Estadão revela elos de Cachoeira com a revista Época
Enviado por luisnassif, qua, 09/05/2012 - 08:23
Por Geraldo
Reco
“Então, dá pra plantar isso aí? Os caras
fazerem a ligação com eles?”, questiona o empreiteiro. O araponga, então,
responde: “Dá. Se não der, a gente coloca na mídia, né? Que aí os caras se
interessam. Vou falar com aquele amigo lá da CGU”, diz Dadá".
Clique aqui para matéria da Agência Estado sobre o tema,
na época da denúncia. Clique aqui para ir à reportagem da Época, de Andrei Meirelles.
A
plantação de Dadá e a Revista Época
O Estadão
de hoje traz repostagem acerca de um suposto esquema de Cachoera na CGU. Mas o
mais interessante são os diálogos de Claudio Abreu, então na Delta, e Dadá,
aquele. A Polícia Federal tinha detonado a operação Voucher que envolveu o
Ministério do Turismo e prendeu pessoas em Brasília, São Paulo, Macapá e
Curitiba. Dentre elas estava Frederico Silva da Costa, então Secretário
Executivo do Ministério.
Cláudio
Abreu ao saber da prisão de Costa fala com Dadá para tentar estabeleer uma
ligação com uma concorrente, a Warre Engenharia que, segunda ele (Cláudio) foi
beneficiada por Costa numa obra no Parque Mutirama em Goiânia. Os diálogos do
Estadão:
“O
pessoal da Warre Engenharia é aqui da cidade. O dono dela é o Paulo Daher e o
filho dele, o Ricardo Daher. (...) Eles são amigos de infância. E esse cara que
foi preso aí (Frederico) arrumou dinheiro pra eles e direcionou as obras”,
explicou Abreu a Dadá.
“Então,
dá pra plantar isso aí? Os caras fazerem a ligação com eles?”, questiona o
empreiteiro. O araponga, então, responde: “Dá. Se não der, a gente coloca na
mídia, né? Que aí os caras se interessam. Vou falar com aquele amigo lá da CGU”,
diz Dadá.
O
Estadão menciona que dias depois uma "revista semanal semanal de grande
circulação" trouxe matéria estabelecendo a ligação desejada por Cléidio Abreu.
Pesquisei na internet e encontrei matéria da Revista Época na qual se percebe
nítidamente a "plantação".
Os
links e a matéria da Época estão abaixo.
O
Ministro entro na festa
As
investigações da PF sobre corrupção no Ministério do Turismo incluem uma obra
que recebeu milhões liberados por Pedro NovaisAndrei Meireles, Marcelo Rocha e
Murilo Ramos, com Leandro Loyola
TUDO DOMINADO
O ministro do Turismo, Pedro Novais. Abaixo, seu secretário executivo, Frederico Silva da Costa, algemado. Novais liberou dinheiro para obra de empresa de amigos de Costa
Há algum tempo não se via coisa parecida. Na semana passada, a
Polícia Federal (PF) prendeu 35 pessoas na Operação Voucher, suspeitas de
participar de desvio de recursos no Ministério do Turismo. Entre os presos está
o secretário executivo do ministério, Frederico Silva da Costa (leia o quadro). A investigação se
concentra em um convênio que liberou R$ 4 milhões para o Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi). No papel, o Ibrasi
deveria treinar pessoas no Amapá para trabalhar no setor turístico. Na
realidade, segundo a PF, o dinheiro foi desviado para empresas de fachada,
montadas por servidores, políticos e empresários. Nas investigações, surgiu
outro grande negócio com ingredientes para um novo escândalo. É comum que
conversas gravadas com autorização captem diversos assuntos tratados pelos
investigados. Foi assim que os policiais esbarraram no nome da empresa Warre
Engenharia, de Goiânia. Os desdobramentos podem criar problemas para o atual
ministro, Pedro Novais, do PMDB.

O ministro do Turismo, Pedro Novais. Abaixo, seu secretário executivo, Frederico Silva da Costa, algemado. Novais liberou dinheiro para obra de empresa de amigos de Costa

A
Warre foi contratada pela prefeitura de Goiânia para revitalizar o Parque
Mutirama, a principal área de lazer na área central da capital de Goiás. O
dinheiro para a obra – R$ 45 milhões – é do Programa Nacional de Desenvolvimento
do Turismo (Prodetur), que tem recursos do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) e é administrado pelo Ministério do Turismo. Na época em
que foi firmado o convênio entre prefeitura e ministério, Frederico Silva da
Costa era o responsável pelo Prodetur. A escolha da empresa Warre não foi uma
surpresa para o setor da construção civil em Goiás, segundo ÉPOCA ouviu de
empresários de Goiânia. Antes mesmo da realização da concorrência pública no
001/2010, executivos do mercado comentaram que a obra estava destinada à Warre.
Essas versões eram alimentadas por causa da relação de amizade entre as famílias
de Frederico Costa, o responsável pela liberação dos recursos, e dos empresários
Paulo Daher e Paulo Daher Filho, os donos da Warre.
Nove
empresas se inscreveram para participar da licitação para a reforma do Parque
Mutirama. Seis foram desclassificadas pela prefeitura. Das três que continuaram
na disputa, duas desistiram às vésperas da abertura de propostas. Sobrou apenas
a Warre. Denúncias feitas na Câmara Municipal de Goiânia pelo vereador Elias Vaz
(PSOL) fizeram com que o prefeito Paulo Garcia (PT) anunciasse o cancelamento da
concorrência e a abertura de uma nova licitação. Garcia sondou então o
Ministério do Turismo e soube que, se revogasse a licitação vencida pela Warre,
os recursos federais seriam suspensos. “A prefeitura recebeu um ofício do
Ministério do Turismo em novembro de 2010. O documento dizia que o recurso
estava liberado para a execução da obra e que, se ela não fosse iniciada até 31
de dezembro, o município perderia o dinheiro. Os recursos voltariam para o
Orçamento Geral da União”, diz Andrey Azeredo, secretário de Licitações da
prefeitura de Goiânia. “O ato de revogação da licitação do Mutirama foi até
confeccionado. Mas, por problemas internos, o ato não foi publicado e ficou sem
validade.”
O
prefeito de Goiânia iria revogar a licitação, mas desistiu depois de aviso do
Ministério do Turismo
Como
a revogação não foi publicada, o contrato com a Warre Engenharia foi firmado. O
Ministério Público Federal entrou no caso. Para os procuradores, tudo leva a
crer que a licitação foi um jogo de cartas marcadas. Em janeiro, o procurador da
República Marcello Santiago Wolff considerou ter indícios suficientes para abrir
um inquérito para apurar fraude na concorrência. Mesmo depois de o Ministério
Público ter oficialmente informado o Ministério do Turismo sobre a investigação,
o ministro Pedro Novais foi a Goiânia no final de abril. Novais participou de
uma solenidade festiva em que anunciou a liberação dos “primeiros R$ 10 milhões”
para as obras. Novais sabia das irregularidades. “Houve realmente alguns
questionamentos, mas que já foram solucionados”, afirmou Novais, em
discurso.
Segundo
o Ministério Público, não há nada solucionado no caso. Na semana passada, a
pedido dos procuradores, a Polícia Federal também abriu inquérito para
investigar irregularidades na licitação para as obras no Mutirama. O empresário
Paulo Daher, dono da Warre, afirmou que são “infundadas” as alegações do
Ministério Público Federal. Daher enviou uma nota técnica da prefeitura de
Goiânia, na qual se baseia para alegar que a licitação foi legal. Daher não quis
comentar sua relação pessoal com Frederico Silva da Costa. Em resposta a ÉPOCA,
o ministro Novais disse que, por causa das investigações do Ministério Público,
passará a ser mais “cauteloso” nos repasses de dinheiro para a obra do Parque
Mutirama. Ele disse também que se confundiu na hora de anunciar os recursos
liberados em Goiânia. Novais diz que ele mesmo só autorizou a liberação de R$ 4
milhões.
Em
janeiro, ÉPOCA já mostrara que Costa era uma fonte potencial de grandes
problemas para o governo Dilma. Um dos motivos era sua gestão à frente do
Prodetur. Com Frederico no comando, o governo de Goiás teve acesso a R$ 13
milhões do programa e construiu uma rodovia que favoreceu o acesso ao Rio Quente
Resorts, na região de Rio Quente, um dos principais pontos turísticos de Goiás.
Outro programa do ministério, o Fundo Geral de Turismo, também concedeu um
financiamento ao Rio Quente Resorts. Seria uma operação legítima, se o resort
não pertencesse à família de Costa. Além da suspeita de dar uma força aos
negócios da família com dinheiro de todos os brasileiros, Costa também é alvo de
outra investigação. Ele, o pai e o irmão são acusados de desvio de recursos
públicos da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) nos anos
1990. Seus bens estão bloqueados pela Justiça por causa da investigação. Apesar
dos fatos desabonadores para sua nomeação para o segundo cargo no Ministério do
Turismo, Costa foi mantido no governo por pressão do PMDB, acolhida pelo então
chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.

À esqueda, o Parque Mutirama. No detalhe, o ministro Pedro Novais na festa em que anunciou a liberação de verbas para a revitalização do parque. A licitação foi dirigida, diz o MP
Na
semana passada, as investigações da PF mostraram que Frederico Silva da Costa
não atuou apenas em Goiás. Segundo a PF, Costa, na prática o verdadeiro ministro
da pasta, foi fundamental para a liberação de verbas para o Ibrasi. Tudo começou
com uma emenda ao Orçamento proposta pela deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP), que
destinou R$ 4 milhões para o treinamento de trabalhadores no setor turístico no
Amapá. A PF afirma que Costa atuou não só para liberar a emenda de Fátima, como
garantiu o escoamento do dinheiro dos cofres públicos para entidades fajutas. Em
uma das gravações captadas pela Polícia Federal, Costa ensina o empresário Fábio
Mello a montar uma entidade de fachada para receber o dinheiro liberado pelo
ministério – e que seria desviado depois. “O importante é a fachada e tem de ser
uma coisa moderna, que inspira confiança em relação ao tamanho das coisas que
vocês estão fazendo”, diz Costa. “Pega um negócio aí para chamar a atenção,
assim, de porte, por três meses. Mas é para ontem! Que, se alguém aparecer para
tirar uma foto lá nos próximos dias, as chances são altas!”
Dono
da Conectur, que recebeu dinheiro público pelo Ibrasi e deveria treinar
trabalhadores, o petista Errolflynn Paixão disse, em depoimento à PF, que seu
sócio na empresa “chegou a dizer que o dinheiro seria devolvido à deputada (Fátima Pelaes)”. Secretário
nacional de Desenvolvimento do Turismo até a semana passada, o ex-deputado
federal Colbert Martins (PMDB-BA) foi preso porque assinou a liberação da verba
com base em um documento falso. Em um diálogo com sua chefe de gabinete, captado
pela polícia, Colbert demonstra preocupação com a emenda de Fátima Pelaes, pois
ela seria de interesse do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). “E tem de
ver aquela obra lá do Amapá, aquela lá da Fátima Pelaes, daquela confusão do
mundo todo, que é de interesse do Sarney. Tá certo?”, diz Colbert. “Que se
cancelar aquilo, aquilo tá na bica de cancelamento, enfim algumas que eu sei de
cabeça, assim. Cancela aquela, pega Sarney pela proa, vai ser mais confusão
ainda, o.k.?” A deputada Fátima Pelaes nega as acusações.

Colbert
e Frederico Silva da Costa têm algo em comum – além de ambos trabalharem no
mesmo ministério, terem tratado da emenda de Fátima Pelaes e terem sido presos
na semana passada. Eles chegaram a seus cargos indicados por Francisco Bruzzi,
assessor da liderança do PMDB na Câmara dos Deputados. Bruzzi trabalha em uma
sala minúscula, com espaço apenas para sua mesa e de sua secretária. Economista
de 62 anos, com longa carreira em cargos públicos no Executivo e no Legislativo,
Bruzzi é chefe de gabinete do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN). Ele é
especialista nos trâmites do Orçamento Geral da União. Pelas mãos de Bruzzi,
passam as sugestões de gastos do PMDB que ultrapassam R$ 1 bilhão por ano.
Sugestões de Bruzzi para os ministérios do Turismo e da Agricultura foram
acolhidas pelo PMDB e transformadas em atos publicados no Diário Oficial.
A
aproximação de Bruzzi com
Frederico Silva da Costa foi motivada pelo interesse comum pelas emendas
parlamentares. Ao receber os repórteres de ÉPOCA em sua sala, na semana passada,
Bruzzi disse que, de tanto tratar de emendas com o então secretário de
Infraestrutura do Ministério do Turismo, o partido achou que promover Costa a
secretário executivo seria uma boa opção para atender aos anseios do PMDB na
gestão do ministro Pedro Novais. “Ele (Frederico) sempre atendeu com eficiência às demandas do
PMDB e às solicitações da liderança do PMDB”, afirma Bruzzi. Ele convenceu o
então líder Henrique Eduardo Alves a bancar a indicação de Costa para a função.
Costa prestava contas a Bruzzi do que se passava no ministério. Apesar de ser o
número dois da pasta, Costa se deslocava até a pequena sala de Bruzzi na Câmara.
“O líder chama sempre os secretários executivos aqui. ‘Vem cá, que tem um
deputado aqui querendo resolver um problema.’ E (o secretário executivo) vem. O ministério não é do partido? Então,
vem”, afirma Bruzzi.

O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves. Ele indicou a cúpula do Ministério do Turismo e quis que o partido deixasse o governo, depois da operação da PF
A
operação da Polícia Federal da semana passada causou problemas entre o PT e o
PMDB. Os líderes do PMDB se revoltaram não só com a prisão de Colbert Martins,
mas com o fato de ele ter sido algemado. Eles reclamaram à presidente Dilma
Rousseff. De acordo com assessores próximos, Dilma teria sido surpreendida pela
operação, deflagrada na última terça-feira. Pouco depois das 8 horas da manhã,
Dilma mandou chamar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e perguntou o
que era a Operação Voucher. Desde 2008, a Polícia Federal estava comedida não só
no número, como na maneira de conduzir suas operações. Àquela altura do dia,
Cardozo sabia pouco e Colbert Martins já havia sido preso em São Paulo, enquanto
esperava pelo ministro Pedro Novais. O carro com Novais passaria para pegá-lo e
os dois iriam ao aeroporto de Congonhas e voariam para Brasília. Ao ser avisado
da prisão, Novais voltou para o hotel.
Por
volta das 11 horas, Dilma soube que o ex-ministro do Turismo Luiz Barreto estava
no P’alácio para uma solenidade. Barreto era o ministro em 2009, quando o
convênio com o Ibrasi foi celebrado e um de seus principais colaboradores era
Frederico Silva da Costa. Dilma mandou chamar Barreto e o interrogou. Como tinha
de ir à solenidade, Dilma repassou então a tarefa de interrogar Barreto ao
ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Ao meio-dia, o
deputado Henrique Eduardo Alves convocou a bancada de deputados do PMDB na
Câmara para receber o vice-presidente, Michel Temer. Na versão que chegou ao
Palácio do Planalto, Alves defendeu a saída do ministro do Turismo, Pedro
Novais, e o afastamento de políticos indicados pelo PMDB. O risco de um racha no
governo foi contornado porque Dilma ligou para Temer e avisou que a operação
nada tinha a ver com o ministro Pedro Novais. A pedido de Dilma, a
ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, também telefonou para Novais.
Mantido no cargo, Novais poderá agora explicar a liberação do dinheiro público
para a reforma do Parque Mutirama, em Goiânia, cercada de suspeitas.
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