domingo, 25 de setembro de 2011

Luis fernando veríssimo

Feijoada completa”


Por Luis Fernando Verissimo, inspirado em Feijoada completa.



Carolina olha Pedro dormir. Está acordada há tempo. Tem dormido mal. Acorda várias vezes durante a noite. Está assim desde que tomou a decisão de deixar o Pedro. Não sabe como dizer que vai deixá-lo. Que não pode mais, que não aguenta, que chega.

— Pedro…

— Ahn.

Carolina não consegue ir adiante. Pedro está sorrindo. Dormindo e sorrindo. Até dormindo o filho da puta é simpático. Dizer o quê? “Pedro, acorda que eu quero te dizer uma coisa. Eu vou embora. Nosso casamento acabou, viu? Não deu certo. Ponto final. Agora pode voltar a dormir.”

Não. Melhor deixar para outro dia. Ou não dizer nada. Ir embora e pronto. Telefonar da casa da Milene, dizer pelo telefone. Isso. Sem precisar ver a cara dele, sem ele poder mexer com o cabelo dela e dizer “Carol, Carolzinha, o que é isso?” como sempre faz quando ela perde a paciência com ele. Com voz de injustiçado. Isso, melhor dizer pelo telefone. Sem remorso.

Não. Agora. Tem que ser agora.

— Pedro.

— Quê?

— Acorda.

Ele abre um olho.

— Que horas são?

— Não sei. Sete.

— Sete? Ó, Carol! Hoje é sábado!

É mesmo. Ela tinha esquecido. Sábado. Dia de acordar tarde. Dia do futebol dele. Dia de feijoada depois do futebol. Ela botara o feijão de molho na noite anterior, como fazia todas as sextas-feiras. Como podia ter esquecido? Era a falta de sono.

— Dorme, vai.

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