quarta-feira, 29 de agosto de 2012


Os bebês roubados na Espanha durante o franquismo

Por Marco Antonio L.
Do Direto da Redação
Por Rui Martins - Berna
Uma reportagem dolorosa da Revista Expresso, em Portugal, vai ao fundo de um dos crimes fascistas do franquismo, semelhante ao praticado pelos ditadores militares argentinos - o roubo de crianças de pais antifranquistas para entregá-las a famílias devotas e fiéis ao ditador.
Não foram apenas algumas crianças, porém 300 mil bebês roubados, num período de 60 anos. No início, a prática era motivada por orientação política do ditador Franco com o apoio da Igreja católica e irmãs nas maternidades, mas na fase final se fazia comércio e um bebê podia ser comprado por 500 pesetas.
O conhecimento desse crime veio em consequência das revelações de que bebês de mulheres assassinadas durante as ditaduras argentinas tinham sido adotados por famílias de militares. Na Espanha, havia desconfianças mas a certeza veio com o juiz Baltasar Garzón que, depois de algumas pesquisas, concluiu pela existência de milhares de bebê roubados e criados por outras famílias.
Logo a seguir a Associação para a Recuperação da Memória Histórica relacionou 261 casos de adoções irregulares, entre os anos 50 e 80. Entretanto, Garzón não pôde dar continuidade ao processo e, vítima de perseguição pelos remanescentes franquistas, foi afastado da magistratura.
Como procediam os espanhóis franquistas ? Quando uma mulher grávida, esposa ou viúva de um combatente republicano não católica praticante, ia dar a luz em certas maternidades, o ginecologista e as parteiras de plantão simulavam a morte do bebê, seja no parto ou por alguma complicação logo após o parto. Enquanto isso, uma outra mulher não grávida dava entrada na maternidade, ocupava um quarto, simulava trbalho de parto e recebia o bebê dado como morto.
As mulheres republicanas presas durante a guerra-civil ficavam com os filhos até chegarem aos três anos. Depois dessa idade, as crianças eram adotadas por famílias desconhecidas e nunca mais localizadas.
Embora os primeiros casos tivessem sido denunciados em 2008 pelo juiz Garzón, só no mês de julho deste ano, o governo espnhol concordou ter havido essa espécie de tráfico durante a ditadura franquista. São agora 25 associações as empenhadas em buscas nos cartórios e registros de adoções também em igrejas, a fim de localizar as crianças roubadas, muitas delas têm hoje 50 anos.
No momento, os resultados são dramáticos - filhos adultos ao compararem o seu DNA com o dos pais descobrem não haver nenhuma semelhança e se sentem enganados por toda uma vida. Por sua vez, pais, cujos filhos foram dados como mortos nas maternidades, voltam a ter esperanças de que estejam vivos em outras famílias, mas sem quaisquer chances de serem localizados.
As primeiras buscas revelam obituários absurdos em certas maternidades, onde morreram 37 bebês de otite, em alguns dias, e outros 22 de hemorragia cerebral.
Acredita-se que o tráfico de bebês, entregues geralmente a casais de melhores condições sociais mas sem filhos, não tenha se restringido à Espanha. Assim, muitos desses bebês roubados teriam sido oferecidos a famílias portuguesas das regiões fronteiriças com a Espanha.

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