Morre última dama da Era Vargas

Por Andre Araujo

AS GRANDES DAMAS DA ERA VARGAS - Com a morte de Edyala Santo Domingo, na última sexta-feira, aos 94 anos de idade, desaparece a ultima das grandes damas da Era Vargas. Outras grandes damas, como Aimée de Heeren e Josefina Ashcar Jordan já deixaram o palco de suas movimentadas existencias, o Rio de Janeiro, centro social e politico da Historia do Brasil na primeira metade do Seculo XX, uma epoca que não se encerra mas se modifica com a inauguração de Brasilia.

Edyala Santo Domingo era viuva de Julio Mario Santo Domingo, o homem mais rico da Colombia e um dos mais ricos do mundo, com uem teve um filho Julio Mario Jr., que faleceu antes da mãe. Sua neta Tatiana é namorada do Principe herdeiro de Monaco, Andrea Casarighi,  filho da Princesa Caroline.

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Edyala foi casada duas vezes antes de Santo Domingo, a primeira vez com um militar e a segunda com Benjamim Vargas, conhecido como Bejo Vargas, irmão do Presidente Getulio Vargas e seu auxiliar durantes todos os anos de seus dois governos. Bejo Vargas organizou em 1938, depois do atentado integralista ao ditador, sua celebre guarda pessoal, constituida de gauchos. Bejo Vargas era um personagem folclorido e temido, bem diferente do discreto irmão Presidente, boemio, jogador, mulherengo, personagem de episodios nada edificantes nas noites cariocas, que frequentava para beber e jogar, especialmente nos casinos da Urca e do Copacabana Palace.  Postava-se nas mesas de jogo e colocava o revolver em cima do pano, quando perdia dava tirar para o alto, meteu-se em muitas brigas e criou má fama com seu comportamento.

Quando em outubro de 1945 Getulio nomeou o irmão como Chefe de Policia do Distrito Federal, o que equivalia na época a Diretor da Policia Federal, as Forças Armadas viram no ato do Presidente uma clara tentativa de continuismo e Getulio foi deposto por seu Ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra, sob pretexto da inaceitavel nomeação de Bejo Vargas para a Chefia da Policia, substituindo o não menos famoso João Alberto Lins de Barros, um dos lideres tenentistas da Revolução de 30 e antigo Interventor em São Paulo. No segundo governo Vargas, Bejo foi uma das figuras mais envolvidas com os episodios que levaram ao crime da Rua Toneleros, evento que foi a causa direta do suicidio de Getulio. Viveu ainda mais vinte anos depois do irmão, morrendo na decada de 70.

A outra grande dama da Era Vargas foi Aimée de Heren, falecida em 2006 com 103 anos, uma paranaense que foi esposa de Luis Simões Lopes, Chefe de Gabinete de Getulio, Simões Lopes foi criador da Fundação Getulio Vargas e um dos auxiliares mais proximos do ditador.  Aimée separou-se sob noticias de um suposto caso com Getulio, mudou-se para a Europa e de lá para os EUA aonde casou-se com um multimilionario dono de lojas de departamentos, que a deixou viuva riquissima, Aimée passou a ser um doas figuras mais conhecidas do jet set mundial, com magnificas casas em Paris, Nova York e Palm Beach, aonde recebia em grande estilo.

Josefina Jordan, locomotiva da sociedade carioca dos anos 50, bem mais nova que as outras duas, foi a grande dama da segunda Era Vargas, a do governo democratico de 1950. Filha de um rico comerciante de café, casou-se com o incorporador imobiliario Henrique Jordan, que construiu predios emblematicos da Cidade Maravilhosa, como o Edificio Chopin, ao lado do Copacabana Palace.

Essas fulgurantes mulheres animaram o high society carioca dos anos dourados, suas recepções eram centros de confabulações, encontros importantes, jogos de poder, sabiam receber e animar, lembranças de uma epoca que não mais existe, seus personagens ja se foram e fazem parte da Historia.

As grandes damas da Era Vargas eram legitimas salonières em versão brasileira, por seus salões circulavam as informações mais preciosas sobre a politica e a economia, os grandes negocios, os jogos amorosos, todas as Embaixadas estavam no Rio, assim como os  comandos militares, o centro da imprensa e das letras, essas festas, jantares e recepções formavam as engrenagens do poder que fizerem do Rio desses anos uma cidade unica que jamais Brasilia consiguirá reproduzir.
Edyala Santo Domingo, que morreu na noite desta sexta-feira (27/04), no Samaritano, em Botafogo / Foto: Marcelo Borgongino