segunda-feira, 28 de novembro de 2011

.A recriação dos "grupos de risco"


Enviado por luisnassif, seg, 28/11/2011 - 14:43

Por Jean



Comentário do post "A portaria 1.353/11 da Anvisa"



Deixa ver se entendi, esta portaria esta dizendo que pessoas heterossexuais que tiveram mais de um parceira(o) em 6 meses, não pode doar sangue tendo mantido ou não relação sexual com preservativo?



Se for isto mesmo o que entendi, a Anvisa acaba por determinar que somente casados estaveis podem doar sangue e que a igreja esta certa em dizer que o que "deus uniu o homem não separa". Por vias ditas neutras, as da ciência, se restaura o moralismo religioso cristão. Vamos fazer uma experiência hipotética de um homem ou uma mulher que tenha casado com a primeira namorada(o) e que antes do casamento não tivesse tido qualquer relação sexual. Se por acaso esta relação acabasse no decorrer de 6 meses incompletos e e esta pessoa conhecesse uma nova parceira ou parceiro, estaria automaticamente excluído da possibilidade de doar sangue independentemente de seu comportamento sexual, de risco ou não.





O critério seria unica e exclusivamente a presunção de que quem tem mais de uma parceiro ou parceira sexual no período de 6 meses é promíscuo, e portanto, faz parte de um grupo de risco. Ora, sabemos que o comportamento sexual das pessoas mudou muito nos último 50 anos. A realidade do sexo casual com desconhecidos ou semi-desconhecidos, é uma constante. A troca de casais é uma prática de muitas pessoas em busca de revigorarem seus casamentos. E a troca de parceiros(as) é muito comum mesmo entre as pessoas de comportamento sexual mais tradicional, refletindo uma tendencia já intuída e sistematizada por Sigmund Bauman em seu livro Amores Liquidos. Todas estas mudanças sociais são aparentemente ignoradas pela portaria.



Ao que tudo indica, e nisso incluo a forma como os conselhos que criam estas portarias tratam os homossexuais, existe é uma transferência de responsabilidades. Quem tem de ser rigoroso e criterioso com a coleta do sangue são os hemocentros adotando e mesclando diversas formas de controle que pudessem oferecer um resultado mais preciso. Simplesmente recriar os "grupos de risco" ou em outras palavras, os "grupos degenerados" de Foucault. Como dizia o autor francês, o controle do indivíduo começa no corpo. O corpo é uma realidade biopolitica. A forma como cada pessoa vivencia sua vida privada, no âmbito sexual, não pode ser passível de punicação exceto quando esta forma agrida a dignidade humana ou a legislação. O que pode e deve ser feito é usar mecanismos cada vez mais precisos para que os hemocentros possam realizar suas atividades em sintonia com a realidade socio-cultural de quem se voluntaria a ofercer seu sangue pelos outros. Negar que os hábitos e os costumes das pessoas mudam e as politicas de saúde devem absorver estas mudanças, e se ver apegado a pressupostos moralistas e abrir espaço para mentiras que podem, estas sim, provocar danos irreversiveis a quem precisa de transfusão.



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