O Greenpeace, os alimentos e os biocombustíveis

Por Jorge Nogueira Rebolla
Do Vermelhos Não
O quê temos para jantar: o greenpeace e a agricultura 
Um post no site do greenpeace.org aborda a fome crônica que atinge cerca de 15% dos seres humanos. Levantando as suas possíveis causas. Logo no início resume a combinação fatal: a união de políticas más, economia ruim e agricultura nociva. Fica muito chato o bad, bad, bad...
Como estes três pontos são apresentados?
Primeiro a má política. Segundo o autor, dr. julian oram, ela é o fracasso dos governos em defender o direito dos povos à alimentação. Cita pequenos agricultores e indígenas expulsos de suas casas e propriedades por não terem garantido o direito aos meios de subsistência: terra, água e sementes. No mundo inteiro, nos últimos anos, reduziram-se os eventos deste tipo. Ainda ocorrerem casos isolados em alguns países, infelizmente na África o problema ainda é grave. Como em Uganda no ano passado. 22.500 pessoas foram despejadas sem consentimento ou reparação para que a empresa new forests company - NFC  cultive madeira "ecologicamente correta", com certificação da sgs, que é uma das grandes parceiras do wwf para programas de produção com baixa emissão de carbono em todo o mundo. A denúncia contra a nfc e a sgs é de outra ong, sócio-ambientalista, a oxfam. No texto não é citado nenhum caso específico, talvez por isto.
Outra face da má política é a utilização dos alimentos como arma. O autor cita o caso da coréia do norte. Ora, um país que em poucos anos desenvolveu um programa nuclear bélico, lança mísseis com milhares de quilômetros de alcance e se orgulha de possuir o maior efetivo militar proporcional do mundo, mais de 5% da população, pode ser qualquer coisa, menos vítima indefesa de uma má política que utiliza alimentos como armas para obter concessões. A coréia do norte é vítima da incompetência do próprio governo em produzir alimentos. Prioriza as armas para se manter no poder. É meio desinformado neste assunto ou mentiroso este tal de dr. julian oram.
A economia ruim é o oligopólio do setor agrícola mundial. A excessiva concentração de mercado nas mãos de poucas empresas. Tanto na produção dos insumos, como na comercialização da produção e na sua distribuição. Isto é verdade em parte, inclusive para os pequenos produtores, visto que aqueles que não cultivam commodities agrícolas (soja, cana, milho, trigo, café, etc.) não estão atrelados a estes grandes grupos na venda da safra. As cotações são locais e os "atravessadores" pulverizados. O que é a regra para os minifúndios em grande parte do mundo. Porém esta concentração na distribuição é benéfica para o consumidor urbano. Visto que com a logística necessária para os grandes volumes destinados ao atendimento das grandes cidades a perda de escala seria uma fator de elevação dos custos e preços. O próprio texto deixa claro que a grande fome está nos campos. De cerca de um bilhão de famintos oitocentos milhões são pequenos produtores ou trabalhadores rurais. Justamente os que estão fora do sistema "moderno" do comércio de alimentos.
A solução do autor é a substituição da agricultura atual mecanizada e industrial pela orgânica que seria mais saudável (lembrem-se dos melões e pepinos orgânicos nos eua e na alemanha) e aumentaria a renda dos produtores. Faz até um chiste: alimentos ecologicamente cultivados que permitem aos agricultores e trabalhadores rurais uma renda melhor é mais caro, enquanto os que danificam o planeta e prejudicam as pessoas custam mais. É muito fácil falar quando 20%, 30%  e em alguns casos até mais de aumento no preço dos alimentos não o deixa em insegurança alimentar. Para qualquer dúvida basta comparar os preços em estabelecimentos que vendem produtos tradicionais e orgânicos. Grande parte dos trabalhadores não possui renda para suportar este diferencial.
Chegamos a agricultura nociva. Segundo ele no momento em que a humanidade se esforça para alimentar 7 bilhões de pessoas a agricultura ruim está pressionado como nunca os recursos naturais do planeta. O aumento da monocultura com a utilização intensiva de insumos químicos leva a solos degradados, diminuição da fertilidade e o suprimento de água doce desaparecendo (aqui temos um Pilatos no credo). Os produtores cada vez mais são levados a utilizarem insumos caros para manterem a produtividade. Para os pequenos esta espiral leva ao endividamento, pobreza e fome.
Não notaram a falta de nada? Onde estão os biocombustíveis? O etanol, o biodiesel e demais combustíveis verdes? Para a produção de cana, soja, palma e outras matérias primas são utilizadas cada vez mais terras e demais recursos. A concorrência entre a alimentação humana e a dos veículos eleva as cotações e agrava o problema da fome. Qual será o motivo deste providencial esquecimento? O volume de milho destinado aos carros nos eua já supera o destinado às pessoas e aos animais (ração). E cada vez mais os países aumentam as suas metas de adição deles na gasolina e no diesel para reduzirem a emissão de CO2. Isto porém não interessa ao greenpeace. A velha manipulação dos especialistas em agitação e propaganda.