O impacto climático sobre a civilização Maia

Por Rodolfo Machado
Do eco Notícias
Império Maia entrou em colapso por causa do clima
O cruzamento de registros com dados obtidos em cavernas permitiu reconstruir a história do impacto climático sobre os Maias. Ilustração Claire Ebert/ Penn State
Manaus, AM - Dois séculos de chuvas abundantes, entre os séculos V e VII depois de Cristo, favoreceram as colheitas e o crescimento da população Maia. Eles prosperaram, criaram grandes cidades e se espalharam pelas terras baixas tropicais, hoje divididas em Belize, Guatemala e México. Mas tudo mudou junto com o clima, que deixou a região mais seca e levou a total desintegração da sociedade Maia em poucos séculos. Os maias já haviam deixado de existir cerca de 400 anos antes de Colombo chegar à América.
Já se suspeitava há décadas da relação entre clima e fim da civilização Maia, mas a questão ainda era motivo de controvérsias. Agora, uma equipe multicisciplinar de cientistas pôde descrever com precisão a relação entre o desenvolvimento e declínio dos maias e as mudanças climáticas ocorridas ao longo de 2 mil anos. Para chegar ao resultado, os pesquisadores compararam dados obtidos em estalagmites encontradas em uma caverna no Belize, a poucos quilômetros da grande cidade maia de Uxbenla, com registros deixados pelos pré-colombianos. Os resultados foram publicados na edição desta sexta-feira (9 de novembro ) da revista Science.
De acordo com o estudo, períodos de alta quantidade e aumento de chuvas coincidem com o crescimento da população e desenvolvimento dos centros políticos, entre os anos 300 e 600. “De maneira incomum, grandes quantidades de chuva favoreceram a produção de alimentos e uma explosão na população entre os anos de 450 e 660”, diz professor de Antropologia na Universidade Estadual da Pensilvânia, EUA, Douglas Kennett, líder da pesquisa. “Isto levou a proliferação de cidades como Tikal, Copan e Caracol nas terras baixas Maias.

Cidade Maia de Caracol, no Belize. Foto: Douglas Kennett/Penn State
O período favorável foi seguido por uma tendência de seca a partir de 660 D.C., que culminou em secas ainda mais graves, as quais reduziram a produtividade agrícola e contribuíram para a fragmentação da sociedade e o seu colapso político. A fase de seca mais severa deve ter sido entre 1020 e 1100 DC, após o colapso se espalhar pelos estados centrais Maias.

Para Kennett, “Mudanças abruptas [do clima] são apenas uma parte da história. As condições precedentes estimularam a complexidade social e a expansão populacional. Posteriormente, ajudaram a chegar a um estágido de estresse na sociedade e fragmentação das institutições políticas”.

Os Maias deixaram em monumentos datas importantes, como nascimentos, mortes e ascenções de líderes políticos. Eles fazem menção também a secas e tempestadas, ou ao sucesso e fracasso nas colheitas. Estes registros esculpidos rarearam após o colapso.

Cavernas de Yok Balum, Belize. Dados obtidos a partir da análise de estalagmites serviram para reconstituir o clima.
“Aqui nós temos uma maravilhosa sociedade estratificada que pôde criar calendários, arte, uma arquitetura magnífica e se engajou no comércio através da América Central”, diz o antropólogo Bruce Winterhalder, co-autor do estudo e professor de antropologia da Universidade da Califórnia. “Existiam artesãos inacreditáveis, proficiência em agricultura, homens de estado e militares -- e num intervalo de 80 anos, isto foi completamente desintegrado”.

Para Winterhalder, o colapso dos Maias é uma advertência sobre a fragilidade das institutições políticas atuais. “Suspeito que antes do rápido declínio e desaparecimento, suas elites políticas estavam bastante confiantes sobre suas conquistas. "Será que não estamos seguindo o mesmo e perigoso caminho