quinta-feira, 22 de setembro de 2011

« Chegou o boneco do Capitão Nascimento!Primeiro capítulo do livro sem nome ».O Motel, de Luis Fernando Veríssimo


Ontem lá num evento aí eu assisti a uma peça com o texto dessa crônica do Luis Fernando Veríssimo. Se você gosta mesmo de humor está perdendo seu tempo lendo esse blog. Eu sugiro que você desligue o computador e vá procurar um livro dele.

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E segue abaixo o texto “O Motel”:


Mirtes não se aguentou e contou para a Lurdes:
- Viram o teu marido entrando num motel.

A Lurdes abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estátua de espanto, durante um minuto, um minuto e meio. Depois pediu detalhes.

- Quando? Onde? Com quem?

- Ontem. No Discretíssimu’s.

- Com quem? Com quem?

- Isso eu não sei.

- Mas como? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna?

- Não sei, Lu.

- O Carlos Alberto me paga. Ah, me paga.

Quando o Carlos Alberto chegou em casa a Lurdes anunciou que iria deixá-lo. E contou por quê.

- Mas que historia é essa, Lurdes? Você sabe quem era a mulher que estava comigo no motel. Era você!

- Pois é. Maldita hora em que eu aceitei ir. Discretíssimu’s! Toda a cidade ficou sabendo. Ainda bem que não me identificaram.

- Pois então?

- Pois então que eu tenho que deixar você. Não vê? É o que todas as minhas amigas esperam que eu faça. Não sou mulher de ser enganada pelo marido e não reagir.

- Mas você não foi enganada. Quem estava comigo era você!

- Mas elas não sabem disso!

- Eu não acredito, Lurdes! Você vai desmanchar nosso casamento por isso? Por uma convenção?

- Vou!

Mais tarde, quando a Lurdes estava saindo de casa, com as malas, o Carlos Alberto a interceptou. Estava sombrio.
- Acabo de receber um telefonema – disse. – Era o Dico.

- O que ele queria?

- Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse que, como meu amigo, tinha que contar.

- O quê?

- Você foi vista saindo do motel Discretíssimu’s ontem, com um homem.

- O homem era você!

- Eu sei, mas eu não fui identificado.

- Você não disse que era você?

- O que? Para que os meus amigos pensem que eu vou a motel com a minha própria mulher?

- E então?

- Desculpe, Lurdes, mas…

- O quê?

- Vou ter que te dar um tiro…

.Tags: Crônica, Luis Fernando Veríssimo, Motel

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