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Quem pensa encontrar no romance o relato de mais uma conquista feminina de Nicolas Sarkozy, marido da bela Carla Bruni, pode ficar decepcionado, mas não menos surpreso. A personagem do presidente francês tem todas as características de… Valéry Giscard d’Estaing, o autor do livro e membro da Academia Francesa de Letras. A história acontece nos anos 80, precisamente, no período em que VGE deixou o Palácio do Elysée, meses depois do casamento de Lady Diana com o príncipe Charles da Inglaterra, na época, já apaixonado pela atual mulher, Camilla Parker Bowles. As personagens tem exatamente as idades de VGE e Diana na época, 58 e 23 anos respectivamente. O autor descreve sua namorada assim: “Muito atraente, sempre nas primeiras páginas dos jornais e infeliz no amor.” E mais adiante: “Descobri que ela era uma gata, uma felina.”
A passagem que inicia a aventura acontece durante as comemorações do aniversário de 40 anos do Dia D, o desembarque das tropas aliadas nas praias da Normandia. O presidente Henri beija, literalmente, a mão da princesa Patrícia, colocada estrategicamente, como rege o jogo de sedução britânico antigo, sobre a mesa de um trem. Considerando que na reverência à francesa, o homem deve apenas se inclinar sem tocar com os lábios na pele feminina, o presidente começou ultrapassar as fronteiras ali. Mais para frente há um fim de semana em um castelo francês e diversos encontros em palácios republicanos e reais.
No entanto, a leitura do livro não deixa dúvidas que Giscard, de 83 anos, confunde desejos com realidade. O presidente francês do romance, por exemplo, foi reeleito. VGE queria muito ter sido. Uma manobra política do ex-presidente Jacques Chirac, “alta traição imperdoável”, segundo Giscard, barrou sua candidatura. A leitura do livro vale não pela eventual confluência com a verdade, mas pela habilidade e elegância que o narrador descreve os cenários. VGE disputou, nas páginas da prensa de corazon dos fins da década de 70, o título de galante conquistador das altas esferas com o ex-secretário de estado americano Henry Kissinger.
La Princesse et le Président alinha a prosa do ex-presidente com bons autores libertinos franceses que já não se fabricam mais. Raro ler nos romances franceses atuais linhas tecidas assim, “Eu ainda a escuto dizer em inglês. Não é minha memória que me faz lembrar, mas o timbre da sua voz: ‘I wish that you love me’ ” No mínimo, é uma delicada tentativa de ser lembrado como um igual. Alguem que desejou uma princesa apagando o presidente que colocou anel de diamante no dedo de um canibal, o ditador africano Jean-Bédel Bokassa. Isso só VGE fez.
Por Antonio Ribeiro
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