PSOL e as doações de bancos e empreiteiras

Por Dario Lenza
Nassif, uma coisa é criticar, outra, governar
Da Folha
PSOL deve aceitar doação de bancos e de empreiteiras, diz prefeito eleito de Macapá
FERNANDO RODRIGUES, DE BRASÍLIA
O primeiro prefeito eleito do PSOL em uma capital, Clécio Luís, 40, disse que o seu partido deve considerar receber doações financeiras de empreiteiras e de bancos. Embora seja favorável a financiamento público na política, ele acredita que a legenda precisa rever o conceito inscrito em seu programa que a impede de aceitar dinheiro de grandes empresas.
"Para enfrentarmos eleições, nós temos que ter estrutura para podermos nos movimentar", disse o prefeito eleito de Macapá (AP), em entrevista ao "Poder e Política", projeto da Folha e do UOL. "Para termos as mesmas ferramentas [dos adversários], nós podemos aceitar, sim, o financiamento, na atual conjuntura, de empresas e bancos".
O PSOL nasceu em 2005 de uma dissidência do PT. À época, a separação se deu porque haveria uma excessiva aproximação do petismo com métodos tradicionais da política. Mas ao aceitar financiamento de grandes empresas o novo partido não faria agora o que rejeitou no passado? "Nós não temos relações orgânicas com esses grupos", responde Clécio.
Eleito em Macapá com 101 mil votos, a nova estrela do PSOL venceu um conjunto de forças que incluíam o senador José Sarney (PMDB-AP) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No segundo turno, o PSOL recebeu apoio até de setores do DEM -como o candidato derrotado a prefeito por essa sigla, Davi Alcolumbre.
Clécio não enxerga óbices em apoios recebidos de maneira incondicional, mesmo que venham de partidos que classifica como sendo "de direita". Faz uma ressalva: não há como se aliar ao DEM ou ao PSDB para governar. Mas o PSOL em Macapá aceitará apoio de integrantes de qualquer uma das 30 agremiações políticas existentes.
É comum comparar o PSOL de hoje ao PT dos anos 80, mas o discurso de Clécio é diferente dos petistas de duas décadas e meia atrás: "Eu não saí do PT para construir um antipartido, para construir a antipolítica, o anti-PT. Eu saí com a convicção de que nós podemos construir uma alternativa".
Para Clécio, o PSOL deve ter uma "política de reaproximação" com siglas como PC do B, PPS, PV, e até "com o PT". Sobre 2014, o prefeito moderado do PSOL avalia que talvez seja prudente o seu partido apoiar para governador do Amapá algum político de legendas que sejam aliadas. Na disputa presidencial, cita dois nomes próprios da sua sigla como eventuais candidatos ao Planalto: o do senador Randolfe Rodrigues (AP) e o da ex-deputada federal Luciana Genro (RS).
Em Brasília para ter reuniões com as bancadas de deputados e senadores do Amapá, Clécio também será recebido por vários ministros de Estado. Busca verbas para governar Macapá, cujo orçamento anual é de R$ 500 milhões, mas tem uma arrecadação própria de apenas R$ 40 milhões