O desafio de transformar o etanol em commodityEnviado por luisnassif, qui, 24/05/2012 - 16:08Indústria da cana faz esforços para internacionalizar etanol
Por João Paulo Caldeira, no Brasilianas.org
Da Agência Dinheiro Vivo
Através de escritórios internacionais, produtores de cana-de-açúcar
tentam firmar etanol no mercado internacional. Apesar de recentes políticas
públicas de incentivo ao uso de biocombustíveis, as exportações brasileiras
ainda são baixas e sofrem com barreiras.
Eduardo Leão, diretor-executivo da UNICA (União da Indústria de
Cana-de-Açúcar), falou sobre os esforços e dificuldades na internacionalização
do etanol brasileiro, em sua palestra no 23º Fórum de Debates Brasilianas.org,
realizado na última semana pela Agência Dinheiro Vivo e que debateu os desafios
do agronegócio brasileiro.
Representando 146 usinas de cana-de-açúcar no país, a UNICA é uma
associação voluntária das indústrias do setor, que responde por quase 60% da
produção brasileira de açúcar e etanol. No Brasil, o setor sucroalcooleiro tem
430 plantas industriais, controladas por 200 grupos, cerca de 70 mil
fornecedores independentes de matéria-prima e com geração de 1 milhão e 300 mil
empregos diretos (considerando indústria e agricultura). Sua receita anual é
superior a R$ 50 bilhões, e, na safra 2010/2011, o Brasil produziu 27,6 bilhões
de litros de etanol.
Além dos escritórios no Brasil (em São Paulo, Brasília e Ribeirão
Preto - regiões produtoras), a associação também tem dois escritórios no
exterior: um em Washigton, nos Estados Unidos, e outro em Bruxelas, na
Bélgica.
Eduardo Leão explicitou alguns dos motivos pelos quais outros países
tem procurado incentivar a utilização de combustíveis renováveis. Um deles é a
questão do meio ambiente, já que o transporte, hoje, representa a maior fonte de
emissões de CO2 na atmosfera. Outra questão, também importante, é a da segurança
energética. Ao contrário do petróleo, que tem sua produção limitada a poucos
países, existem mais de 100 nações que tem plantações de cana-de-açúcar e que
podem produzir etanol, diminuindo a dependência em relação aos produtores de
petróleo.
Leão ressaltou que, apesar destes motivadores, a utilização de
biocombustíveis ainda precisa ser incentivada através de políticas públicas.
“Diferente de commodities como alimentos e minérios, que, ao acontecer um
aumento da expansão da renda, há um crescimento natural no consumo, no caso dos
biocombustíveis, via de regra, é necessário alguma política pública que induza a
esse consumo.”
A legislação norte-americana, chamada de Renewable Fuel Standard,
estabelece como meta que o país esteja consumindo 136 bilhões de litros de
etanol em 2022, o que corresponde a 6 vezes o consumo brasileiro atual. Além
disso, a lei diferencia os tipos de etanol pela sua capacidade de reduzir as
emissões de gases do efeito estufa. O biocombustível feito através do milho,
produzido nos EUA, considerado menos eficiente no combate às emissões, terá um
teto de 57 bilhões de litros anuais. A partir daí, entram o etanol de canal e o
celulósico, classificados como superior ao de milho.
A União Europeia também tem uma legislação no mesmo sentido, que diz
que, até 2020, toda a matriz de transporte, nos 27 países que compõem o bloco,
deverão estar consumindo 10% de combustíveis renováveis. “Fazendo uma simulação,
isso representa, no caso do etanol, uma perspectiva de consumo de quase 15
bilhões de litros”.
Leão acredita em uma demanda de 150 bilhões de litros para a próxima
década, e de maneira crescente, “o que permite que nos adequemos a esta
expansão”, afirmou.
Apesar dos crescentes programas de incentivo, a exportação brasileira
de etanol ainda é baixa, principalmente em razão de barreiras tarifárias. “A
produção e a demanda são crescentes, mas a exportação ainda é muito
tímida”.
Segundo o diretor da UNICA, há 4 ou 5 anos a exportação enfrentava
dois tipo de barreiras: as tarifárias e as não tarifárias. Os Estados Unidos
detinham uma tarifa de 14 centavos de dólar por litro para a importação do
biocombustível brasileiro, e a União Europeia uma taxa ainda maior, de 19
centavos de euro por litro. Já as barreiras não tarifárias, segundo ele,
tentavam dificultar as importações por meio de “mitos e inverdades sobre o
setor”. Como exemplo, controvérsias em relação a metodologia utilizada para
calcular as emissões evitadas pelo etanol de cana-de-açúcar, critérios de
sustentabilidade extremamente subjetivos, e também a proliferação de mecanismos
de certificação, muitas vezes arbitrários, com critérios diferentes para cada
país. Na opinião de Eduardo, “isso limita qualquer forma de exportação, porque,
por exemplo, se você vai exportar para a Holanda existem determinados critérios,
para a França existem outros”. O trabalho da associação era de procurar uma
convergência destes critérios.
Em 2008, com o apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações
e Investimentos (Apex), a UNICA começa a montar uma estratégia de acesso aos
mercados internacionais, inicando com a instalação de escritórios em Washington
e Bruxelas. Estes escritórios servem como base para estruturar ações de abertura
de mercados e de trabalho junto à opinião pública e aos formuladores de
políticas.
Algumas dessas ações foram a criação de um símbolo, o Sugarcane
Ethanol, “para fixar a ideia não só do etanol brasileiro, mas do etanol de
cana-de-açúcar”, segundo Leão, e a elaboração de estudos que pudessem fornecer
informações objetivas para esclarecer determinados pontos controversos a
respeito da cana-de-açúcar.
Com as metas de eliminar as barreiras, influenciar as legislações das
regiões para que se aumentasse a mistura de etanol na gasolina e de promover a
imagem do etanol brasileiro, foi feita uma forte estratégia de comunicação, que
incluía folders explicativos, um site voltado ao público estrangeiro (sugarcane.org) e vídeos institucionais para as
redes sociais. Outras ações importantes foram o fornecimento de combustível aos
carros da Fórmula Indy e uma promoção, em alguns postos de gasolina de
Washington, de descontar o valor da tarifa (45 centavos de dólar por galão) para
o consumidor.
Eduardo Leão acredita que o mercado deverá se expandir devido à
demanda e à adoção de políticas públicas. Também espera que o mercado se torne
commoditizado. “A exemplo do programa norte-americano, a implantação de outros
programas de biocombustíveis deve mudar o paradigma e permitir que os produtores
mais eficientes do ponto de vista ambiental tenham mais acesso e mais benefícios
nestes mercados, e as perspectivas de exportação do etanol para os EUA e Europa
são parâmetros que o setor deve levar em conta em seus planos de investimento”,
concluiu.
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quinta-feira, 24 de maio de 2012
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