sábado, 29 de outubro de 2011

Blog de luis nassif

“Consideramos que três coisas foram importantes para mantermos a acampada. Primeiro, conseguimos definir rapidamente o local, assim como os princípios do assentamento [dentre eles, apartidarismo, não violência e votação por assembleísmo]. Segundo, porque tivemos apoio da mídia, não dos mais tradicionais, e sim do The Guardian. Um dos seus repórteres está acampando conosco. A terceira coisa são as parcerias de cooperação e respeito com os visinhos”, contou Alisson, sendo que o principal deles é a própria igreja que não se opôs a ocupação.




Wall Street



O levante em Wall Street começou no dia 28 de agosto, quando um grupo começou a postar na internet propostas para ocupar o coração econômico do país no dia 17 de setembro. O mote da campanha é "Somos os 99%", que partiu da frase do economista norte-americano Joseph Stiglitz: "1-1-1 - o 1% eleito pelo 1% governando para o 1%".



Biella, como gosta de ser chamada a professora Gabriella Coleman, destacou que o termo 99% funciona muito bem para explicar a manifestação em Nova York, mas tem um problema que surge dessa ideia. “Os 99% não são uniformes, temos estudantes, a classe média, a classe operária. Então, quando você cria uma mensagem de solidariedade política através de todos esses grupos, o desafio é manter o respeito às diferentes necessidades de cada um, que acabam tendo que ser tratadas de forma conjunta na acampada”, ressaltou.



A ocupação em Wall Street não foi fácil, além do enfrentamento com a polícia e de 700 pessoas que foram detidas nos primeiros dias – depois liberadas – os manifestantes foram impedidos de usar auto-falantes ou microfones, por uma lei estabelecida na cidade. “A saída foi usar o ‘microfone do povo’, ou seja, quando eu falo, por exemplo, cerca de dez pessoas, ou mais, que estão a voltam repetem imediatamente o que eu falei”, ampliando o som da mensagem que, dessa forma, acaba sendo repassada a um número maior de pessoas.



O total estimado de pessoas que acampam atualmente na praça Washinton, renomeada pelos manifestantes de Liberty Square, e em Wall Street, é de 20 mil. A professora conta que uma das coisas que surpreenderam os manifestantes foi a boa resposta de parte da grande mídia, em especial do The New York Times e, ainda, que a complexidade da convivência de tantas pessoas num espaço sem infraestrutura, inicialmente, os obrigou a criar sistemas de cooperação para se alimentarem, por exemplo. Com o tempo surgiram bibliotecas comunitárias e a formação de um jornal próprio.



Biella, que dá aula na segunda universidade mais cara dos Estados Unidos, onde o aluno é obrigado a pagar 50 mil dólares por ano, conta que muitos dos estudantes estão se envolvendo no movimento. O resultado disso tem sido a criação de uma espécie de Universidade do Povo, assim como está acontecendo em São Paulo.



A professora Rita Alves, que participou do debate, transferiu uma aula de antropologia, ministrada no Curso de Ciências Sociais da PUC-SP, para o local da ocupação, embaixo do Viaduto do Chá.



"Nas aulas que temos na PUC nos interessamos pela cultura contemporânea, em boa parte a cultura de massa, mas o mais interessante é pensar [na transição] dessa cultura de massa para a cultura de rede. Isso, é o que nós estamos vivendo nesses últimos anos", destacou, ao lembrar que as comunidades na internet tiveram papel importante na organização das acampadas que estão ocorrendo ao redor do mundo.






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