quarta-feira, 29 de agosto de 2012


Economistas e a questão do equilíbrio nos preços

Da Folha
ANTONIO DELFIM NETTO
Uma concepção importante que separa as tribos que constituem a nação dos economistas é a de "equilíbrio". Na sua formação, o economista é ensinado a entender uma situação onde tudo permanece como está, exceto a variável sob a qual se debruça.
Para "explicar" a variação do preço do tomate, por exemplo, ele "constrói" uma curva de demanda por tomate somando as "curvas individuais" de demanda por tomate de toda a comunidade para cada nível suposto de preço. Chama essa "construção" de curva de procura por tomate: é a quantidade de tomate que a comunidade deseja e tem renda para consumir numa certa unidade de tempo, para cada nível de preços com que se defrontar no mercado.
Do lado da oferta, é evidente que ela, na mesma unidade de tempo, é fixa e determinada pelo estoque de tomate disponível no mercado. "Idealmente", o preço do "equilíbrio" do tomate nesse mercado é o que, na curva de procura global, esgota o estoque disponível no momento.
Duas observações valem a pena. Primeiro: essa aparente simplicidade, quando tornada logicamente rigorosa, envolve muitas hipóteses, algumas seguramente arbitrárias. Segundo: como deve ser evidente, o tal "equilíbrio" se sucede a cada unidade de tempo. Nenhum deles pode, logo, ser considerado o "preço de equilíbrio" contra o qual comparamos os outros.
Essas considerações valem para o mercado de tomate, mas são ainda mais válidas quando incluímos todos os mercados. Aí a noção de "equilíbrio" perde ainda mais seu significado. Afinal, o que seria tal equilíbrio? Uma situação em que nada varia! Onde todos os agentes sociais e econômicos envolvidos, trabalhadores, empresários, banqueiros e governo não teriam incentivo para alterar sua situação.
Na vida econômica (ao contrário da "teoria"), não há equilíbrio, porque este é o "rigor mortis"! E muito menos "equilíbrio dinâmico", porque isto é um oximoro!
Algumas vezes tenta-se colocar a ideia do "equilíbrio" como o estágio final de um processo de sucessivos desequilíbrios que convergiriam para ele, concepção que incorpora uma formalização altamente abstrata e duvidosa.
O desenvolvimento econômico, nas condições institucionais adequadas, é um processo de permanente desequilíbrio. Quando bem-sucedido, produz mais desequilíbrios!
A frustração dos planos dos agentes econômicos é exatamente o incentivo para mantê-los na busca de sua realização. É por isso que é papel fundamental de um Estado forte, constitucionalmente controlado, manter relação amistosa com o setor privado na produção de "desequilíbrios criadores", como é o caso das concessões de infraestrutura.

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