O jogo político pós-eleições municipais
Enviado por luisnassif, sex, 28/09/2012 - 08:00
Autor: Luis Nassif
Coluna Econômica
O que ocorrerá com o jogo político após as eleições?
Com raras exceções, não há tradição de fidelidade partidária no país. Os políticos tendem a se organizar em torno dos partidos com melhores perspectivas de poder. Ou em torno de partidos que, mesmo sendo menores, permitam a aliança com o poder.
Por isso mesmo, há dois fatores determinando o futuro dos partidos: a estrutura nacional (que depende das eleições) e um candidato forte à presidência, ou com possibilidade de ser vitorioso ou de conseguir bons pactos políticos.
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Desde a redemocratização, as coligações se formavam em torno da distribuição de cargos ou de apoio financeiro para as campanhas.
Foi esse modelo que permitiu a Marcos Valério criar uma tecnologia de corrupção política que começou em Minas, com o chamado “mensalão do PSDB”, continuou em Brasília, com o “mensalão do PT”, teve desdobramentos no Distrito Federal, com o “mensalão do DEM”.
Antes disso, houve denúncias de compras de votos na votação da reeleição de FHC e na convenção do PMDB – na qual, dois ministros de FHC usaram a máquina pública para alijar Itamar Franco do jogo.
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Após o julgamento do “mensalão”, entra-se em um novo tempo político.
Nem se condene FHC ou Lula pelo jogo. No presidencialismo torto brasileiro, era a única condição de governabilidade. O país saía da longa noite da ditadura, de um longo período de estagnação econômica, ainda era uma democracia infante.
O julgamento do mensalão coloca um ponto final nesse modelo. Criminaliza-se a ajuda financeira, como foi o caso. Há um questionamento cada vez maior do loteamento de cargos. A Lei da Transparência reduzirá cada vez mais a margem de manobras dos operadores da máquina pública (os especialistas em desvio de dinheiro que servem a todos os partidos).
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Haverá a necessidade, portanto, de uma ampla mudança na lei eleitoral, a não ser que se queira caminhar para a ingovernabilidade. As mudanças passam pelo financiamento público de campanha e pela reestruturação partidária. E aí haverá mudanças expressivas.
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O quadro programático, hoje em dia, é totalmente diferente daquele de dez ou vinte anos atrás.
Nesse período, Lula trouxe o PT da esquerda para a centro-esquerda. Dilma Rousseff aprofundou a mudança, incorporando princípios de gestão antes criticados pela base e do desenvolvimentismo. De um lado, está conquistando quadros e intelectuais que, em outros tempos, se abrigaram no PSDB pré-Malan. De outro, perderá os quadros mais radicais para o PSOL – que ocupará a faixa da extrema esquerda democrática.
O PSDB abandonou as veleidades iniciais, de ser a social democracia brasileira, e avançou para a direita. Descaracterizou-se. Deixou de ser social democrata sem conquistar a confiança da direita. Não se renovou, ficando prisioneiro do velho e do estéril – o decisivo período José Serra. Como Aécio Neves não demonstra fôlego para substituir a geração que sai, há risco concreto do partido perder o protagonismo que exerceu desde o início dos anos 90. Será cada vez mais um partido restrito a São Paulo.
Há espaço para um partido de direita autêntica, juntando os sobreviventes do DEM.
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