segunda-feira, 5 de novembro de 2012








































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O problema do alcoolismo na Rússia
Enviado por luisnassif, seg, 05/11/2012 - 10:23

Por Marco Antonio L.

Da Carta Capital

A cruzada de Putin contra o alcoolismo na Rússia

Gabriel Bonis

Vladimir Putin está preocupado com a saúde da população russa. O presidente-esportista, famosos por suas escaladas, saltos de asa delta e lutas de judô, está promovendo a maior investida para tornar o estilo de vida dos russos mais saudável desde que o líder soviético Mikhail Gorbachev tentou, sem sucesso, diminuir o abuso de álcool e cigarros no final dos anos 80.

Mais de 20 após a tentativa do último comandante da União Soviética, o país ainda mantém a fama de abusar destas substâncias. Os índices de mortalidade relacionados ao consumo de álcool e cigarros também assustam: 900 mil mortes por ano. Algo refletido na demografia russa, que registrou uma queda de 5 milhões de habitantes desde 1991. Hoje a população do país é de 143 milhões de pessoas, contra os 148 milhões no ano do colapso da república socialista. Uma queda que, caso não seja revertida, pode afetar de forma negativa aa economia do país nas próximas décadas.

Atualmente, a Rússia é o segundo maior mercado do mundo para cigarro e álcool (quarto maior consumidor por pessoa) e estimativas do governo apontam que os abusos destes dois produtos custem ao país mais de 100 bilhões de dólares por ano, ou 5% do PIB.

Para frear esse prejuízo, Putin concentrou os esforços no parlamento nesta semana. Mais uma lei foi submetida para banir o fumo em locais públicos, propagandas e proibir a venda de cigarros em quiosques. Somam-se a essas estratégicas outras medidas já adotadas para diminuir o consumo de álcool, como o aumento de impostos e a adoção de limites de comercialização. O próximo passo é elevar as taxas dos cigarros, algo que já foi feito (e continuará pelo menos até 2015) com a vodka.

Para que isso ocorra, no entanto, é preciso enfrentar uma indústria multibilionária que encontrará formas de continuar lucrando mesmo com as limitações estatais. De acordo com a consultoria Euromonitor, o mercado do álcool na Rússia – composto por 24% do consumo de vodka e 51% de cerveja – vale, hoje, 34,4 bilhões de dólares. Além disso, quatro empresas controlam mais 90% do mercado de cigarros de 19,5 bilhões de dólares do país, onde 39% das pessoas fumam regularmente. Não por menos, os índices de câncer de pulmão entre homens são 50% mais altos que na Europa Ocidental e na América do Norte.

O “aperto” do governo, temem os especialistas, pode impulsionar o comércio de falsificações ainda mais nocivas. Segundo dados da revista Bloomberg, as vendas ilegais de vodka, que custam cerca de 1 dólar por meio litro, vão chegar a 60% do mercado em 2014, contra os atuais 35%. O mesmo vale para os cigarros ilegais que passariam de 1% para 40% do mercado.

A última investida em grande escala para solucionar o problema foi a de Gorbachev, que cortou a produção de vodka e outras bebidas alcoólicas em 40% em um ano, aumentou preços e restringiu vendas. Conclusão: se por um lado parte da população produziu álcool em casa – assim como ocorria no período da Lei Seca dos EUA nos ano 1920 – por outro um estudo da Universidade de Oxford indicou que neste período os índices de mortes relacionadas à bebida caíram 25%. Um resultado que evaporou conforme a União Soviética entrou em colapso.

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Mais recentemente, o tema voltou ao centro da política de saúde do país. Em 2009, o então presidente e hoje primeiro-ministro Dmitry Medvedev declarou que o alcoolismo era um “desastre nacional”. Naquele mesmo ano, o estudo de Oxford e do Centro de Pesquisa de Câncer em Moscou mostrou que mais da metade das mortes de pessoas em idade de trabalho na Rússia era causada pelo abuso de álcool.

Segundo o levantamento, 59% das mortes entre homens e 33% nas mulheres na faixa de 15 a 54 anos foram provocadas pelo uso da substância, em casos de envenenamento, acidentes, violência etc. Se esses dados continuarem, alertou o documento, cerca de 5% das mulheres jovens e 25% dos homens jovens morrerão antes dos 55 anos afetados direta ou indiretamente pelos efeitos do álcool.

E o cenário pode ser ainda pior. Um relatório da Organização Mundial da Saúde OMS divulgado em 2011 atribui à Rússia e aos países vizinhos (ex-repúblicas soviéticas) a maior proporção de mortes provocadas pelo uso do álcool. Nesses países, 20% dos casos fatais entre homens e 6% entre mulheres são atribuídos ao abuso do álcool.

Ainda que enfrente um quadro profundamente negativo, a Rússia registrou alguns avanços nos últimos dois anos. Entre eles, cortou o consumo de álcool puro de 18 litros por pessoa para 15 litros. A OMS, no entanto, recomenda não mais que 8 litros por ano. Os brasileiros, por exemplo, bebem 9,16 litros, próximo ao índice considerado seguro pela entidade.

O governo russo parece, entretanto, mais comprometido a controlar o uso de álcool pela população. Estabeleceu, em 2011, que não se pode vender o produto durante certos horários do dia, proibiu o seu consumo em público e limitou as propagandas. E, mais importante, somente no último ano, sancionou uma lei que classificava oficialmente cervejas como bebidas alcoólicas. Antes disso, qualquer bebida com menos de 10% de álcool era considerada meramente alimentícia

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