Os CEOs financistas

Coluna Econômica - 26/04/2012
Com a entrada dos gestores financeiros nas grandes empresas, o corte de custos tornou-se uma obsessão. Nada contra o aumento da eficiência, mas voltou-se a práticas dos anos 80, em que o dono da tesoura saía tesourando sem dispor da menor visão sistêmica.
Nas empresas verdadeiramente comprometidas com programas de qualidade e gestão, o ponto central é a visão de conjunto, analisando resultados, sim, mas o longo prazo, o clima interno, a imagem junto aos clientes.
Nesse modelo financista, desmontaram-se áreas de desenvolvimento, prejudicou-se o atendimento ao consumidor. Só que os efeitos desse desmonte aparecem no médio prazo, enquanto o corte de despesas reflete-se no balanço trimestral.
Com os executivos sendo premiados com bônus polpudos em função exclusivamente dos resultados trimestrais, houve o comprometimento da visão de longo prazo em benefício de melhorias pontuais de curto prazo: algo similar ao populismo na política.
É significativo o que ocorreu na Vale do Rio Doce na gestão Roger Agnelli.
Roger formou-se no mercado de capitais, como executivo da Bradespar. Assumiu a Vale conservando parte do estilo Bradesco: discrição, criação de uma solidariedade interna, responsabilidade social e um enorme potencial para se transformar em um dos principais CEOs brasileiros.
Aos poucos, deixou-se contaminar pelo estilo financista dos anos 90 e 2000. A busca da rentabilidade a qualquer preço, a megalomania, modificaram seu temperamento. Deixou de ouvir seus diretores, de prestar satisfações a seus acionistas e passou a jogar exclusivamente para SUA plateia: o mercado e o jornalismo financeiro.
Tomou diversas decisões de afogadilho, que ajudaram a pavimentar seu presente e a comprometer seu futuro.
A Vale adquiriu minas no Canadá. O presidente designado para a nova companhia, Murilo Ferreira, ponderou sobre a necessidade de um trabalho de aproximação com sindicatos, ambientalistas, sociedade canadense. Roger não aceitou. Queria resultados imediatos. Murilo acabou pedindo demissão. O resultado foi uma entrada caótica no Canadá, com a Vale provocando conflitos sindicais e comprometendo fortemente sua imagem no país.
Outra prova de voluntarismo foi a compra dos tais supernavios chineses. O governo chinês está exposto às mesmas pressões corporativas das democracias ocidentais. Depois de entregues, a Vale teria que enfrentar a pressão dos armadores chineses.
Agnelli encomendou os navios a um setor influente, os estaleiros chineses. Acertou preço, prazo e deixou de lado o principal: a montagem de uma blindagem contra os armadores chineses. Depois de entregues os navios, os estaleiros não tinham mais nenhum interesse no tema deixando a Vale órfã para enfrentar os armadores.
Roger dançou e seu cargo foi ocupado justamente por Murilo. O primeiro ato do novo presidente foi convidar os sindicatos para uma conversa. Apenas ouviu e falou, tratando-se com civilidade. Não trouxe nenhuma mudança imediata para a Vale. Mas no dia seguinte, na empresa, respirava-se um ar melhor, tanto na direção quanto no chão das minas.