terça-feira, 28 de agosto de 2012


Ustra é convocado para a Comissão da Verdade de SP

Da Folha
BERNARDO MELLO FRANCO
A Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo aprovou ontem a convocação do coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do Doi-Codi, principal órgão de repressão da ditadura militar (1964-85).
Ele é acusado de comandar práticas de tortura contra presos políticos na unidade, que foi criada sob o nome de Oban (Operação Bandeirante). O militar nega a participação direta em maus-tratos.
Como a comissão municipal não tem poderes para forçar a presença de testemunhas, a convocação será feita pela Comissão Nacional da Verdade, explicou o vereador Italo Cardoso (PT).
Os dois órgãos assinaram termo de cooperação para permitir a tomada de depoimentos em São Paulo.
O vereador Gilberto Natalini (PV), que é ex-preso político e integra a comissão, diz ter sido torturado por Ustra.
"Ele me bateu durante várias horas e me obrigou a declamar poesias nu e diante dos soldados para me humilhar", disse Natalini.
"Ele me batia com uma vara de cipó de um metro e meio de comprimento. Tive que ficar equilibrado com os pés em cima de latas de leite em pó. Também sofri choques elétricos. Tudo pelas mãos dele", afirmou.
No último dia 14, numa decisão inédita, o Tribunal de Justiça de São Paulo confirmou sentença de primeira instância que reconheceu Ustra como torturador. Ele ainda pode recorrer. O militar, que se recusa a dar entrevistas, não foi localizado ontem.
A comissão também aprovou um convite para o ouvir o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto. Ele foi um dos signatários do AI-5, o ato institucional nº 5, que endureceu o regime e instituiu a censura prévia a partir de 1969.
Os vereadores querem questioná-lo sobre sua suposta participação na arrecadação de recursos para a Oban, que foi criada com a ajuda de empresários paulistas.
Segundo um assessor, Delfim só deve se pronunciar depois de ser convidado formalmente. De acordo com Italo Cardoso, o convite por ser transformado em convocação caso ele não o aceite.

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