A ligação de Murdoch e Cameron
Enviado por luisnassif, sex, 11/05/2012 - 09:35
Por zanuja castelo
branco
De Carta Maior
Jornalista expõe vínculos entre grupo Murdoch e governo de David Cameron
O depoimento do jornalista Andy Coulson perante a Comissão Leveson, que investiga a relação entre os meios de comunicação e o mundo político britânico, desnudou nesta quinta-feira os vínculos entre o grupo multimidiático Murdoch e o governo do primeiro ministro David Cameron. O ex-chefe de imprensa de Cameron e ex-editor da extinta publicação sensacionalista “News of the World” expôs conflitos de interesse que mostram que governo foi, no mínimo, negligente. O artigo é de Marcelo Justo.
Marcelo Justo - De Londres
Londres - A Comissão Leveson, que investiga a
relação entre os meios de comunicação e o mundo político britânico, desnudou
nesta quinta-feira os vínculos entre o grupo multimidiático Murdoch e o primeiro
ministro David Cameron. O ex-chefe de imprensa de Cameron e o ex-editor da
extinta publicação dominical sensacionalista “News of the World”, Andy Coulson,
reconheceu ante a Comissão que tinha cerca de 70 mil dólares em ações na
companhia dos Murdoch, News International, e que assistiu a reuniões dos
organismos máximos de segurança do governo, sem se submeter à checagem de
segurança estabelecida para os funcionários de alto nível. “Nunca me perguntaram
se eu tinha ações e como eu sabia que não estava envolvido em nenhuma atividade
comercial, nem na oferta pela BSkyB, nunca me ocorreu que poderia haver aí um
conflito de interesse”, justificou-se Coulson.
O conflito de interesse era óbvio. Em junho de 2010, um mês
depois de formada a coalizão conservadora-liberal democrata, o grupo Murdoch,
que controlava 39,1% das ações da BSkiB, realizou uma oferta pelo resto do
pacote acionário da cadeia televisiva.
A oferta gerou uma intensa polêmica pelo impacto que podia trazer
sobre a liberdade de imprensa e obrigou o governo a pedir a intervenção da
agência regulador dos meios de comunicação, OFCOM. Naquele momento, Coulson era
responsável pela elaboração da agenda midiática governamental. Segundo as regras
ministeriais, Coulson deveria ter informado ao secretário de gabinete Gus
O’Donnel sobre seu vínculo com a News Corp, mas o fato de não fazê-lo não é um
mero problema individual. O governo, que tem uma série de códigos e mecanismos
para intervir nestes temas, aparece, no mínimo, como negligente.
A Comissão Leveson encontrou uma segunda instância em que não se
aplicou a Coulson o rigoroso sistema de verificação pessoal e financeira ao qual
são submetidos todos os funcionários de alto nível governamental antes que
assumam seus postos. Coulson reconheceu ante a Comissão que teve acesso a
segredos de estado durante o período em que trabalhou como chefe de imprensa de
Cameron. Os ministros e funcionários com acesso a este tipo de informação têm
que ser autorizados por um sistema interno de checagem que procura esclarecer se
tem algum “esqueleto no armário”, seja em nível ideológico, de conexões
suspeitas ou que os torne passíveis de extorsão. Até o momento, Downing Street
(residência oficial do governo) insistia que Coulson tinha recebido o nível
apropriado de autorização para seu cargo.
Segundo o próprio Coulson admitiu à Comissão nesta quinta, ele
tinha na verdade, um nível muito mais baixo e genérico que o requerido para ter
acesso a operações antiterroristas ou a segredos militares sobre o
Afeganistão.
Esse relaxamento é mais surpreendente se se leva em conta sua
história prévia. O hoje ex-chefe de imprensa de Cameron renunciou como editor do
“News of the World” em 2007, logo depois de a justiça ter condenado um
jornalista e um detetive privado que trabalhavam para a publicação dominical,
por sua participação no escândalo das escutas telefônicas. Como editor de um
jornal que se caracterizou durante anos por expor a roupa suja ou trivialidades
da monarquia, dos políticos, artistas e celebridades, Coulson tinha
potencialmente vários “esqueletos no armário”. Apesar disso, foi nomeado por
Cameron logo depois de sua renúncia como chefe de imprensa do Partido
Conservador.
Em seu testemunho ante a Comissão, Coulson negou que isso tenha
tido algum vínculo com a política da News Corp que, até então, apoiava o Novo
Trabalhismo, mas que dois anos depois de sua nomeação declarou seu apoio a
Cameron. É difícil determinar se, neste momento, Coulson era representante de
Murdoch ante Cameron ou de Cameron ante Murdcoh, mas se suspeita que, por seus
contatos com a New Corp era, no mínimo, uma peça essencial para azeitar os vasos
comunicantes entre ambos. Suas declarações abrem cada vez mais interrogações
sobre o primeiro ministro que, nesta sexta-feira, ficará exposto outra vez
quando Rebekah Brooks, ex-executiva da News International, o braço britânico da
News Corp, comparecerá ante a Comissão.
Tradução: Katarina Peixoto
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