Um corte de cetim”
Por Xico Sá, inspirado em Folhetim.
Se o Paiva não me segura, essa história poderia ter sido bem mais trágica, embora eu só recorde, com alguma nitidez, do momento em que o palhaço adentrou o ambiente cantarolando uma marchinha ridícula:
Quem pintou o amor foi um ceguinho
mas não disse a cor que ele tem
Penso que só Deus dizer-nos vem
ensinando com carinho
a pura cor do querer bem…
[“Amar a uma só mulher”, Sinhô]
Braços dados com a inominável criatura, parecia caçoar das leis do cosmo.
Adentrou o botequim com aquele semirriso de galã da Sétimo Céu.
O perfeito canalha de fotonovela.
Quem via toda banca e moral era incapaz de saber os expedientes e o saldo negativo do sujeito. Pequenos golpes nas damas da noite, falsas rifas de instituições de caridade e obras completas, amigo, em se tratando de contos do vigário.
Fingia o rico de berço, mesmo sem um barão na carteira. Ao terceiro uísque era dono de meia Vieira Souto. Mais dois, incorporava a lagoa Rodrigo de Freitas, o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor… Tudo lavrado em cartório.
Delirante no último, viajou mais do que o Jorginho Guinle, embora a milhagem realista — esta, sim, de fazer inveja a Mr. Gulliver, Júlio Verne e todos os navegadores épicos — tenha sido rodada apenas nos trens da Central do Brasil, um ser eminentemente ferroviário e suburbano.
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