A 17ª chacina do ano na Grande São Paulo

Da Folha
Militante antiviolência é morta com três tiros em chacina em São Paulo
TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO
Luciene Neves, 24, integrante de um grupo de jovens católicos que atende vítimas da violência, foi morta na noite de anteontem a 73 metros de sua casa, no Jardim São Luís, zona sul da capital.
Por volta das 23h, durante o jogo Brasil e Argentina, uma moto com dois homens parou em frente ao bar do Buiú, onde 15 pessoas, incluindo Luciene, assistiam a um show sertanejo, tradicional às quartas-feiras.
Um dos homens pulou da moto, entrou no bar ainda de capacete e apontou a arma, disparando cerca de 30 vezes, afirmam testemunhas.
Três tiros acertaram Luciene. Ela morreu no local, diante de primos e amigos.
Esta foi a 17ª chacina do ano na Grande São Paulo, a quarta desde sábado.
"A gente vê na TV e acha que quem morre é sempre envolvido com o crime. Mas estão passando e atirando em qualquer um", afirma o dono de uma lanchonete do bairro, que não quis dar o nome.
Luciene Neves, 24, que foi morta em chacina na zona sul
Além de Luciene, morreram o tapeceiro Alexandre Figueiredo, 39, e o eletricista de automóveis Marcos Quaresma, 31. Uma mulher e dois homens ficaram feridos e foram levados para o hospital.
A mulher já teve alta e os homens estão estáveis.
15 MINUTOS
Luciene trabalhava como promotora de eventos em um selo de músicas católicas.
No grupo de jovens também ajudava usuários de drogas e ex-presidiários.
Ela estava no bar havia menos de 15 minutos, de acordo com familiares que não quiseram se identificar.
Dos cinco bares que ficam no mesmo quarteirão, aquele era o único aberto naquela noite --os outros têm fechado mais cedo, com medo da onda de violência.
A zona sul é uma das mais afetadas. Só no último dia 9 deste mês, nove pessoas foram baleadas na mesma noite no Jardim São Luís.
O bar do Buiú era visto pelos vizinhos como um local de "ambiente familiar". "O dono expulsava todo mundo por volta das 23h", conta uma vizinha que não quis ter o nome divulgado.
Luciene havia acabado de chegar do trabalho, deixou a bolsa em casa e foi até o bar enquanto a mãe terminava de preparar o jantar.
Era uma menina alegre, extrovertida e criada na Igreja Católica, segundo a família.
"É revoltante. A gente vive em uma guerra civil e o governo, acuado, não faz nada. É uma dor terrível", disse um primo de Luciene, que será enterrada nesta manhã. A polícia afirma que ainda não tem suspeitos