Enviado por Míriam Leitão e Alvaro Gribel - 1.12.2011
15h00m
COLUNA NO GLOBO
O fim do euro?
Empresas começam a analisar o que fazer diante desse pior cenário, o mercado procura jurisprudência para saber como receber os títulos emitidos em euro. O mundo está pensando no impensável. Essa foi a capa da “Economist” esta semana e a manchete do Financial Times online. Ontem foi um dia de alívio, com a ação dos bancos centrais, mas a solução ainda tarda.
Não é desejável, nem é provável, mas começa a parecer possível o fim do euro. Todas as ações tomadas pelos governos chegam sempre como reação aos fatos, mas jamais se adiantam a eles. Ontem, o alívio foi provocado pela decisão do Fed, Banco Central Europeu e bancos centrais da Suíça, Canadá, Inglaterra e Japão de, numa ação coordenada, atuar para dar mais liquidez aos mercados. Mas isso foi após o rebaixamento da nota de 35 bancos pela Standard & Poor’s.
O fim do euro pode detonar uma sucessão de eventos de escala global. A crise não se restringiria aos 17 países. Pelo seu poder de detonar crises em cascata é que os analistas se seguram na tese de que a Europa fará o que for possível para manter a Zona do Euro. Mesmo assim, uma parte das mentes das grandes corporações financeiras, empresariais e até dos governos começa a se perguntar: e se?
Os britânicos são conhecidos pela fleuma. Eles não são os que se desesperam primeiro. O leitor da revista “Economist” se acostumou com análises frias, objetivas, nada alarmistas. Por isso, o último número espantou. Lá está escrito, no editorial, que sem uma mudança dramática nas ações dos líderes europeus e dos dirigentes do BCE o euro pode entrar em colapso em semanas. Sim, a revista disse “semanas”. E para sustentar a tese fatalista e terminal cita o exemplo da Itália, que terá em janeiro que honrar 30 bi que estarão vencendo. Se o mercado não refinanciar a dívida, e o BCE não agir, “o terceiro maior devedor do mundo pode ser empurrado para o calote”.
Imagina o que aconteceria com a Alemanha se o euro acabar ou se o país sair do bloco? Seria restabelecido o marco como moeda e ele se fortaleceria imediatamente, o que tiraria a competitividade de uma economia que vive da exportação. Sempre se imagina o que a Grécia perderia caso saísse, mas na verdade todos perdem, inclusive a poderosa Alemanha. Ontem, os dados de desemprego da região mostraram como o país mais forte continua bem, mesmo com os outros países piorando. O desemprego da Zona do Euro subiu para 10,3%, maior nível em 13 anos; o desemprego da Alemanha caiu para 6,9%, menor nível em 20 anos. Houve um início de corrida ontem para títulos alemães por investidores temendo o colapso do euro e querendo refúgio.
Se o franco-suíço teve que contra-atacar um ataque especulativo que valorizou muito a moeda, num momento de corrida por refúgio, imagina o que seria de uma moeda alemã num cenário de estouro da boiada? O economista-chefe de um dos maiores bancos brasileiros, que acaba de voltar de uma rodada por bancos europeus, me disse que o ano não termina sem uma solução “para o bem ou para o mal”. A revista apela para Angela Merkel agir rapidamente e diz que “a menos que ela escolha rapidamente, a chanceler alemã vai acabar descobrindo que a escolha foi feita por ela”.
O também britânico “Financial Times” trouxe ontem o resultado de uma pesquisa com grandes empresas mostrando que a maioria já começa a pensar no que fazer no pior dos cenários, que é o do colapso da moeda de 13 anos, que une 17 países. Mesmo empresas fora da Zona do Euro estão fazendo planos. A Inglaterra tem sua própria moeda, mas 47% das suas exportações vão para países da região. Não há, portanto, como escapar dos reflexos.
Ontem foi um dia bom por causa da ação coordenada dos bancos centrais e liderada pelo Fed, mas todos sabem que uma injeção de liquidez pode ter resultado num dia, mas não é a solução final de todos os problemas.
O dilema alemão é mais complexo. Uma análise publicada pelo Centro de Estudos Europeus mostrou que, na visão de muitos políticos alemães, o país é criticado por não liderar mas se liderar vai ser acusado de arrogante e dominador. De fato, quando Angela Merkel toma a frente, há sempre um analista para dizer que o país está conquistando no campo monetário o controle da Europa que perdeu no campo de batalha por duas vezes.
Os cenários feitos pelas empresas, mercado e governos são sempre assustadores. A saída de alguns países da Zona do Euro, como Grécia, Portugal e Irlanda, fará terra arrasada destes países. Eles entrariam em forte recessão. Pelas conexões financeiras, bancos de outros países seriam afetados. Quem carrega papéis emitidos em euro em que moeda receberia? Outro cenário é a redução do número de membros no bloco. Ficariam só os grandões e haveria uma espécie de balcanização monetária. Se a Alemanha tentar se salvar sozinha não conseguirá. De um lado, pela supervalorização da sua moeda, por outro, pelo fato de que seus bancos carregam dívidas de vários países da área.
Os cenários do fim da união monetária são catastróficos e terão consequências globais. É só nisso que se segura, de forma tênue, a esperança de que os países tudo farão para salvar o euro. E, espera-se, em tempo.
15h00m
COLUNA NO GLOBO
O fim do euro?
Empresas começam a analisar o que fazer diante desse pior cenário, o mercado procura jurisprudência para saber como receber os títulos emitidos em euro. O mundo está pensando no impensável. Essa foi a capa da “Economist” esta semana e a manchete do Financial Times online. Ontem foi um dia de alívio, com a ação dos bancos centrais, mas a solução ainda tarda.
Não é desejável, nem é provável, mas começa a parecer possível o fim do euro. Todas as ações tomadas pelos governos chegam sempre como reação aos fatos, mas jamais se adiantam a eles. Ontem, o alívio foi provocado pela decisão do Fed, Banco Central Europeu e bancos centrais da Suíça, Canadá, Inglaterra e Japão de, numa ação coordenada, atuar para dar mais liquidez aos mercados. Mas isso foi após o rebaixamento da nota de 35 bancos pela Standard & Poor’s.
O fim do euro pode detonar uma sucessão de eventos de escala global. A crise não se restringiria aos 17 países. Pelo seu poder de detonar crises em cascata é que os analistas se seguram na tese de que a Europa fará o que for possível para manter a Zona do Euro. Mesmo assim, uma parte das mentes das grandes corporações financeiras, empresariais e até dos governos começa a se perguntar: e se?
Os britânicos são conhecidos pela fleuma. Eles não são os que se desesperam primeiro. O leitor da revista “Economist” se acostumou com análises frias, objetivas, nada alarmistas. Por isso, o último número espantou. Lá está escrito, no editorial, que sem uma mudança dramática nas ações dos líderes europeus e dos dirigentes do BCE o euro pode entrar em colapso em semanas. Sim, a revista disse “semanas”. E para sustentar a tese fatalista e terminal cita o exemplo da Itália, que terá em janeiro que honrar 30 bi que estarão vencendo. Se o mercado não refinanciar a dívida, e o BCE não agir, “o terceiro maior devedor do mundo pode ser empurrado para o calote”.
Imagina o que aconteceria com a Alemanha se o euro acabar ou se o país sair do bloco? Seria restabelecido o marco como moeda e ele se fortaleceria imediatamente, o que tiraria a competitividade de uma economia que vive da exportação. Sempre se imagina o que a Grécia perderia caso saísse, mas na verdade todos perdem, inclusive a poderosa Alemanha. Ontem, os dados de desemprego da região mostraram como o país mais forte continua bem, mesmo com os outros países piorando. O desemprego da Zona do Euro subiu para 10,3%, maior nível em 13 anos; o desemprego da Alemanha caiu para 6,9%, menor nível em 20 anos. Houve um início de corrida ontem para títulos alemães por investidores temendo o colapso do euro e querendo refúgio.
Se o franco-suíço teve que contra-atacar um ataque especulativo que valorizou muito a moeda, num momento de corrida por refúgio, imagina o que seria de uma moeda alemã num cenário de estouro da boiada? O economista-chefe de um dos maiores bancos brasileiros, que acaba de voltar de uma rodada por bancos europeus, me disse que o ano não termina sem uma solução “para o bem ou para o mal”. A revista apela para Angela Merkel agir rapidamente e diz que “a menos que ela escolha rapidamente, a chanceler alemã vai acabar descobrindo que a escolha foi feita por ela”.
O também britânico “Financial Times” trouxe ontem o resultado de uma pesquisa com grandes empresas mostrando que a maioria já começa a pensar no que fazer no pior dos cenários, que é o do colapso da moeda de 13 anos, que une 17 países. Mesmo empresas fora da Zona do Euro estão fazendo planos. A Inglaterra tem sua própria moeda, mas 47% das suas exportações vão para países da região. Não há, portanto, como escapar dos reflexos.
Ontem foi um dia bom por causa da ação coordenada dos bancos centrais e liderada pelo Fed, mas todos sabem que uma injeção de liquidez pode ter resultado num dia, mas não é a solução final de todos os problemas.
O dilema alemão é mais complexo. Uma análise publicada pelo Centro de Estudos Europeus mostrou que, na visão de muitos políticos alemães, o país é criticado por não liderar mas se liderar vai ser acusado de arrogante e dominador. De fato, quando Angela Merkel toma a frente, há sempre um analista para dizer que o país está conquistando no campo monetário o controle da Europa que perdeu no campo de batalha por duas vezes.
Os cenários feitos pelas empresas, mercado e governos são sempre assustadores. A saída de alguns países da Zona do Euro, como Grécia, Portugal e Irlanda, fará terra arrasada destes países. Eles entrariam em forte recessão. Pelas conexões financeiras, bancos de outros países seriam afetados. Quem carrega papéis emitidos em euro em que moeda receberia? Outro cenário é a redução do número de membros no bloco. Ficariam só os grandões e haveria uma espécie de balcanização monetária. Se a Alemanha tentar se salvar sozinha não conseguirá. De um lado, pela supervalorização da sua moeda, por outro, pelo fato de que seus bancos carregam dívidas de vários países da área.
Os cenários do fim da união monetária são catastróficos e terão consequências globais. É só nisso que se segura, de forma tênue, a esperança de que os países tudo farão para salvar o euro. E, espera-se, em tempo.
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