domingo, 21 de outubro de 2012







































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Haddad e sua aceitação na Classe Média
Enviado por luisnassif, dom, 21/10/2012 - 11:47



Por Gunter Zibell - SP

Algumas curiosidades retiradas da última pesquisa Datafolha, 19/10.

Foi medido o efeito do “mensalão”. 4% das pessoas, em SP capital, não vota em Haddad em função de ser ligado ao partido do mensalão. Isto é, houve alguma perda, ainda que limitada, pois ele poderia agora estar com 53% das intenções de voto.

Se lembrarmos de como o PT cresceu em número de prefeituras, de 2008 para 2012, fica a questão: esse crescimento poderia ter sido maior? Basta pensar se em alguma outra cidade o candidato do PT ficou com 46% dos votos válidos. Este poderia ter ido a 2º turno ou ter sido eleito.

E Serra colocar as associações de Haddad a outros políticos (não apenas Dirceu, mas Maluf também) na campanha eleitoral deu resultado entre os mais ricos: na pesquisa de 10/09, para 2º turno, FH tinha 46% dos válidos na faixa acima de 10 SM de renda familiar. Essa faixa representa apenas 9-10% da população. Atualmente, pela 3ª pesquisa seguida, está em 37%. Mas nas 3 outras faixas de renda que o Datafolha pesquisa FH está com mais de 50% e não experimentou oscilações desse porte. No mesmo período e na faixa 5-10 SM a intenção de voto para FH caiu apenas de 59% para 54%. Pelo visto, o que JS podia tirar de proveito do mensalão, já foi feito. Isto é, agora o discurso do “preparo” e da “realização” reaparecerá.

Os últimos 20 dias foram no geral favoráveis à FH (primeiro gráfico), tendo este passado de uma situação de risco (52 ou 53% de válidos) para os atuais 60%. (Para o conjunto de todas as faixas de renda.)

O voto em Serra é menos estável que em FH. De cada 100 que votaram em FH no 1º turno, apenas 2 preferem agora JS. De cada 100 que votaram em JS, agora 6 preferem FH. O destino dos votos de Russomanno e Chalita já foi divulgado bastante, cerca de 2/3 para FH.

JS, a exemplo dele mesmo versus Dilma em 2010 e de Alckmin vs Lula em 2006, recebe mais votos entre mulheres que entre homens. Essa tendência do público masculino ser mais marcadamente petista (chega a 58% nas rendas mais baixas) e o público feminino ser mais relativamente tucano nunca foi bem explicada.

Mas algo que deve chamar a atenção de estrategistas é o voto por idade: quanto mais jovem, mais favorável a FH (chega a 2/3 dos válidos), já nas faixas acima de 50 anos JS ainda vence. Isto é, como a cada eleição há uma renovação de quase 6 a 8% do eleitorado, pode ocorrer em uma eventual candidatura a reeleição (2016) ainda maior predisposição a aceitar FH.

A próxima pesquisa, para 24/10, fará perguntas sobre características dos candidatos (quem é mais preparado, inteligente, etc) além da agora já tradicional associação à religião dos eleitores. Se houver alguma influência de debates, pode aparecer aqui.

Terá uma pergunta pouco usual: “Neste segundo turno você votará em (cite candidato da p.1) por falta de opção melhor ou por ser a pessoa ideal para assumir a prefeitura?”

Mas não se perguntará “Qual candidato tem o melhor kit gay?”... ;-)

O Ibope também fará pesquisa para divulgação em 24/10 e perguntará a expectativa de vitória. Geralmente, quem já está na frente, recebe um percentual ainda maior nessa questão. Na última FH recebeu 52%, versus 45% da pesquisa anterior.

Não há nenhuma diferença muito relevante entre os resultados do Datafolha e do Ibope.

Não há registro, ainda, para eventuais pesquisas de véspera (sábado 27/10.)

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Retomando um pouco a questão “PT versus Classe Média de SP”.

A rejeição ao PT nesses estratos (acima de 5 SM, acima de 10 SM) pode variar em função do adversário. Contra Maluf, por exemplo, Marta obteve aceitação (mas com apoio de Covas). Contra Russomanno, talvez fosse parecido agora para F Haddad. Mas, de 2000 para cá, muita coisa aconteceu. Maluf zanzou de apoiar a si mesmo-Serra-Marta-Serra-Haddad. Às vezes acerta, às vezes não.

Houve a própria gestão Marta, o “mensalão”, a renúncia de Serra, o “dossiê” de 2006, a inspeção veicular e o Rodoanel (Paulo Preto e campanha de Serra em 2010), a própria gestão Kassab (sucessor de Serra), Dilma menos criticada na mídia que Lula, julgamento da AP 470, o episódio de agora sobre kits anti-homofobia. Uma sucessão de eventos que podem prejudicar a uns sem necessariamente favorecer a outros.

Apenas vendo as simulações de 2º turno, 8 em cada um dos anos, é perceptível que a aceitação de Haddad (vis-a-vis Serra “atual”) é bem maior que a de Marta (vis-a-vis Kassab apoiado por Serra “de então”) nas faixas mais elevadas de renda (apelidadas aqui de "classe média".)

Ao final, Marta teve a preferência de 30% (1 voto para 2,3 do adversário) do conjunto com renda familiar acima de 5 SM e Haddad está em torno de 45% (1 voto para cerca de 1,2 do seu adversário.) Não parece mais justo dizer, portanto, que a classe média paulistana de maior renda (estamos falando, pelos critérios adotados, de 25% da população) rejeita o PT, apenas ainda não lhe dá a maioria. Dependendo do desempenho durante o mandato, caso FH seja eleito, esse quadro poderá até melhorar para o PT.

Olhando apenas a faixa acima de 10 SM essa comparação fica muito mais dramática. Nas 3 pesquisas feitas entre turnos em 2008, Marta recebeu apenas 18% da intenção de votos válidos, o que é muito pouco : 1 voto para 4,5 de Kassab. Agora Haddad recebe 37% (chegou a 46% na primeira metade de setembro), o dobro do que Marta recebia, o que dá uma relação bem mais confortável de 1 haddadista para 1,7 serristas na faixa de maior renda. Menor potencial de discussões nos escritórios, portanto, ou pelo menos algo mais equilibrado.

Parece bom resultado tendo em vista todo o cenário : julgamento da AP 470, rejeição histórica ao PT, comentários sobre ENEM, partidos serristas com muitos vereadores e “máquina”.

Vale lembrar que esse estrato superior de renda (algo como "classe média alta"?) não decide eleição, trata-se de apenas 9-10% da população paulistana. Mas já foram tidos como "formadores de opinião" e, também, estão mais expostos à "opinião publicada".

Fica a curiosidade, a ser desvendada pelas pesquisas da semana que vem, se o estardalhaço recente em relação a Serra (comentários de FHC, indisposições com repórteres, críticas de alguns jornalistas) foi percebido e se trará alguma mudança.

Afinal, pela pesquisa de “valores sociais” (18/09), a faixa de eleitores em famílias com renda superior a 10 S.M era responsável por apenas 6-8% dos “conservadores” mas por 11% dos liberais e 24% dos “extremo-liberais”. Estes segmentos podem ter ficado incomodados com a associação de JS a Malafaia e com o estilo de campanha (mas cabe ressaltar o seguinte: o conjunto total de pessoas liberais e de renda mais elevada representa apenas 4% da população.) Talvez boa parte destes já votasse em F Haddad, mas Serra pode ter perdido com a trapalhada em torno do kit os pontos que chegou a recuperar com o mensalão.

Que assim seja.

(Pra quem ainda não conhece, o clip abaixo, já com 5 anos, é bem engraçadinho.)


Imagens: Haddad e sua aceitação na Classe Média

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