Prévia do PIB mostra crescimento de 1,15% no 3º trimestre


Por Assis Ribeiro
Do Correio Braziliense
Sinal de alívio
Brasil S.A - Antônio Machado
O exercício do Banco Central para tentar antecipar a trajetória do Produto Interno Bruto (PIB), divulgado com periodicidade trimestral pelo IBGE com atraso de dois meses, deve ter aliviado alguma coisa a tensão no entorno da presidente Dilma Rousseff. Conforme essa prévia do PIB, a economia cresceu 1,15% no terceiro trimestre sobre o período anterior, significando que o PIB teria chegado a setembro com um ritmo anualizado de crescimento de 4,67% — mais que o dobro da taxa do segundo trimestre indicada pelo IBGE (0,5% de expansão intertrimestre, ou 2,01% anualizada). O resultado oficial será divulgado no dia 30. Até lá ficará a torcida. A prévia do BC não tem se distanciado do número real do PIB, mas, como qualquer índice antecedente, há margem para equívocos. Ainda agora, ao divulgar a projeção do PIB de setembro (o BC simula esse indicador em base mensal), anunciou a revisão completa da série — medida oportuna, já que o índice indicava desaceleração da economia na passagem do 1º para o 2º trimestre, em contraste com o PIB real.
Feitos os ajustes e adicionados outros resultados, a consultoria LCA projeta crescimento do PIB, conforme a metodologia do IBGE, de 2% no 3º trimestre, em relação a igual período de 2011, e de 1,3% sobre o 2º trimestre. Na projeção do economista-chefe da corretora Convenção Tullet Prebon, Fernando Montero, tais variações foram de 1,8% (sobre 2011) e de 1,1% (sobre o trimestre anterior).
A se basear nessas simulações, segundo análise da consultoria LCA, a aceleração do PIB se deveu, pela ótica da demanda, ao consumo de famílias, impulsionado pelos bens duráveis (carro, eletrodoméstico) e pelas vendas de supermercados, avançando de +2,4% no 2º trimestre para +4% no 3º, ambos em relação a 2011. O consumo do governo ficou quase estável, passando de +3,1% para +4% do 2º ao 3º trimestre.
Componente estratégico para o crescimento sustentado da economia, a taxa de investimentos continuou em queda, e a aprofundou segundo o gosto do analista. Nesse cenário da LCA, a queda de 3,7% no 2º trimestre em relação a igual período de 2011 se ampliou para -4% entre julho e setembro. Na comparação intertrimestres, no entanto, a queda teria perdido força, recuando de -1,3% para -0,7%. Com as exportações também diminuiu o percentual de queda – de -4% no 2º trimestre (em relação ao 1º trimestre) para -0,1% no 3º. E as importações ampliaram a queda, de -1% para -5,9%. Bom para o PIB.
Reduzindo o vazamento
Quanto maior o vazamento da renda nacional para o exterior, menor será o potencial de crescimento da economia. Da desvalorização da taxa cambial ao aumento das tarifas de importação de uma centena de bens industriais, o objetivo é o mesmo: expandir a participação da oferta doméstica em relação à demanda agregada e, por consequência, também a sua resultante sobre a taxa de crescimento do PIB.
O PIB calculado pela ótica da oferta mostra melhor tais relações. De seus três componentes, dois praticamente não sofrem o efeito da concorrência externa: a agropecuária e o setor de serviços. Sobra a indústria, a mais prejudicada, mas menos, conforme essas prévias do PIB. A produção em valor da indústria recuara 2,4% no 2º trimestre em relação ao 1º trimestre. Na projeção da LCA, cresceu 0,6% no 3º, o que ela atribui ao fim do ajuste dos estoques excessivos.
Gradualismo trimestral
Para frente, a um mês e meio do término do ano, o cenário de 2013 ainda é turvo, mas o do último trimestre de 2012 está praticamente assegurado, devendo repetir o quadro trimestral que o IBGE anuncia no dia 30, com mudança da composição. No cenário da LCA, o consumo das famílias "perde um pouco de fôlego", e o investimento teria uma "forte expansão" (de 4% do 3º para o 4º trimestre), repercutindo as várias medidas de estimulo tornadas efetivas no fim de setembro. As mais relevantes, tais como a depreciação acelerada na compra de bens de capital e os juros fortemente negativos do BNDES nas linhas do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), terminam no fim de ano. É quase certo que sejam prorrogadas. Deve-se a elas grande parte do aumento do nível de confiança do empresariado, medido pela sondagem de expectativas da Fundação Getúlio Vargas.
A desatenção de Dilma
A confiança empresarial está no maior nível desde meados de 2011. Mas há um dado sutil pouco considerado: tais sondagens captam mais a visão imediata dos negócios e não bem o nível de segurança para as iniciativas de maior fôlego — o caso, por exemplo, das futuras concessões de operações hoje geridas pelo setor público. Nesta seara, a desconfiança tem crescido de parte a parte, tanto quanto ao novo lote de concessões quanto às operações já licitadas (tipo estradas) e a setores privatizados há longo tempo, como o de telecomunicações, cuja rentabilidade despenca a cada meta decidida pela burocracia do setor. Dilma não parece atenta para esse risco.
Risco de agenda exótica
A gestão da economia reflete dois níveis de atuação. O técnico é o que mais ocupa as atenções dos economistas e analistas de mercado. Mais negligenciado, o nível político, porém, é o que influencia as decisões de longo prazo, algo mal avaliado pela presidente, embora explique — servindo-se de desabafo de um leitor antigo, José Carlos Fontes, do Ibmec-Rio — "porque, diabos, o investimento não cresce". Não cresce, em geral, porque, ao buscar baixar custos na economia para melhorar a produtividade e a competitividade de algumas áreas, o governo também reduz o resultado empresarial pela falta de prazo de adaptação, como nas importações essenciais, oneradas pela maior depreciação cambial. Mais grave (e voltaremos ao tema) se passa com a área de telecomunicações, que acumula outro padrão de tecnologia, sem ter pagado o atual, com metas de universalização. A geração de caixa sufocada afeta a qualidade do serviço. A boa intenção parece esbarrar em agendas exóticas à revelia das intenções do governo