O desafio de transformar o etanol em commodity

Indústria da cana faz esforços para internacionalizar etanol

Por João Paulo Caldeira, no Brasilianas.org
Da Agência Dinheiro Vivo 
Através de escritórios internacionais, produtores de cana-de-açúcar tentam firmar etanol no mercado internacional. Apesar de recentes políticas públicas de incentivo ao uso de biocombustíveis, as exportações brasileiras ainda são baixas e sofrem com barreiras.
Eduardo Leão, diretor-executivo da UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), falou sobre os esforços e dificuldades na internacionalização do etanol brasileiro, em sua palestra no 23º Fórum de Debates Brasilianas.org, realizado na última semana pela Agência Dinheiro Vivo e que debateu os desafios do agronegócio brasileiro.
Representando 146 usinas de cana-de-açúcar no país, a UNICA é uma associação voluntária das indústrias do setor, que responde por quase 60% da produção brasileira de açúcar e etanol.  No Brasil, o setor sucroalcooleiro tem 430 plantas industriais, controladas por 200 grupos, cerca de 70 mil fornecedores independentes de matéria-prima e com geração de 1 milhão e 300 mil empregos diretos (considerando indústria e agricultura). Sua receita anual é superior a R$ 50 bilhões, e, na safra 2010/2011, o Brasil produziu 27,6 bilhões de litros de etanol.
Além dos escritórios no Brasil (em São Paulo, Brasília e Ribeirão Preto - regiões produtoras), a associação também tem dois escritórios no exterior: um em Washigton, nos Estados Unidos, e outro em Bruxelas, na Bélgica.
Eduardo Leão explicitou alguns dos motivos pelos quais outros países tem procurado incentivar a utilização de combustíveis renováveis. Um deles é a questão do meio ambiente, já que o transporte, hoje, representa a maior fonte de emissões de CO2 na atmosfera. Outra questão, também importante, é a da segurança energética. Ao contrário do petróleo, que tem sua produção limitada a poucos países, existem mais de 100 nações que tem plantações de cana-de-açúcar e que podem produzir etanol, diminuindo a dependência em relação aos produtores de petróleo.
Leão ressaltou que, apesar destes motivadores, a utilização de biocombustíveis ainda precisa ser incentivada através de políticas públicas. “Diferente de commodities como alimentos e minérios, que, ao acontecer um aumento da expansão da renda, há um crescimento natural no consumo, no caso dos biocombustíveis, via de regra, é necessário alguma política pública que induza a esse consumo.”
A legislação norte-americana, chamada de Renewable Fuel Standard, estabelece como meta que o país esteja consumindo 136 bilhões de litros de etanol em 2022, o que corresponde a 6 vezes o consumo brasileiro atual. Além disso, a lei diferencia os tipos de etanol pela sua capacidade de reduzir as emissões de gases do efeito estufa. O biocombustível feito através do milho, produzido nos EUA, considerado menos eficiente no combate às emissões, terá um teto de 57 bilhões de litros anuais. A partir daí, entram o etanol de canal e o celulósico, classificados como superior ao de milho.
A União Europeia também tem uma legislação no mesmo sentido, que diz que, até 2020, toda a matriz de transporte, nos 27 países que compõem o bloco, deverão estar consumindo 10% de combustíveis renováveis. “Fazendo uma simulação, isso representa, no caso do etanol, uma perspectiva de consumo de quase 15 bilhões de litros”.
Leão acredita em uma demanda de 150 bilhões de litros para a próxima década, e de maneira crescente, “o que permite que nos adequemos a esta expansão”, afirmou.
Apesar dos crescentes programas de incentivo, a exportação brasileira de etanol ainda é baixa, principalmente em razão de barreiras tarifárias. “A produção e a demanda são crescentes, mas  a exportação ainda é muito tímida”.
Segundo o diretor da UNICA, há 4 ou 5 anos a exportação enfrentava dois tipo de barreiras: as tarifárias e as não tarifárias. Os Estados Unidos detinham uma tarifa de 14 centavos de dólar por litro para a importação do biocombustível brasileiro, e a União Europeia uma taxa ainda maior, de 19 centavos de euro por litro. Já as barreiras não tarifárias, segundo ele, tentavam dificultar as importações por meio de “mitos e inverdades sobre o setor”. Como exemplo, controvérsias em relação a metodologia utilizada para calcular as emissões evitadas pelo etanol de cana-de-açúcar, critérios de sustentabilidade extremamente subjetivos, e também a proliferação de mecanismos de certificação, muitas vezes arbitrários, com critérios diferentes para cada país. Na opinião de Eduardo, “isso limita qualquer forma de exportação, porque, por exemplo, se você vai exportar para a Holanda existem determinados critérios, para a França existem outros”. O trabalho da associação era de procurar uma convergência destes critérios.
Em 2008, com o apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), a UNICA começa a montar uma estratégia de acesso aos mercados internacionais, inicando com a instalação de escritórios em Washington e Bruxelas. Estes escritórios servem como base para estruturar ações de abertura de mercados e de trabalho junto à opinião pública e aos formuladores de políticas.
Algumas dessas ações foram a criação de um símbolo, o Sugarcane Ethanol, “para fixar a ideia não só do etanol brasileiro, mas do etanol de cana-de-açúcar”, segundo Leão, e a elaboração de estudos que pudessem fornecer informações objetivas para esclarecer determinados pontos controversos a respeito da cana-de-açúcar.
Com as metas de eliminar as barreiras, influenciar as legislações das regiões para que se aumentasse a mistura de etanol na gasolina e de promover a imagem do etanol brasileiro, foi feita uma forte estratégia de comunicação, que incluía folders explicativos, um site voltado ao público estrangeiro (sugarcane.org) e vídeos institucionais para as redes sociais. Outras ações importantes foram o fornecimento de combustível aos carros da Fórmula Indy e uma promoção, em alguns postos de gasolina de Washington, de descontar o valor da tarifa (45 centavos de dólar por galão) para o consumidor.
Eduardo Leão acredita que o mercado deverá se expandir devido à demanda e à adoção de políticas públicas. Também espera que o mercado se torne commoditizado. “A exemplo do programa norte-americano, a implantação de outros programas de biocombustíveis deve mudar o paradigma e permitir que os produtores mais eficientes do ponto de vista ambiental tenham mais acesso e mais benefícios nestes mercados, e as perspectivas de exportação do etanol para os EUA e Europa são parâmetros que o setor deve levar em conta em seus planos de investimento”, concluiu.
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