Sobre Serra - 11

Por Jotavê
Já defendi o Serra. Eu o defendia pela postura que ele manteve ao longo do governo Fernando Henrique, onde fazia OPOSIÇÃO, é bom que nos lembremos, à política econômica de Pedro Malan, seguida à risca, depois, por Antônio Palocci. Achava que ele poderia significar uma guinada à ESQUERDA na política econômica do governo Lula, caso MANTIVESSE o compromisso com os investimentos sociais e com a política de distribuição direta de renda. Deixei de apoiá-lo ao longo do governo Dilma Rousseff por vários motivos. Em primeiro lugar, porque a própria Dilma submeteu a política econômica de Lula a uma revisão radical, enfrentando o setor bancário, por exemplo, e dando reconhecimento oficial à importância de se temperar redistribuição de renda com investimento em infraestrutura e modernização da economia. Em segundo lugar, porque o grupo político que dá apoio a José Serra sempre demonstrou má vontade para com as políticas de redistribuição direta, afirmando que ela é economicamente contraproducente, gerando desperdício e (cúmulo dos cúmulos num país como o Brasil!!!) indolência e acomodação à miséria. Por mais que o candidato declarasse que era favorável à manutenção desses programas, ficou claro para mim que essa não era a posição majoritária no grupo que o apóia, e que, independentemente do que José Serra pudesse individualmente pensar a respeito disso, programas como o Bolsa Família corriam um sério risco de serem severamente reduzidos ou mesmo desmontados caso José Serra chegasse ao poder.
Nenhum desses motivos, entretanto, foi tão decisivo em minha mudança de postura quanto a TRUCULÊNCIA de Serra no trato com a oposição e com a imprensa de maneira geral. Acho absolutamente normal que um entrevistado responda a uma pergunta dura de maneira igualmente dura. Mas que se mantenha no nível dos argumentos. Serra invariavelmente bate abaixo da linha de cintura. Desqualifica o JORNALISTA, e não a pergunta ou o argumento. Insinuou, no caso da Márcia Peltier (!!!) que ela estaria agindo como porta-voz de um partido político. Fez o mesmo com Heródoto Barbeiro. Agora, atacando blogs independentes como este, que leio e no qual colaboro desde os primeiros dias, no qual sempre pude expressar minhas opiniões com a mais absoluta liberdade, ele excede todos os limites da indecência. O que faz um blog ser "independente", na opinião de José Serra? O fato de estar hospedado no site da revista de maior circulação no país, escudado por um departamento jurídico capaz de enfrentar grandes corporações de igual para igual? Isso é ser independente? Seguir à risca a linha editorial ditada por um patrão interessado em se firmar como player privilegiado do jogo político brasileiro? Sei lá quem anuncia na revista Veja e nos blogs hospedados por ela (alguns deles, diga-se de passagem, absolutamente dignos e honestos). Só sei que dou graças a Deus que haja anúncios sustentando blogs como o do Nassif e revistas como a Carta Capital, de quem discordo muitas vezes, mas onde encontro um dos raíssimos contrapontos disponíveis à falsa unanimidade criada pela grande imprensa em torno de determinados assuntos. Não fosse por esses espaços alternativos, a resultante da imprensa brasileira atual seria, em sua essência, stalinista, com um único ponto de vista sendo martelado por todos os grandes veículos de comunicação sem nenhuma nota dissonante suficientemente audível para ser levada em consideração. Por que investir com tamanha truculência contra a imprensa alternativa da internet? Como pedir apoio de qualquer pessoa que não faça parte de sua claque, depois de tomar uma atitude como esta?