Entre a legalidade e a legitimidade de instituições

Por SLeo
Comentário no post "Os interesses nas relações exteriores"
Um pouco de teoria: nas Relações Internacionais, é tradicional a disputa entre as visões "realistas" _ essas da realpolitik, que vêem o mundo como uma disputa de interesses nacionais, na qual os países com mais recursos de poder levam a melhor _ e as visões idealistas (que já frequentaram o cardápio americano), que defendem a ação internacional movida por valores e princípios, com cessão de soberania em prol do bem comum na sociedade internacional.
O que vemos, em geral é uma mescla desas visões na ação dos Estados, e, algumas vezes, visões realisats mascarando-se como idealistas (como o apoio americano a ditaduras na América Latina a pretexto de defesa da liberdade contra a ameaça comunista; ou todo o jogo de poder e pressões no Oriente Médio encharcado de petróleo _ e raras fontes de água) .
Nessa ação contra o golpe a Lugo, temos uma aparência idealista, mas me parece haver uma dose forte de realismo: afinal, o que está em jogo é o uso do poder de pressão dos países da região para interferir na soberania de outro país e vetar transições abruptas ou traumáticas de poder _ que ameaçariam uma volta aos tempos de golpes e convulsões políticas na América do Sul. Com a legalização do golpe pelo Legislativo e o Judiciário paraguaios, o Brasil e outros países da região, preocupados com o mau exemplo, questionam _ com razão _ a legitimidade da derrubada do presidente, fulminado em um processo relâmpago sem direito decente à defesa.
Difícil provar que um processo aprovado pelo Legislativo e pelo Judiciário não foi legal, a menos que se questione a legitimidade desses dois poderes. Esse questionamento até pode ser feito, mas aí já estamos entrando na política interna do país. O que, no caso, parece bastante justificável. Até desejável, a opinião de qualificados observadores internacionais.