terça-feira, 20 de dezembro de 2011

.A crise de moradia em Londres


Enviado por luisnassif, ter, 20/12/2011 - 10:31

Por wilson yoshio.blogspot

Do Terra



Londres: crise de moradia faz brasileiro dividir casa com até 10





Mellinger: o jeito é dividir a moradia com até outras dez pessoas



Foto: Ulisses Neto/Especial para o Terra



Ulisses Neto

Direto de Londres



Em meio a uma crise financeira que se agrava, os britânicos já consideram o período entre 2006 e 2016 como a 'década perdida'. Especialistas e até mesmo políticos locais não esperam uma recuperação significativa da economia no futuro próximo. Pelo contrário. As projeções indicam que a situação do Reino Unido deve se agravar nos próximos trimestres, e chegar ao fundo do poço em 2013.



p>E isso levando em conta o cenário menos pessimista, considerando que os países que adotaram o euro vão conseguir encontrar uma solução para salvar a moeda única. Mesmo sem fazer parte deste grupo, a Grã-Bretanha também se vê em situação delicada diante dos efeitos de uma eventual falência da chamada zona do euro.



"Estamos ficando sem superlativos para descrever o quanto essa situação é inédita", afirma Paul Johnson, diretor do IFS. "Certamente, não houve um período igual a esse no Reino Unido nos últimos 60 anos. Nossos dados sugerem que as famílias que ocupam a faixa média de rendimento vão ficar mais de dez anos anos sem nenhum crescimento real em seu padrão de vida".



Um dos maiores efeitos da crise econômica está sendo observado no setor imobiliário. O mercado de compra e venda na Inglaterra está paralisado nos últimos trimestres e os preços dos imóveis já acumulam depreciação de 3,2% só em 2011, segundo a Land Registry, autarquia responsável pelos registros imobiliários na região.



Até mesmo Londres, considerada o centro financeiro da Europa, tem sofrido com a estagnação dos negócios. Os preços das residências na cidade caíram 1,6% em outubro. Ainda assim, continuam extremamente elevados para o padrão de renda atual. Hoje, o valor médio de um imóvel em Londres é de 340 mil libras (cerca de R$ 950 mil), também de acordo com a Land Registry. A cifra praticamente inviabiliza novos negócios, considerando que os bancos britânicos passaram a ter análise de crédito muito mais rigorosa depois da crise de 2008. Além disso, as instituições financeiras começaram a exigir entrada de até 30% do valor da transação, algo que não ocorria há alguns anos.



Sem dinheiro nem financiamento para comprar, mais e mais moradores de Londres recorrem à locação. O resultado é uma pressão significativa neste mercado, que também vive a sua crise, só que de oferta. Com a demanda em alta, os donos de imóveis para alugar subiram os preços e passaram a fazer exigências pouco comuns aos seus futuros inquilinos, como inúmeras referências, nível universitário e até análise do currículo profissional. Na média, cinco pessoas chegam a disputar o mesmo imóvel para alugar na capital britânica. Os preços variam drasticamente de acordo com a região. Mas, mesmo nas áreas mais baratas, é difícil encontrar apartamentos de 1 dormitório por menos de 200 libras (cerca de R$ 560) por semana. Nos bairros mais centrais, esse valor chega até a quadruplicar.



R$ 2.700 por mês



A pesquisadora brasileira Elaine Canal viveu o drama de encontrar um apartamento para morar em Londres há poucas semanas. A doutoranda viveu em Madri durante seis anos e decidiu se mudar para a Inglaterra em setembro, depois que a situação econômica na Espanha também se agravou.



"Lá (em Madri) está muito ruim, terrível para todo mundo. Tanto para espanhóis, quanto para imigrantes", conta. "Decidi me mudar para Londres com a minha família por uma série de razões, além é claro, da crise. Acho que aqui será melhor para continuar meus estudos e também para que o meu filho tenha a oportunidade de aprimorar o inglês", diz a brasileira de Vitória, capital do Espírito Santo.



Elaine ficou um mês procurando apartamento. "Me dediquei exclusivamente para isso durante mais de quatro semanas e já estava quase desistindo de pesquisar. Os preços aqui são muito mais altos que na Espanha e os imóveis bem menores. Além disso, as imobiliárias fazem várias exigências e muitas não aceitaram o fato de ter uma criança em casa, sendo que o meu filho tem 13 anos", diz. Depois de muita negociação, a brasileira conseguiu um imóvel na região de Islington.



"A localização é ótima, a escola do bairro é excelente, estou bem perto do centro. O problema é que pago 975 libras por mês (cerca de R$ 2.700) em um studio minúsculo para morar com o meu filho e meu marido. Isso é muito mais do que eu poderia pagar, além de ser o dobro do meu antigo aluguel na Espanha", afirma a pesquisadora, que se viu sem alternativa senão optar pelo imóvel sem dormitórios.



No entanto, o caso de Elaine ainda é uma exceção. A maioria dos brasileiros que moram em Londres não tem condições de alugar um imóvel por conta própria. "A solução para grande parte da comunidade continua sendo dividir a casa com bastante gente. Alugar um quarto custa cerca de 80 libras por semana, com tudo incluído. Muito mais barato que um apartamento", explica Carlos Mellinger, presidente da Casa do Brasil, entidade que auxília imigrantes brasileiros no Reino Unido.



"Os brasileiros que planejavam alugar um apartamento estão desistindo porque nem mesmo os ingleses conseguem fazer isso em Londres atualmente. O jeito é dividir a moradia com até outras dez pessoas", afirma.



Segundo Mellinger, mesmo com a crise financeira e o bom momento no Brasil, o número de imigrantes na Inglaterra não para de crescer. "Só em Londres, acredito que já sejam mais de 260 mil brasileiros, embora não existam dados oficiais para comprovar isso. O que aconteceu é que muitos que estavam na Itália, Espanha, Portugal e Irlanda, países ainda mais afetados pela crise, decidiram mudar para cá em busca de novas oportunidades".



E, apesar do desemprego crescente, a mão de obra não qualificada ainda tem espaço no mercado britânico. "O brasileiro que chega aqui consegue emprego no mesmo dia, se quiser. O salário não mudou muito, varia entre seis e oito libras por hora", conta o especialista em imigração. Com essa renda, é difícil conseguir levar uma vida confortável em Londres. E enviar dinheiro de volta para casa também ficou ainda mais complicado, com a desvalorização do câmbio. "Em 2006, uma libra valia mais de cinco reais. Hoje, não passa de 2,80. O resultado é que os imigrantes têm que trabalhar mais e adiam o retorno para o Brasil em alguns anos".



A vida em Londres



Aluguel de 1 dormitório: menor preço 175 libras (Barnet) - maior preço 893 libras (Westminster) por semana

Passagem de ônibus: 1,30 libra

Litro da gasolina: 1,34 libra

Preço de um carro popular 0 km: a partir de 8.995,00 libras

Salário mínimo: 6,08 libras por hora



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