Só queda de juro não segura câmbio, diz Barbosa
Enviado por luisnassif, qua, 28/03/2012 - 14:33
Por Assis Ribeiro
Austrália é exemplo de que só queda de juro não segura câmbio, diz Nelson Barbosa
Em palestra para especialistas em macroeconomia estrangeiros e brasileiros na FGV, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda alertou que a variação da moeda da Austrália – o dólar australiano – frente ao dólar dos Estados Unidos segue mês a mês a mesma curva de apreciação e depreciação do real, apesar de conviver com uma taxa de juro oficial equivalente a menos da metade da cobrada no Brasil. Nelson Barbosa defende que a selic continue baixando, mas propõe outras medidas para conter o câmbio.
p class="headline-link">Marcel Gomes
São Paulo – Mesmo com uma taxa de juro oficial que equivale a menos da metade da cobrada no Brasil, desde 2006 a variação da moeda da Austrália – o dólar australiano – frente ao dólar dos Estados Unidos segue mês a mês a mesma curva de apreciação e depreciação do real.
Esse é apenas um dos sinais em que se baseia o governo brasileiro para concluir que apenas a queda da selic, hoje em 9,75%, não evitará a valorização do real, fonte de prejuízos à indústria do país.O exemplo australiano foi apresentado na última sexta-feira (23) pelo secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, em palestra para economistas especializados em macroeconomia na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.
Segundo Barbosa, analistas que atuam no mercado financeiro estimam que a sobrevalorização do real chegue hoje a 20%. Isso significa que se o preço do papel representasse o valor real de produtos e serviços “made in Brazil”, ele atingiria em torno de R$ 2,15 por dólar, e não os R$ 1,80 registrados atualmente.
Não que os altos juros brasileiros deixem de influenciar o câmbio. O secretário-executivo da Fazenda avalia que “desde o início da política de câmbio flutuante, o real tende a se apreciar quando não há choques domésticos ou internacionais”.
Mas estudos econométricos e o próprio exemplo australiano indicam que atacar o juro alto não basta. Barbosa levanta três hipóteses para o atual ciclo de apreciação cambial, que, segundo ele, iniciou-se em 2006.
- Redução do “risco Brasil” atrai dólares de investidores estrangeiros. As reservas internacionais, que podem ser usadas em eventual turbulência, não alcançavam US$ 50 bilhões em 2001, e hoje passam de US$ 350 bilhões.
- Valorização dos preços das commodities exportadas pelo Brasil não só ajuda a atrair mais dólares de investidores estrangeiros, como sinaliza que o país pode “sustentar uma moeda mais valorizada”.
- A elevação da renda per capita dos brasileiros eleva os preços dos produtos no país, sobretudo no setor de serviços, o que influencia preços relativos e gera apreciação cambial.
Diante dessas hipóteses, Barbosa afirma que os contextos econômicos externo e interno pressionam pela valorização do real no curto prazo, gerando volatilidade no médio prazo.
Qual a solução?
Além de continuar a reduzir a taxa selic, Barbosa defende a manutenção da flutuação cambial – “facilita o ajuste da economia quando há choques estrangeiros e domésticos” –, intervenções pontuais no câmbio, com compra de dólares pelo BC e “regulação do fluxo do capital”, além de incentivos fiscais e financeiros ao setor industrial.
“Mesmo que a apreciação cambial seja temporária, ela pode durar tempo suficiente para causar efeitos permanentes no desenvolvimento da economia”, alerta o secretário-executivo do ministério. “E o crescimento do setor industrial é crucial para o país”.
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