terça-feira, 16 de outubro de 2012

Britânico defende taxa mensal na banda larga para jornais
Enviado por luisnassif, ter, 16/10/2012 - 09:07
Por Assis Ribeiro
Do Viomundo
David Leigh: Uma taxa mensal para sustentar os jornais
Uma taxa de 2 libras por mês na banda larga poderia salvar nosso jornais
O fundo poderia ser distribuído com base no número de leitores online do Reino Unido e reinvestido para proteger o grande jornalismo
por David Leigh  
No diário britânico Guardian, Sunday 23 September 2012 18.37 BST
Tendo sobrevivido mais de 40 anos na mineração do jornalismo britânico (mais que um soldado no antigo exército de Roma), tenho me sentido deprimido ultimamente com as insistentes previsões de comentaristas da mídia sobre como a internet vai causar a morte dos jornais de qualidade. Existem poucas pessoas no ramo preparadas para apostar que nossos diários vão publicar versão impressa em cinco anos.
De acordo com o senso comum, o impresso está condenado. A circulação está despencando porque leitores podem conseguir tudo o que querem na internet. Eles não apenas desgostam da ideia de pagar para ler na internet como a existência, entre outros, de sites como o a BBC, financiado pela licença paga por telespectadores [Nota do Viomundo: os britânicos pagam uma taxa de TV], garante que eles nunca terão de pagar pelo fornecimento de notícias diárias. Cobrança na rede nunca vai funcionar no Reino Unido por esta razão.
Ainda assim, quando chegar o dia em que os jornais tiverem de abandonar o impresso, será um desastre para a democracia. Os poucos ganhos com publicidade online no site de um jornal gratuito pagarão apenas uma fração do jornalismo investigativo de alta qualidade que os jornais comerciais geram. Teremos apenas a tímida BBC de um lado e o lixo superficial de outro.
Com este melancólico raciocínio, leio o último relatório de circulação de jornais da National Readership. Para minha surpresa, o que deduzi dele é que agora existe uma forma perfeitamente fácil de resgatar jornais, garantir a pluralidade da mídia e monetizar a rede.
Eu me dou conta de que a busca por tal solução maravilhosa por parte de editores ameaçados se parece com a busca pelo Santo Graal.  Mas, do ponto de vista aritmético, pelo menos, a solução britânica é óbvia. Os consumidores não devem pagar por notícias na rede. Mas eles naturalmente já estão pagando, agora e no futuro — e em números grandiosos — pelas conexões de banda larga imprescindíveis.
Uma pequena taxa nos fornecedores de banda larga do Reino Unido — não mais que duas libras por mês na conta de cada usuário — poderia ser distribuída aos fornecedores de notícias na proporção da leitura online de cada um deles no país. Isso resolveria o problema financeiro dos jornais de qualidade, cujos leitores não estão desaparecendo, mas simplesmente migrando para o online.
Existem quase 20 milhões de domicílios no Reino Unido que pagam até 15 libras por mês por uma boa conexão de banda larga, mais outros 5 milhões de assinantes móveis. As pessoas pagam este dinheiro para um punhado de empresas de telecomunicações, mas não pagam nada pelo conteúdo noticioso que recebem, cuja sobrevivência é geralmente considerada base fundamental da democracia.
Uma taxa de 2 libras — cobrada com facilidade do pequeno número de empresas de banda larga do Reino Unido (BT, Virgin, Sky, TalkTalk etc), que acrescentariam este valor nas contas dos consumidores — levantaria mais de [o equivalente a] 1,6 bilhão de reais anualmente. O dinheiro poderia ser arrecadado por uma agência, no estilo do que acontece com a taxa da BBC, e redistribuído automaticamente para os “fornecedores de notícias” de acordo com sua fatia de leitores online.
De acordo com os dados mais recentes, este sistema forneceria quantidades de dinheiro transformadoras para os sites mais populares.
O grupo Telegraph, o grupo da Associated Newspaper e o grupo do Guardian, cada um receberia cerca de 20% do dinheiro — [o equivalente a] 320 milhões de reais por ano. Mesmo os jornais independentes receberiam cerca de 130 milhões de reais por ano. Outros jornais, como o Scotsman e o Yorkshire Post, poderiam receber uma transfusão potencialmente salvadora de 26 e 13 milhões, respectivamente.
O Sun, do Rupert Murdoch, receberia anualmente [o equivalente a] 160 milhões de reais, embora os outros jornais dele, se continuassem cobrando online, receberiam relativamente pouco.
Não haveria problemas insuperáveis para definir quem são os  “fornecedores de notícias”. A base para designar aquelas organizações seria a legislação de 1994 que diz: “Jornais… publicados pelo menos uma vez por semana de forma contínua sob o mesmo título… [os quais] contém informação sobre fatos correntes de interesse local, nacional e internacional. Publicações que não contém uma quantidade substancial de notícias não são jornais”.
Outros fornecedores de notícias originais poderiam subsequentemente pedir admissão no esquema a uma comissão independente, caso a caso. Mas deveria haver razoáveis barreiras à admissão, talvez na casa de no mínimo 100 mil usuários mensais, e algumas regras para excluir os agregadores de conteúdo. O site da BBC não receberia nenhum dinheiro extra,  por já ser financiado pelo contribuinte britânico.
Esta solução é politicamente muito arriscada? O primeiro partido a adotar tal esquema certamente receberá meu voto. A taxa seria, como a da BBC, protegida contra “intervenção estatal”, embora possa se tornar foco de tensões políticas como foi a taxa da BBC.
O sistema de licenças da BBC funciona, naturalmente, de forma mais ou menos bem sucedida, assim como o modelo nórdico mais extremo de subsídios diretos. E talvez a gente não tenha de se preocupar muito com o longo prazo. Pois, no longo prazo, todos os jornais estarão mortos.
PS do Viomundo: Neste caso, defendemos a famosa mão invisível do mercado livre. Sem ironia.
  
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