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As latas de maconha no litoral brasileiro em 1987
Enviado por luisnassif, qua, 26/09/2012 - 07:53
Por Sanzio
Do Uol
"Verão da Lata" conta como 22 toneladas de maconha acabaram nas praias brasileiras em 87
Daniel Solyszko
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Lata do Solana Star encontrada na praia de Ipanema, Rio de Janeiro, em 11 de outubro de 1987
No dia 25 de setembro de 1987, 18 latas semelhantes às encontradas em supermercados para vender leite em pó foram encontradas boiando próximas ao litoral do município de Maracá, no Rio de Janeiro, distante cerca de 60 quilômetros da capital. Assustados após abrirem algumas delas, os pescadores locais entregaram o carregamento para a Polícia Militar. Como ficou comprovado depois, cada uma delas continha aproximadamente 1,5 kg de maconha. Seria o primeiro registro oficial do episódio que entraria para a história como o “verão da lata”.
No final de agosto, a Polícia Federal do Rio recebeu um comunicado dos EUA de que o navio Solana Star, que vinha da Austrália, estava no litoral do Rio de Janeiro carregando 22 toneladas de maconha, que seriam depois repassadas para outros dois barcos com destino à Miami. A tripulação descobriu que o barco estava sendo procurado e despejou todo seu arsenal no mar. Por volta de 20 de setembro, diversas latas começaram a ser encontradas no litoral do Rio de Janeiro e São Paulo.
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Capa do livro "Verão da Lata", de Wilson Aquino
A história completa do Solana Star e suas cerca de 15 mil latas foi contada recentemente pelo jornalista carioca Wilson Aquino no seu livro “Verão da Lata”. “A ideia surgiu conversando com a galera mais jovem, eles achavam que isso aí era um folclore, papo de maconheiro, uma “viagem” (risos)”. Com cerca de 200 páginas e recheado de fotos, a obra tem uma linguagem bastante semelhante à da televisão, o que é confirmado pelo autor. “Primeiro surgiu a ideia de fazer um documentário para cinema ou TV. Aí entrei em contato com a editora e o dono sugeriu fazer um ‘documentário impresso’ já que havia bastante material fotográfico”, conta ele.
Repressão
O episódio aconteceu num momento em que o país estava em um período de transição entre o final da ditadura e a democracia plena. Aquino conta que houve uma verdadeira “caça ao tesouro” de parte da população para descobrir as latas, mas o medo de ser pego era muito grande. “Hoje em dia é tranquilo, você pode até ser liberado depois de responder alguma bobagem. Na época tinha porrada mesmo, ninguém gostava de maconheiro, principalmente a polícia. Era um período pós-ditadura, então as pessoas ainda tinham muito medo”, diz ele.
Aquino conversou com diversos policiais da época, mas conta que apesar de muitos deles na época terem ligações com os antigos órgãos de repressão da ditadura, sua atitude uma vez que as latas se espalharam foi de relativa permissividade. “Os caras com que eu conversei são maduros, a maioria já deve estar aposentada, eles hoje têm outra visão. Eles próprios acharam que isso não causou uma convulsão social. Mas houve alguma repressão, em todo cais tinha uma operação da polícia”, conta.
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Também pesava o fato de que poucos traficantes terem se envolvido com a venda do conteúdo das latas. “Achei legal que não houve registro de traficante profissional. A polícia nunca apreendeu lata em boca de fumo. A sociedade mesmo se incumbiu de detonar tudo sem a interferência do intermediário. Era tudo de Iemanjá ou Netuno direto para o usuário (risos)”, conta Aquino. Das cerca de 15 mil latas jogadas no mar, apenas pouco mais de 2 mil chegaram a ser apreendidas pela polícia.
A tripulação
Após jogarem as latas no mar, a tripulação do Solana Star pediu autorização para entrar com o navio no Porto do Rio para reparos no motor. O barco ficou atracado e quase todos os integrantes, com exceção do cozinheiro Stephen Skelton, saiu nos dias seguintes do país. Quando a polícia brasileira reconheceu o Solana Star como o barco que estava sendo procurado, apenas Skelton, que foi imediatamente preso, estava no país.
“Ele foi condenado à uma pena de 20 anos, mas ficou só um ano preso. O próprio STF achou que a quantidade apreendida no barco era muito pequena para condenar o cara por tráfico internacional”, conta Aquino. Não havia como provar a relação de Skelton com as latas encontradas no litoral, e a quantidade encontrada no barco era ínfima. “O Supremo viu que era exagero e liberou o cara”, diz o autor.
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