As celebridades engajadas


Por Paulo F.

Da Radio Nederland Wereldomroep

George Clooney testemunhando no senado norte-americano que o governo sudanês está atacando civis desarmados. Angelina Jolie na tribuna do Tribunal Penal Internacional (TPI) ao ser pronunciado seu primeiro veredicto – contra o ex-líder de milícias congolês Thomas Lubanga. E claro, P Diddy, Rihanna e Oprah Winfrey tuitando o líder rebelde ugandense Joseph Kony para a estratosfera das redes sociais com o vídeo ‘Kony2012’.

O promotor do TPI, Luiz Moreno Ocampo, e a atriz norte-americana Angelina Jolie


r /> ....Qual a relação de celebridades com crimes de guerra? Elas merecem as críticas que recebem ou será que genuinamente ajudam a chamar atenção para conflitos pouco conhecidos?

“Sim, é uma regra geral”, diz Charlie Kaye, produtor executivo de rádio para a rede norte-americana CBS. Segundo ele, o foco de George Clooney no Sudão do Sul é o melhor exemplo da força das estrelas. “Forçou as emissoras a falar de temas que normalmente não receberiam nenhum tempo na mídia.”

Fotogênico
É exatamente o tipo de publicidade que as estrelas atraem que faz com que ONGs disputem seu apoio. “Clooney diz que, quando viaja, as câmeras o acompanham, que ele não pode escapar das câmeras. Mas muitas das pessoas que mais precisam de atenção, não importa o que façam, não conseguem nenhuma atenção da mídia”, diz Jonathan Hutson, diretor de comunicação do Enough Project, apoiado por Clooney. (O projeto tem como objetivo acabar com o genocídio e crimes contra a humanidade.)

“Então, a ideia dele é simplesmente ir a lugares onde as pessoas estão sofrendo violações dos direitos humanos e arrastar câmeras e microfones junto”, diz Hutson.

Assento VIP
Quando Angelina Jolie apareceu na tribuna do TPI para ouvir o primeiro veredicto contra o ex-líder de milícias congolês Thomas Lubanga, sua presença foi criticada por alguns observadores por tirar a atenção das vítimas dos crimes de Lubanga. Mas o porta-voz do TPI, Fadi El Abdallah, defendeu a presença da atriz. “Se ajuda a dar mais atenção às vítimas e crimes, não há razão para ser contra.”

O promotor do TPI, Luis Moreno Ocampo, é um defensor do apoio de celebridades para seu tribunal. Além de várias aparições públicas com Jolie, Moreno Ocampo aparece no vídeo ‘Kony2012’ – uma ação que ele apoia e que, Segundo ele, “mobilizou o mundo”.

Twitter
Joseph Kony é procurado pelo TPI por crimes contra a humanidade por usar crianças-soldado em sua guerrilha em Uganda, o Exército de Resistência do Senhor. Até hoje, o vídeo ‘Kony2012’, realizado pela ONG Invisible Children, foi clicado 85 milhões de vezes no YouTube, apesar das críticas que tem recebido sobre a não precisão da informação e modo de financiamento. Mas, preciso ou não, o impacto do vídeo – em grande parte iniciado pelos tweets de celebridades – é incontestável. Depois da repercussão no YouTube e no Twitter, diz Charlie Kaye, da CBS, as emissoras não tinham outra opção a não ser cobrir a história. “O Twitter está ajudando a pautar a mídia hoje em dia”, afirma Kaye. “Há um equilíbrio delicado entre o que as pessoas precisam saber e o que elas querem saber, e as celebridades entram nas notícias que elas querem saber.”

Diamantes e tribunais
Um exemplo é o caso da modelo Naomi Campbell. Relutante em aparecer no tribunal, ela foi intimada a testemunhar no julgamento do ex-presidente da Libéria, Charles Taylor, por supostamente ter recebido dele diamantes de sangue. Embora ela alegue que não sabia o que eram as “pedras de aparência suja”, sua aparição no tribunal (para contradizer o testemunho do próprio Taylor, que diz nunca ter possuído diamantes brutos, apenas jóias) trouxe consigo hordas de jornalistas e caminhões para transmissão ao vivo via satélite. Deu ao julgamento uma atenção sem precedentes, ainda que por apenas alguns dias no verão de 2010. E os jornalistas convenientemente permaneceram para as testemunhas seguintes – a atriz Mia Farrow e a ex-agente de Campbell, Carole White, que contradisseram o testemunho de Campbell.

Bom o suficiente 
Lisa Ann Richey, autora do livro “Brand Aid: compre bem para salvar o mundo”, diz que o envolvimento de estrelas em causas ou casos jurídicos pode, sim, ter um impacto amplo. “Talvez pessoas que não sabiam nada sobre a África ou sobre a história do Sudão possam, pelo fato de serem atraídas por George Clooney, começar a olhar com mais atenção e se informar sobre estas causas.”

Mesmo que os motivos das celebridades às vezes sejam suspeitos, no fim, talvez não faça diferença. Pessoas fazem coisas certas por motivos errados o tempo todo. E talvez às vezes isso seja bom o suficiente