Algumas questões para o cenário político futuro

Por Gunter Zibell - SP
Comentário ao post "A difícil tarefa de prever cenários políticos"
Meus dois centavos na questão...
- há as conjunturas de continuidade e de mudança, mas também há a resiliência de candidatos a reeleição, reforçando ou freando. Em uma conjuntura de mudança um candidato a reeleição resiste melhor que um partido/coligação querendo fazer o sucessor. Em uma conjuntura de continuidade, um candidato à reeleição pode se eleger ainda mais facilmente. (Candidatos antipáticos ou sem carisma não são o caso aqui.) Ou seja, para presidente em 2014, muito provável a reeleição de Dilma. Como outros partidos se organizarão em torno diz mais da governabilidade em 2015-2018 do que sobre o nome do/a presidente. PSDB lançar candidato (e é bom para todos que seja Aécio) é "natural" nesse cenário, mas não altera a conjuntura muito, pois não há maior desgaste do governo atual.
- há "campos", em qualquer momento, mais ou menos estáveis em que as pessoas gostariam de votar. As pessoas constroem mentalmente quais seriam esses campos, observam os grandes deslocamentos, incorporam mudanças no tempo. Digamos que no Brasil possamos ver como campos "conservadorismo econômico" e "desenvolvimentismo com programas sociais". Quando ocorrem surtos de denuncismo contra alguma força/partido, os favorecidos não são quem denuncia, se estiver em outro campo. Assim, quando PT fazia o "discurso da ética" nos anos 1990, o eleitorado paulista se deslocou do PP (Malufismo) ou DEM ou PMDB para o PSDB, o PT cresceu pouco com isso. No neoudenismo atual, estimulado pelo PSDB, o eleitorado não volta do PT para este, mas se espalha entre PCdB, PSB, até PSoL.
- as eleições de Marta Suplicy e Haddad em S.P. não representam um surto de conscientização política, mas mostram que a rejeição ao PT não é como se fala. Esse partido é 1a. alternativa de 1/3, mas 2a. opção para outro terço. E é bem possível que o interior se comporte como a capital (há mais semelhanças que diferenças de resultados nos vários confrontos para presidente/governador/senado.) O que há de impulso para mudança em S.P. é a questão de segurança pública. Em Alckmin contornando isso, será reeleito. Em derrapando nisso, abre espaço para "o terço do meio" apoiar PT/PMDB ou PSB.
- o PSDB como "marca" pode estar em decadência, mas o ideário em si não. Políticos saem dele, levam esse ideário para outros (por vezes até puxando partidos antes mais à esquerda para o centro) e o conjunto de opções para os eleitores se mantêm basicamente o mesmo. É um problema de marketing político, mais que de ideologias. Isto é concomitante com quem se apresenta como melhor gestor e também com quem se apresenta como governante para a maioria.
- o uso de "valores" (o que vai além de participação do Estado, grosso modo) em eleições deixará a proeminência canhestra que recebeu de Serra, mas não desaparecerá. E duas coisas podem ocorrer: uma mais certa, é o PT manter-se no lado "conservador" (ou até neutro), solidificando sua preferência junto à classe média baixa e/ou emergente; outra, possível, é o PSDB renegar o que Serra fez e dar um pulo para o lado "liberal", pegando essa bandeira que o PT deixou solta. Mas é uma bandeira de menor porte, não deve ser superestimada e importa apenas em eleições apertadas