Os juros e a Febraban

Coluna Econômica - 10/05/2012
Há uma certa confusão quando se trata o sistema financeiro como algo homogêneo.
Dentro do sistema financeiro, mesmo dentro dos conglomerados, há interesses diversos, às vezes convergente, às vezes divergente.
Grosso modo, pode-se dividir o mercado em relação ao tipo de ativos com que se trabalha.
Até fins de agosto de 2011, o grupo mais influente era o que trabalhava com renda fixa, a chamada Confraria da Selic. Seu papel era prever os movimentos do Banco Central com os juros, muito mais do que os movimentos da economia. Fazem parte dessa confraria consultorias, departamentos econômicos de bancos comerciais e de investimento e tesourarias.
Sua influência decorria, principalmente, dos enormes ganhos proporcionados pelas apostas em torno da Selic. E do acesso que tinham ao Banco Central, uma ampla promiscuidade que atingiu seu auge no período Henrique Meirelles. O BC cometia o supino abuso de montar reuniões fechadas com a confraria poucos dias antes das reuniões do Copom.
A influência da confraria estendia-se para a mídia financeira, como principais pauteiros do jornalismo econômico.
O espaço que detinham nos bancos comerciais era em função dos ganhos de Tesouraria, como ferramentas de marketing junto aos clientes e à opinião pública e também devido à sua visibilidade na mídia.
Criou-se um mundo maluco, em que o BC falava com o economista-chefe do banco comercial, mas não falava com o presidente ou com o vice-presidente de atacado e varejo - que possuíam uma visão da economia real muito mais ampla que seus economistas.
A influência desse grupo terminou no histórico embate de fins de agosto de 2011, quando o BC baixou a Selic, infligiu pesados prejuízos aos clientes da Confraria. A reação foi uma saraivada de previsões catastróficas que não se concretizaram.
Enquanto o reinado da Confraria começava a declinar, um outro grupo de analistas - muito mais sofisticados - começa a tomar posição. São os analistas setoriais, os especialistas em empresas e setores que, doravante, comandarão a reciclagem da poupança para a renda variável. Para estes, interessa juros baixos.
Da parte dos bancos comerciais, sua atividade-fim sempre foi o crédito. Daqui para diante, seu crescimento dependerá do crescimento do mercado de crédito, da sua massificação permitindo ganhos de escala e minimização de riscos.
É por aí que se entende o conflito entre a presidente da República e a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos Comerciais), supervalorizado pela mídia.
O economista-chefe da entidade criticou a decisão do Banco Central de induzir à queda dos juros e do spread. Pode ter expressado algum descontentamento localizado de associados. Mas falou como membro da seleta Confraria, não da Febraban.
Antes desse movimento de queda dos juros, houve um trabalho da Fazenda junto aos bancos, explicando a importância de redução de juros e de spread e os ganhos que adviriam para todos – inclusive os bancos – com a criação de um mercado de crédito mais saudável e massificado.
Portanto, o puxão de orelha no economista-chefe da Febraban não resultou de uma pressão de Dilma. Foi da própria Febraban, pelo fato do sapateiro ter ido além das chinelas.