domingo, 22 de julho de 2012

Venda de vinis aumenta nos EUA


Por Gilberto Cruvinel
De O Globo
RIO - Pesquisa recente da Nielsen/Billboard sobre o mercado fonográfico americano mostra que, no primeiro semestre de 2012, a venda de discos de vinil cresceu 14,2% em comparação com o mesmo período de 2011. Apenas os álbuns digitais (13,8%) chegaram perto dessa taxa — CDs tiveram uma queda de 11,3%. Ou seja, num mercado que, com o enfraquecimento dos velhos compact discs, parece apontar para um futuro apoiado na virtualidade de arquivos de computador, o vinil caminha para ser o meio físico que manterá os pés da música no mundo real.A curva ascendente do vinil vem de 2007. E o top 10 dos discos mais vendidos no formato nos Estados Unidos em 2011 mostra que a tendência vai além do saudosismo. Abaixo do clássico "Abbey Road", dos Beatles, a lista é tomada por artistas contemporâneos, como Fleet Foxes, Bon Iver, Radiohead, Wilco e Black Keys. Em 2012, até agora, o topo é de Jack White.
— Nos Estados Unidos, hoje, toda banda lança seus discos em CD e vinil (mesmo nomes voltados para o público adolescente, como Justin Bieber). Na (loja) Amoeba encontro qualquer lançamento contemporâneo em vinil — diz o empresário João Augusto, dono da Polysom, única fábrica de vinis da América Latina. — Existe um estrato que não aparece na pesquisa oficial americana, porque ela é feita nas lojas, e muitos encomendam seus discos das fábricas e vendem nos shows. Um levantamento feito nas fábricas mostra que o mercado de vinil pode ter sido de 10 milhões de unidades em 2011, em vez dos 3,9 milhões oficiais.
No Reino Unido — onde nasceu o Record Store Day, evento no qual, a cada ano, os vinis ganham mais importância —, as vendas de LPs tiveram em 2011 um crescimento de 43% em comparação com 2010. No Brasil, não há levantamentos precisos. Mas há indícios de que a recepção segue a tendência americana — ou seja, um aumento de interesse do público em geral, não apenas de especialistas. É cada vez mais comum o lançamento de artistas populares em vinil, como Ana Carolina, Maria Rita, Dinho Ouro Preto e Maria Gadú — para citar exemplos recém-saídos ou no forno. E há as reedições de clássicos.
Outro dado: o site Mercado Livre acaba de divulgar que a venda de vinis cresceu 30% no primeiro semestre de 2012, em comparação ao mesmo período de 2011, superando o número de DVDs e Blu-Rays.
Brasil sofre com tributação
A indústria fonográfica brasileira acompanha o movimento, mas de forma cautelosa.
— O vinil está no nosso radar, mas não temos estratégia montada para o formato — diz Bruno Batista, diretor artístico da Sony/BMG, que vê algumas etapas a serem vencidas antes que o mercado de vinis se assemelhe ao dos Estados Unidos. — Isso passa pelo número de vitrolas e, sobretudo, pelo preço final, alto, devido à tributação.
João Augusto conseguiu baixar o preço dos produtos da Polysom desde janeiro, quando mudou o sistema de tributação da empresa ("Já há reflexos nas vendas", diz). Mas ele ainda está bem acima do americano:
— A tributação nos EUA não passa de 10%, e a sofrida pela Polysom chegou a ser de 70%. Hoje, um vinil numa loja americana custa entre US$ 15 e US$ 25. No Brasil, estamos conseguindo por US$ 30 e poucos.
O empresário defende que o vinil, em vez de um resquício do passado, é algo integrado ao mundo contemporâneo — ou seja, em vez de brigar com a internet, ele se fortalece com ela. Se o CD compete diretamente com o arquivo de música no campo digital, o vinil opera em outra esfera, a analógica, numa relação complementar:
— A maior fábrica americana diz que o melhor formato é vinil com download (popularizado no mercado americano).

Nenhum comentário:

Postar um comentário