As alianças entre classe trabalhadora e “camadas médias"
Enviado por luisnassif, sab, 26/05/2012 - 15:00
Por Assis
Ribeiro
Por Alain Gresh, no Diplomatique
No mundo colonizado pouco antes da Primeira Guerra Mundial, o debate sobre as alianças entre a classe trabalhadora e as “camadas médias” não seguia as mesmas lógicas que na Europa do século XIX. A classe trabalhadora era praticamente inexistente nesse momento, e o socialismo, embrionário. Os movimentos de resistência à ocupação estrangeira eram dirigidos por quadros religiosos ou tradicionais. Estes últimos eram denunciados na Europa – e pelos socialistas – como “feudais” ou “reacionários”, hostis ao progresso e à “civilização”.
.....A Primeira Guerra Mundial e a Revolução Bolchevique de 1917 mudaram esse cenário. Sediado em Baku, em setembro de 1920, o 1º Congresso dos Povos do Oriente reuniu mais de 2 mil delegados: árabes e curdos, turcos e indianos, persas e chineses. “Ainda não temos o distanciamento necessário para assimilar a amplitude dos eventos históricos dos quais participamos. [...] Os povos que até hoje eram considerados pelo capitalismo tropas de bestas, os povos ditos ‘inferiores’, sobre os quais a burguesia estava tranquila, certa de que não sairiam do torpor, se rebelaram”, explicava então o dirigente comunista Grigori Zinoviev. As palavras de ordem da Internacional Comunista (IC) naquele momento eram “Proletários de todo o mundo, uni-vos!”.
A tradução concreta dessas palavras, porém, não podia ser literal, pois o peso numérico dos trabalhadores permanecia baixo no mundo colonizado. Mas era necessário que os comunistas se aliassem a Mustapha Kemal, o dirigente turco que questionou o Tratado de Versalhes? O Partido Comunista chinês deveria ter feito acordos com o Kuomintang nacionalista? Era preciso fazer aliança com a burguesia nacional contra o imperialismo e denunciar seus compromissos? Cada vez mais alinhado com a estratégia estatal de Moscou, a IC hesitava, tergiversava, muitas vezes recorrendo a manobras espetaculares.
Após a Segunda Guerra Mundial, na maior parte dos países que ainda não estavam sob o termo guarda-chuva “terceiro mundo”, foi a luta anticolonial, mais que a questão social, que estruturou o debate sobre as alianças políticas e uniu a esmagadora maioria da população. Em alguns casos – Vietnã, Indochina, China –, os comunistas tomaram as rédeas do movimento anticolonial, dando à independência um conteúdo social fundado essencialmente na reforma agrária para atender às necessidades dos camponeses pobres, na educação e na saúde. Na Índia e na Indonésia, foi a burguesia que dirigiu o movimento de libertação nacional, enquanto os comunistas permaneciam como força secundária, às vezes reprimida. Em outros lugares, como a Argélia e o Egito, forças nacionais (fortemente anticomunistas) reivindicaram a revolução e se apoiaram no Exército, tomaram o poder e empreenderam profundas reformas, notadamente no que se refere à recuperação das riquezas nacionais e à ampliação dos serviços de educação e saúde.
Meio século após as independências, e apesar do crescimento de países como o Brasil ou a África do Sul, as estruturas sociais dos países do antigo Sul se parecem muito pouco com a “clássica” estrutura do Reino Unido da segunda metade do século XIX, descrita por Karl Marx. A classe trabalhadora permanece minoritária, o trabalho informal domina, as camadas médias são mais numerosas, porém mais pauperizadas, enquanto os setores rurais continuam a representar metade da população, apesar da urbanização acelerada. Ademais, esses países, atualmente integrados ao mercado mundial capitalista de forma sólida, estão mais dependentes que na década de 1970. Nesse contexto, que alianças permitirão afrouxar as amarras dos mercados e definir um projeto social mais igualitário? Ainda não há resposta para essa questão.
Alain Gresh é jornalista, do coletivo de redação de Le Monde Diplomatique (edição francesa).
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