a forma. São medidas que entram e saem de cena muito rápido. É o fator surpresa que incomoda esses investidores. Eles buscam a estabilidade. Há muito tempo não viam isso no Brasil e a reação à crise recolocou esse timing na política econômica. É a questão da velocidade.
Poder Econômico – Mas a reação não exige esse timing?
Ilan Goldfajn – Às vezes é uma boa forma de fazer. Por exemplo, acho ruim ano após ano aumentar gastos e depois cobri-los com aumento da arrecadação para todo mundo ficar feliz.
Poder Econômico – Essa era a nossa tradição.
Ilan Goldfajn – Há décadas. Esse é um governo pragmático, tem sensibilidade para perceber o que está ocorrendo no dia a dia. Tem objetivo de crescimento. Mas as medidas de política econômica demandam tempo de maturação. Não dá para reverter logo depois, mudar as regras tão rápido. Um lado positivo, porém, é que essa história de ampliar a arrecadação está fora do cenário. Acho que esse ano teremos um superávit primário menor, mas com arrecadação menor também e, espera-se, mais investimentos.
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