A imprensa para Oscar WildeEnviado por luisnassif, dom, 06/05/2012 - 11:45
Por Fernando
Grassi
Trecho do livro A Alma do Homem Sob o Socialismo, de OSCAR WILDE (...) Foi um dia fatal aquele em que o público descobriu que a pena é mais poderosa que as pedras da rua, e que seu uso pode tornar-se tão agressivo quanto o apadrejamento. Procurou imediatamente pelo jornalista, o encontrou e aperfeiçoou, e fez dele seu servo diligente e bem pago. É de lamentar por ambos. Atrás das barricadas, muito pode haver de nobre e heróico. Mas o que há por trás de um artigo de fundo senão preconceito, estupidez, hipocrisia e disparates? E esses quatro elementos, quando reunidos, adquirem uma força assustadora e constituem a nova autoridade. Antigamente, os homens tinham a roda de torturas. Hoje tem a imprensa. Isso certamente é um progresso. Mas ainda é má, injusta e desmoralizante. Alguém - teria sido Burke? - chamou o Jornalismo de o quarto poder. Isso na época sem dúvida era verdade. Mas hoje ele é realmente o único poder. Devorou os outros três. Os Lordes temporais nada dizem, os Lordes espirituais nada tem a dizer, e a Câmara dos Comuns nada tem a dizer e o diz. Estamos dominados pelo Jornalismo. Nos Estados Unidos o Presidente reina por quatro anos e o Jornalismo governa para todo o sempre. Felizmente, nesse país, o Jornalismo levou sua autoridade ao extremo mais flagrante e brutal e, como decorrência lógica, começou a gerar um espírito de revolta: ou diverte ou aborrece as pessoas, conforme seu temperamento. Mas deixou de ser a força real que era. Não é levado a sério. Na Inglaterra, o Jornalismo, com exceção de alguns poucos exemplos bem conhecidos, não tendo atingido estes excessos de brutalidade, permanece ainda um fator de grande significado, um poder realmente notável. Parece-me descomunal a tirania que ele se propõe exercer sobre nossas vidas privadas. O fato é que o público tem uma curiosidade insaciável de conhecer tudo, exceto o que é digno de se conhecer. O Jornalismo, ciente disso, e com vezos de comerciante, satisfaz suas exigências. Em séculos passados, o público expunha as orelhas dos jornalistas no pelourinho. O que era horrível. Neste século, os jornalistas ficam de orelha em pé atrás das portas. O que é ainda pior. O mal é que os jornalistas mais culpados não estão entre aqueles que escrevem para o que se chama de coluna social. O dano é causado pelos jornalista sisudos, graves e circunspectos que trarão, solenemente, como hoje trazem, para diante dos olhos do público, algum incidente na vida privada de um grande estadista, de um homem que é assim um lider do pensamento político como criador de força política. Convidarão o público a discutir o incidente, a exercer autoridade no assunto, a externar seus pontos de vista, e não somente a externá-los, mas a colocá-los em ação, a impô-los àquele homem sobre todos os outros argumentos, a impor ao partido e à nação dele; convidarão, enfim, o público a se tornar ridículo, agressivo e perigoso. A vida particular dos homens ou das mulheres não deveria ser revelada ao público. Este não tem nada absolutamente nada a ver com ela. .... Na França há um controle maior nesses assuntos. Lá não se permite que pormenores dos julgamentos que se realizam nos tribunais de divórcio sejam divulgados para entreterimento ou crítica do público. Tudo que se lhe permite saber é que houve o divórcio e que foi concedido a pedido de uma ou outra parte envolvida, ou de ambas. Na França, com efeito, limitam o jornalista, e concedem ao artista quase que completa liberdade. Aqui, concedemos liberdade absoluta ao jornalista e limitamos inteiramente o artista. A opinião pública inglesa, por assim dizer, procura tolher, cercear e submeter o homem que cria o Belo efetivamente, e compele o jornalista a recontar o factualmente feio, desagradável ou repulsivo; de modo que temos os mais sisudos jornalistas do mundo e os jornais mais indecentes. Não há exagero em se falar em compulsão. Há positivamente jornalistas que têm verdadeiro prazer em publicar coisas horríveis, ou que, por serem pobres, vêem nos escândalos uma fonte permanente de renda. Mas não tenho dúvidas de que há outros jornalistas, homens de boa formação e cultura, a quem realmente desagrada publicar esse tipo de assunto, homens que sabem ser errado agir assim e, se assim agem, é apenas porque as condições doentias em que exercem sua profissão os obriga a atender o público no que o público quer, e a concorrer com outros jornalistas para que esse atendimento satisfaça o mais plenamente possível o grosseiro apetite popular. É uma posição muito degradante para ser ocupada por qualquer desses homens, e não há dúvida de que a maioria deles percebe isso sensivelmente.” (OSCAR WILDE, A Alma do Homem Sob o Socialismo, págs. 57/59, LP&M, 2003).
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Comentários + votados
1 - Assis Ribeiro
06/05/2012 -
11:57
Quarto poder, Oscar Wilde,
ligação imprensa e poder, Assis Chateaubriand, Globo, Veja. Quanto tempo mais
iremos ter as nossas cabeças "lavadas". Liberdade de imprensa só com vários
veículos com o...
2 - Eduardo Ramos
06/05/2012 -
12:44
Arrogância, soberba,
vaidade, tirania ideológica. Ontem e hoje... Só o advento internet tem o poder
de acabar com esse monopólio cruel.
3 - Marcia
06/05/2012 -
12:17
Oscar Wilde foi uma
vítima da imprensa, inversão de valores, acabou preso o escritor. A
Inglaterra sempre se superando.
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domingo, 6 de maio de 2012
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Quanto tempo mais iremos ter as nossas cabeças "lavadas".
Liberdade de imprensa só com vários veículos com o mesmo peso, como é a internet.
Fora isso, ou submissão ou regulamentação.
...Ver mais
A Inglaterra sempre se superando.
...Ver mais
...Ver mais aceitos pela imprensa.
Junte-se a isso tudo as previsões da nossa imprensa, que consegue errar em todas as críticas sobre as ações administrativas dos governos Lula-Dilma e acho que esta na hora desta insituição fazer uma auto-critica. É muito erro.
Funciona assim: ..."Nosso sistema de comunicação de massas, como Wolin escreveu, “bloqueia, elimina o que quer que proponha qualificação, ambiguidade ou diálogo, qualquer coisa que enfraqueça ou complique a sua criação, a sua completa capacidade de influenciar”.
O resultado é um sistema monocromático de informação. Cortejadores das celebridades, mascarados de jornalistas, experts e especialistas, identificam nossos problemas e pacientemente explicam seus parâmetros. Todos os que argumentam fora dos parâmetros são desprezados como chatos irrelevantes, extremistas ou membros da extrema esquerda.
Críticos sociais prescientes, como Ralph Nader e Noam Chomsky, são banidos. Opiniões aceitáveis cabem, mas apenas de A a B. A cultura, sob a tutela dos cortesã
...Ver mais os corporativos, se torna, como Huxley notou, um mundo de conformismo festivo, de otimismo sem fim e fatal."...
http://assisprocura.blogspot.com.br/p/orwell-estava-certo-huxley-tambem....
"Há duas épocas na vida, Infância e velhice, em que a felicidade consiste em não cagar nas calças."
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"O jornal O Globo tem uma coluninha do segundo caderno que sempre traz uma notícia estampada nas páginas do jornal há exatos 50 anos.
“POLÍCIA PRONTA PARA O ROCK AND ROLL (O Globo, em 07/11/1956)
Telegramas de Londres, Paris, Lisboa e outras grandes capitais nos dão conta da estranha acolhida que vêm merecendo por parte do público as músicas que caracterizam o novo ritmo originário dos Estados Unidos, o rock-and-roll. A música, segundo os telegramas, parece endoidecer os jovens, que se atiram às mais grotescas extravagâncias ao som da cadência alucinante. Seu lançamento coincide, sempre, com a exibição do filme ‘Rock-around-
...Ver mais the-clock’, e as sessões cinematográficas têm terminado geralmente em baderna, com os espectadores depredando as salas de projeção e promovendo depois, na rua, autênticos shows de dança bamboleante e frenética.
No Brasil, onde a música já foi lançada por diversas emissoras, não parece ter transformado assim o espírito dos adolescentes. Há, no entanto, ao que se noticia, uma ameaça: um grupo de playboys e teenagers cariocas estaria planejando uma demonstração de conseqüências imprevisíveis. É claro que seria uma coisa puramente artificial, se preparada. Pelo seu caráter de evidente demonstração de desprezo aos bons costumes e pela perturbação que poderá causar à ordem pública, essa possibilidade já alertou as nossas autoridades, conforme ouvimos do delegado substituto de Costumes e Diversões, Sr. Clértan Arantes, que nos informou haver tomado conhecimento da ameaça, tendo determinado que se exerça uma vigilância especial com relação ao assunto.
— Eu aconselharia aos pais dos jovens que se têm deixado transtornar pela música em questão a levá-los ao médico psiquiatra, pois alguma coisa está errada em suas mentes. No que diz respeito ao cumprimento da Lei, no entanto, é ponto pacífico: a ordem será mantida — disse o delegado.”
http://assisprocura.blogspot.com.br/2011/05/imprensa-contra-o-rock.html
"Neste século, os jornalistas ficam de orelha em pé atrás das portas. "
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Tatu Bola http://www.advivo.com.br/user/3084
O Repórter D http://www.advivo.com.br/usuario/o-reporter-d
Spin http://www.josecarloslima.blogspot.com
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