.Dilma e seus recomeços Enviado por luisnassif, sex, 02/12/2011 - 13:06 Do Valor Econômico Dilma e seus recomeços Por Raymundo Costa | Valor Econômico BRASÍLIA - Quando criança, Dilma Rousseff pedalava uma bicicleta amarela e queria ser bailarina ou entrar para o corpo de bombeiros, profissão em que meninas não costumavam pensar. A Presidência da República nunca esteve em seus sonhos, infantis ou adultos. Ela nunca imaginou que seria a primeira mulher a ocupar o cargo público mais importante do país. E, no entanto, em outras reviravoltas e recomeços de sua vida, foi exatamente o que aconteceu nas eleições presidenciais de 2010. Até então, Dilma nunca havia disputado um único voto. Pouco ou quase nada se conhecia do passado dessa mineira de Belo Horizonte, dois casamentos, uma filha, Paula, e 64 anos a serem completados no dia 14. Mesmo sua passagem por dois dos ministérios mais importantes do governo Lula, o de Minas e Energia e o da Casa Civil, não foi suficiente para dar conhecimento do perfil cheio da ministra escolhida por Luiz Inácio Lula da Silva para sucedê-lo. “ Tranquila, Dilminha, tranquila. Você é forte, vai conseguir”, disse Lula ao saber da doença que poderia afastá-la da eleição O livro “A Vida Quer é Coragem – A Trajetória de Dilma Rousseff”, escrito pelo jornalista Ricardo Batista Amaral, ex-repórter do Valor, a ser lançado no dia 15 pela editora Primeira Pessoa, é uma contribuição preciosa para dissipar a névoa que ainda encobre boa parte da biografia da primeira mulher a presidir o Brasil. Amaral trabalhou no comitê eleitoral de Dilma. Espectador privilegiado da campanha, completou mais tarde suas anotações e memórias ouvindo o depoimento de mais de 50 pessoas, lendo o que se escreveu sobre o período e revendo entrevistas concedidas por Dilma para a campanha e ao cineasta Silvio Tendler. A Dilma que emerge do relato de Amaral é uma mulher da sua época, a “geração de 68”. Uma geração que viveu os seus melhores anos num período de intensa efervescência política e cultural, mas também regida pelos fuzis. Engajada na luta armada contra o regime, Dilma ficou presa durante dois anos e dez meses. Os primeiros 22 dias na cadeia foram de tortura. Dilma se considera uma sobrevivente da ditadura. E esse nem foi seu primeiro recomeço. Só a própria Dilma pode testemunhar sobre a extensão da perda que sentiu com a morte do pai, no ano em que faria seus 15 anos: “Quando meu pai morreu, perdi o meu super superego”. A vida recomeçou mais uma vez para Dilma no início de 2009, quando ela já era oficiosamente a candidata de Lula à sucessão em 2010. Lula nunca a consultou sobre o assunto, mas no fim de 2008 ela já entendera que era a eleita para concorrer. Então, reuniu a filha Paula e o ex-marido Carlos Araújo num pequeno restaurante italiano do bairro da Tristeza, em Porto Alegre, para confirmar a eles o que para o país todo era especulação. Araújo observou que ela enfrentaria um dos políticos mais experientes do país, o tucano José Serra. Dilma falou com segurança: “Quem vai para a campanha com um peso sobre os ombros é o adversário, não sou eu”, disse ela ao ex-marido e à filha. “Eu vou com o sangue doce.” Naquele Natal, Dilma mal podia imaginar que poucos meses depois reuniria os mesmos personagens, no mesmo restaurante, para dar uma notícia que poderia provocar outra reviravolta em sua vida: ela tinha um linfoma, um tipo de câncer nos gânglios. Segundo os médicos, como a doença fora diagnosticada no início, o tratamento tinha grande chance de sucesso. Mas seria doloroso e incômodo. Era preciso avisar Lula o quanto antes, pois, se fosse necessário trocar o candidato, o presidente precisaria de tempo para refazer sua estratégia. Dilma encontrou-se com Lula no dia 24 de abril, na base aérea de Brasília. O presidente voltava de uma viagem a Buenos Aires. “ Tranquila, Dilminha, tranquila. Você é forte, vai conseguir.” Lula escolheu e elegeu Dilma no rastro de sua imensa popularidade, mais de 80%, segundo as pesquisas de opinião. No entanto, uma eleição dada como certa chegou a ser considerada perdida quando passou para o segundo turno. O sociólogo Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi, subestimara o crescimento da candidata Marina Silva na reta final da campanha. Dilma não culpou ninguém pelo excesso de otimismo. No primeiro fim de semana após a eleição, a pesquisa interna Vox Populi detectava perda de votos da candidata. Francisco Meira, sócio de Marcos Coimbra no instituto, foi ao encontro de Dilma. Ela estava em São Paulo preparando-se para o primeiro debate do segundo turno.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
blog de luis nassif
.Dilma e seus recomeços Enviado por luisnassif, sex, 02/12/2011 - 13:06 Do Valor Econômico Dilma e seus recomeços Por Raymundo Costa | Valor Econômico BRASÍLIA - Quando criança, Dilma Rousseff pedalava uma bicicleta amarela e queria ser bailarina ou entrar para o corpo de bombeiros, profissão em que meninas não costumavam pensar. A Presidência da República nunca esteve em seus sonhos, infantis ou adultos. Ela nunca imaginou que seria a primeira mulher a ocupar o cargo público mais importante do país. E, no entanto, em outras reviravoltas e recomeços de sua vida, foi exatamente o que aconteceu nas eleições presidenciais de 2010. Até então, Dilma nunca havia disputado um único voto. Pouco ou quase nada se conhecia do passado dessa mineira de Belo Horizonte, dois casamentos, uma filha, Paula, e 64 anos a serem completados no dia 14. Mesmo sua passagem por dois dos ministérios mais importantes do governo Lula, o de Minas e Energia e o da Casa Civil, não foi suficiente para dar conhecimento do perfil cheio da ministra escolhida por Luiz Inácio Lula da Silva para sucedê-lo. “ Tranquila, Dilminha, tranquila. Você é forte, vai conseguir”, disse Lula ao saber da doença que poderia afastá-la da eleição O livro “A Vida Quer é Coragem – A Trajetória de Dilma Rousseff”, escrito pelo jornalista Ricardo Batista Amaral, ex-repórter do Valor, a ser lançado no dia 15 pela editora Primeira Pessoa, é uma contribuição preciosa para dissipar a névoa que ainda encobre boa parte da biografia da primeira mulher a presidir o Brasil. Amaral trabalhou no comitê eleitoral de Dilma. Espectador privilegiado da campanha, completou mais tarde suas anotações e memórias ouvindo o depoimento de mais de 50 pessoas, lendo o que se escreveu sobre o período e revendo entrevistas concedidas por Dilma para a campanha e ao cineasta Silvio Tendler. A Dilma que emerge do relato de Amaral é uma mulher da sua época, a “geração de 68”. Uma geração que viveu os seus melhores anos num período de intensa efervescência política e cultural, mas também regida pelos fuzis. Engajada na luta armada contra o regime, Dilma ficou presa durante dois anos e dez meses. Os primeiros 22 dias na cadeia foram de tortura. Dilma se considera uma sobrevivente da ditadura. E esse nem foi seu primeiro recomeço. Só a própria Dilma pode testemunhar sobre a extensão da perda que sentiu com a morte do pai, no ano em que faria seus 15 anos: “Quando meu pai morreu, perdi o meu super superego”. A vida recomeçou mais uma vez para Dilma no início de 2009, quando ela já era oficiosamente a candidata de Lula à sucessão em 2010. Lula nunca a consultou sobre o assunto, mas no fim de 2008 ela já entendera que era a eleita para concorrer. Então, reuniu a filha Paula e o ex-marido Carlos Araújo num pequeno restaurante italiano do bairro da Tristeza, em Porto Alegre, para confirmar a eles o que para o país todo era especulação. Araújo observou que ela enfrentaria um dos políticos mais experientes do país, o tucano José Serra. Dilma falou com segurança: “Quem vai para a campanha com um peso sobre os ombros é o adversário, não sou eu”, disse ela ao ex-marido e à filha. “Eu vou com o sangue doce.” Naquele Natal, Dilma mal podia imaginar que poucos meses depois reuniria os mesmos personagens, no mesmo restaurante, para dar uma notícia que poderia provocar outra reviravolta em sua vida: ela tinha um linfoma, um tipo de câncer nos gânglios. Segundo os médicos, como a doença fora diagnosticada no início, o tratamento tinha grande chance de sucesso. Mas seria doloroso e incômodo. Era preciso avisar Lula o quanto antes, pois, se fosse necessário trocar o candidato, o presidente precisaria de tempo para refazer sua estratégia. Dilma encontrou-se com Lula no dia 24 de abril, na base aérea de Brasília. O presidente voltava de uma viagem a Buenos Aires. “ Tranquila, Dilminha, tranquila. Você é forte, vai conseguir.” Lula escolheu e elegeu Dilma no rastro de sua imensa popularidade, mais de 80%, segundo as pesquisas de opinião. No entanto, uma eleição dada como certa chegou a ser considerada perdida quando passou para o segundo turno. O sociólogo Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi, subestimara o crescimento da candidata Marina Silva na reta final da campanha. Dilma não culpou ninguém pelo excesso de otimismo. No primeiro fim de semana após a eleição, a pesquisa interna Vox Populi detectava perda de votos da candidata. Francisco Meira, sócio de Marcos Coimbra no instituto, foi ao encontro de Dilma. Ela estava em São Paulo preparando-se para o primeiro debate do segundo turno.
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